10/04/2017
A comunidade quilombola Mangueiras é formada por aproximadamente 35 famílias que descendem de Maria Bárbara, trabalhadora negra que nasceu por volta de 1860. Eles vivem há mais de 150 anos na Mata do Izidoro, no limite entre Belo Horizonte e Santa Luzia, em uma área coberta por vegetação nativa e algumas minas d’água. A líder comunitária e diretora de projetos da Associação Quilombola de Mangueiras, Ione Maria de Oliveira, falou sobre a relevância da iniciativa para a manutenção e preservação da cultura local. “É extremamente importante a recuperação da nascente para nós que somos de uma religião de matriz africana e que tem a água como princípio básico. A gente leva a religião como um modo de vida e para esse modo de vida a água deve estar pura, sem contaminação”, disse.
Na Nascente do Quilombo de Mangueiras foram realizados serviços de limpeza e retirada de entulho e lixo; plantio de espécies nativas, hortaliças e tubérculos; cercamento e identificação da área da nascente. Também foram realizados trabalhos de mobilização e sensibilização junto à comunidade. Luiz Henrique Safé, Babalorixá da Casa de Candomblé do Quilombo, reforçou a importância da revitalização da nascente, já planejando as próximas etapas. “A nossa liturgia toda depende dessa água. Projetos como esse que, vem movimentar as pessoas em torno dos cuidados que devem ser feitos com a nossa água, para a gente é muito importante. O próximo passo agora é lutar pela despoluição da sequência do córrego, que recebe esgoto do bairro vizinho”, afirmou.
O presidente do CBH Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano, enalteceu a iniciativa: “Ao longo dos tempos, a cidade foi depreciando seus rios, foi desqualificando suas nascentes. Hoje estamos aqui fazendo o caminho contrário, mostrando à cidade que a água faz parte da nossa história e que ter uma nascente e um rio é um privilégio, e não um problema”, disse Polignano. Já o coordenador-geral do SCBH Ribeirão Onça, Marcio Lima, destacou a importância do projeto para uma comunidade tradicional como o Mangueiras. “Entregar essa nascente ao Quilombo Mangueiras faz parte da missão que o subcomitê tem de traduzir e dar luz a esses vários atores que tem na bacia e congregar uma grande discussão a respeito de suas águas, de seus rios”, falou.
Esta é a terceira nascente que recebe melhorias pelo Projeto “Valorização de Nascentes Urbanas na Bacia Hidrográfica do Ribeirão Onça”. As outras duas foram a Nascente Fundamental do Parque Ciliar do Ribeirão Onça, em novembro de 2016, e a Nascente Felicidade, no bairro Jardim Felicidade, em março deste ano. As ações de recuperação e revitalização das nascentes urbanas são financiadas por meio do Recurso da Cobrança pelo Uso dos Recursos Hídricos.
O Projeto
O projeto de “Valorização de Nascentes Urbanas na Bacia Hidrográfica do Ribeirão Onça” é desenvolvido pelo CBH Rio das Velhas, a partir dos Subcomitês das Bacias Hidrográficas dos Ribeirões Arrudas e Onça. Em 2012, foi realizado um trabalho de cadastramento de 345 nascentes das duas bacias e, no ano passado, nove delas foram selecionadas para um processo de revitalização, entre elas a nascente do Quilombo de Mangueiras.
O trabalho conta ainda com apoio de uma equipe da Escola de Arquitetura da UFMG, que formata o projeto paisagístico nas nascentes. Outras nascentes serão revitalizadas ao longo deste ano.