16/10/2014
Histórico militante da Reforma Agrária e precursor da agroecologia no Brasil, fala no domingo, dia 19, às 19h30, em Belo Horizonte
O francês [naturalizado brasileiro] Jean Pierre Leroy proferirá a Conferência de abertura do 2º Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente, no domingo, dia 19, às 19h30. Sob a coordenação do presidente do Simpósio, Hermano Albuquerque de Castro (ENSP / Fiocruz), Leroy falará sobre os ‘Direitos, Justiça ambiental e políticas públicas’.
Leroy chegou ao Brasil na década de 1970. Na época, Leroy era Padre, e atuou como religioso na região do Pará. É filósofo e mestre em Educação pelo Instituto de Estudos Avançados em Educação/FGV. Foi Coordenador do Programa de Pesquisa sobre Campesinato em Áreas de Fronteira, Assessor da Comissão Pastoral da Terra e do Programa Nacional Fase Amazônia. Atualmente, é Membro da Rede Brasileira de Justiça Ambiental.
Em artigo publicado na Revista Proposta (nº126, 2013) Leroy avalia que as relações harmoniosas de interdependência, consolidadas ou incipientes, entre os povos e a natureza, se romperam ou estão em fase de rompimento, “ou porque um grupo populacional está sendo submetido a uma forte pressão externa, ou por não conseguir mais se reproduzir senão pela sobrexploração dos recursos naturais do seu território. Em particular, menciona-se a desvalorização da sua produção agrícola e a escassez crescente de certos produtos do extrativismo vegetal e pesqueiro; o fato das políticas públicas, em particular em educação e saúde, não chegarem até o campo; e o apelo a uma vida melhor que a cidade idealizada representa; enfim, sobretudo, a pressão que exercem sobre eles os velhos e, mais ainda, os novos empreendimentos.
Em 2012, quando Jean Pierre Leroy ministrou a aula inaugural do ano letivo da Fundação Oswaldo Cruz, concedeu entrevista onde definia, à sua maneira, a expressão justiça ambiental:
“São poucos os lugares no mundo onde o ser humano não deixou a sua pegada. O capitalismo, desde o século 19, empreendeu um enorme esforço de transformação permanente da natureza, uma das bases do seu poder e do seu dinamismo. Mesmo se quiséssemos, não poderíamos fazer abstração do fato de que as questões ambientais nos remetem às relações sociais. O sistema capitalista, entendido, para além da economia, como um sistema hegemônico de poder, acoplado ao poder estatal, reforçou históricas desigualdades. Seria surpreendente que, numa época em que se aceleram seu domínio sobre os recursos naturais e seus impactos sobre os territórios e o planeta, ele não provocasse injustiça ambiental. Em 2001, realizamos um seminário que juntou ao redor dessa questão pesquisadores, ativistas de movimentos sociais e de ONGs e representantes de atingidos, no qual chegamos a definições de justiça e injustiça ambientais que continuam válidas como pontos de partida para desdobramentos conceituais e as práxis sociais e políticas. Dizíamos: “Entendemos por injustiça ambiental o mecanismo pelo qual sociedades desiguais, do ponto de vista econômico e social, destinam a maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento às populações de baixa renda, aos grupos raciais discriminados, aos povos étnicos tradicionais, aos bairros operários, às populações marginalizadas e vulneráveis”, completa Leroy.