08/09/2018
CARTA DE JEQUITIBÁ:
Povos Tradicionais de um Rio
8 de Setembro de 2018
No dia 08 de setembro de 2018 durante o FestiVelhas: Festival de Arte e Cultura do Rio das Velhas, ocorrido na cidade de Jequitibá na ocasião do 30º Festival de Folclore, aconteceu uma roda de conversa organizada pelo Projeto Manuelzão/UFMG, que tratou sobre os “Povos Tradicionais de um Rio”. Além de inúmeros participantes, destaca-se a presença de representantes indígenas, quilombolas, povos de terreiro, carroceiros, tropeiros, agricultores familiares e benzedeiros.
O encontro foi muito rico valorizando os povos tradicionais e a sua relação harmoniosa com o ambiente. Essas tradições muitas vezes são invisibilizadas, assim como a maioria dos cursos d’água da cidade, como se fossem um entrave ao progresso. Mas, no entanto, os relatos e as práticas demonstram grandes preocupações com as questões ambientais, dos animais e das águas também no ambiente urbano. Nos dias atuais ainda existem números expressivos dessas populações nas periferias dos grandes centros e cidades, e acreditamos na importância do seu reconhecimento.
Esta carta vem reiterar o reconhecimento e o apoio do Projeto Manuelzão à luta das comunidades tradicionais e o direito à dignidade e às diferenças compreendendo que estes povos são os verdadeiros guardiões e protetores da biodiversidade do vale e de suas sagradas águas – munida de um rico patrimônio imaterial, saber-fazer, memórias vividas e compartilhadas.
Sabe-se que foi a partir da luta dos povos tribais e comunidades tradicionais de todo o planeta, que foi construído um arcabouço jurídico internacional que deu sustentação à elaboração de políticas públicas e de gestão voltadas para os direitos humanos e para a alteridade cultural em vários países da América Latina. O Brasil, em 2004, ratifica, a emblemática Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho-OIT de 1989, que reconhece como critério fundamental os elementos de autoidentificação dos povos e das comunidades tradicionais, bem como, o conceito de terras tradicionalmente ocupadas aliado à noção de territorialidades específicas e etnicamente construídas.
A Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial adotada em Paris em evento promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura-UNESCO, reitera, por sua vez, o respeito ao patrimônio cultural imaterial das comunidades tradicionais, grupos e indivíduos envolvidos, tendo sido em 2006, adotada pelo Brasil por meio do Decreto n o 5.753 de 12 de abril de 2006.
Cita-se ainda a importante Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, assinada em Paris em 20 de outubro de 2005, que reconhece a natureza específica de atividades tradicionais, bens e serviços culturais enquanto portadores de identidades, valores e significados.
Merece também destaque o Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, que estabelece como objetivo geral o desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais, com ênfase no reconhecimento, fortalecimento e garantia de seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, com respeito e valorização à sua identidade, seus conhecimentos tradicionais, suas relações de manejo e interação com a natureza, suas formas de organização socioambiental e suas instituições.
Nutrindo-se do arcabouço legal, ético e normativo acima mencionado, enumera-se abaixo, as principais proposições e orientações do evento:
Projeto Manuelzão-UFMG.
Instituto Guaicuy-SOS Rio das Velhas.