Barro Preto

12/03/2010

 

BARRO PRETO
 
LOCALIZAÇÃO
A comunidade quilombola de Barro Preto está localizada no município de Santa Maria do Itabira, na região Metropolitana Belo Horizonte, Minas Gerais. O acesso é pela BR-120 e por uma estrada vicinal de aproximadamente 9 km.
 
INFRA-ESTRUTURA
A população é de aproximadamente 600 habitantes, divididos em cerca de 170 famílias, que habitam 180 casas.
A infra-estrutura é compostas por telefone público, rede elétrica rural, antenas de TV e bares. Não há caixa dos Correios.
A principal fonte de água destinada ao abastecimento da comunidade vem de dois grandes poços artesianos e é distribuída às residências por meio de uma rede geral. A água utilizada pela comunidade recebe tratamento de cloro, mas está parcialmente poluída pelo uso indiscriminado de agrotóxicos na silvicultura de eucalipto.
Há uma família que capta água diretamente de uma nascente, que está secando, pois parte dos grotões foi desmatada para pasto, reduzindo-se o nível do curso de água. O problema se agrava ainda mais pela ausência de cerca, o que permite o pisoteio de gado na água que chega à residência, ocasionando danos à saúde da família.
O acesso ao povoado é feito por meio de precárias estradas vicinais, o que torna difícil o trânsito no período de chuvas. Os meios de transporte são apenas o ônibus escolar e veículos particulares.
Na comunidade, há grupos de capoeira, de artesanato, que atende a jovens e crianças, e um de forró em estilo pé-de-serra.
As mulheres têm um grupo específico, constituído por intercessoras de oração da igreja local. A Associação São Francisco de Barro Preto, fundada em 1986, representa os moradores.
 
HISTÓRIA
Segundo o relato de moradores, a área de Barro Preto foi ocupada na segunda metade do século XIX. Os primeiros habitantes foram Tobias Pires, João Grigó da Silva, Francisco Acácio e Quitéria Carneiro, sendo esta a maior detentora das terras da comunidade.
O povoado teve suas origens em Indaiá, onde moravam os antepassados mais próximos. Acredita-se que os primeiros habitantes vieram do Rio de Janeiro e da Fazenda das Pedras de Minas Gerais, com destino a Indaiá. Eram escravos fugitivos e libertos, com algum recurso financeiro. Entre eles havia o escravo Tobias, que ocupou a propriedade
e gerou vários descendentes quilombolas. A figura de Tobias ficou marcada na lembrança da comunidade, e o morador José Marciano, de 74 anos, relata tê-lo conhecido quando criança.
Alguns habitantes alegam que o Governo também forneceu terras às comunidades negras que se instalaram na área. No entanto, alguns fazendeiros apoderaram-se do local por meios ilícitos, fazendo com que os moradores recuassem para pequenos espaços.
Os limites da área ocupada pelos antigos moradores eram: ao norte, a Fazenda do Paiol; a leste, a comunidade de Indaiá; ao sul, a Fazenda das Pedras; e a oeste, a BR-120. Toda a área ia do Espigão da Cruz à Fazenda de Cilistrino de Oliveira.
Hoje os moradores ocupam pequenos espaços, onde procuram sobreviver como podem. Segundo alguns informantes, os fazendeiros apresentaram documentos falsos e, alegando que os moradores não tinham o título das propriedades, ocuparam grandes faixas do território. Para isso, teriam se utilizado de diversas formas de pressão, ameaças e de força policial.
O artifício das dívidas foi também outra forma de apropriação utilizada contra os quilombolas. Essas eram contraídas com os fazendeiros mediante empréstimos financeiros ou insumos necessários ao cultivo.
Como os moradores não conseguiam pagar os supostos empréstimos, suas propriedades lhes foram tomadas, mas, segundo eles, as dívidas nunca correspondiam ao valor real das terras. Hoje, somente uma minoria possui o título de suas terras.
Na comunidade, as casas são de alvenaria e pau-a-pique. A maioria é simples, e traz consigo uma história de luta e esforço de construção – algumas ainda estão somente com reboco.
Barro Preto já é reconhecido pela Fundação Cultural Palmares desde 2006. Nesse mesmo ano foi solicitado ao Incra a titulação das terras da comunidade.
 
GEOGRAFIA E MEIO AMBIENTE
Situada em área de clima tropical, a vegetação, adaptada ao clima e às características fisiográficas, é a denominada ambrófila mista, que contém espécies típicas dos ecossistemas cerrado e Mata Atlântica.
Em meio à biodiversidade natural, à silvicultura e entre os cultivos de subsistência, corre o rio Giral, hoje parcialmente poluído pelo lançamento de agrotóxicos da cultura de eucalipto.
Atualmente, a paisagem vegetativa de Barro Preto encontra-se parcialmente degradada. Esse fato é devido a queimadas, compactação do solo, pisoteio do gado, agrotóxicos da silvicultura de eucalipto e retirada de vegetação de áreas de solo muito arenoso.
 
ECONOMIA LOCAL
No entorno da comunidade, fazendeiros praticam silvicultura e pecuária de corte, utilizando sazonalmente a mão-de-obra local. A remuneração pelo trabalho diarista é irrisória. A pequena área disponível para os moradores é utilizada para a agricultura familiar de subsistência. Como o que produzem não supre as necessidades familiares, é comum investirem na produção “a meia” nas terras dos fazendeiros.
A maioria das famílias cria semoventes, principalmente galinhas. Em menor proporção tem-se a criação de suínos e gado leiteiro, este destinado à venda na própria comunidade. Visando ao sustento familiar, qualquer atividade é essencial. Alguns trabalham na extração de palmito, outros no garimpo rudimentar, em busca de minerais como águas marinhas e esmeraldas.
Os doces e bordados são normalmente comercializados no povoado, por vezes são vendidos a compradores de outras regiões. Os demais produtos raramente são vendidos, a não ser quando há excedente.
A troca de produtos, o escambo, é verificada em situações especiais entre parentes, o que indica a manutenção parcial dos hábitos dos antepassados.
Cada família do Barro Preto tem pelo menos um membro recebendo aposentadoria ou auxílio invalidez pelo INSS. Além disso, cerca de 20 famílias recebem doações de parentes ou de outras pessoas que trabalham fora da comunidade.
Esses auxílios permitem melhorias na qualidade de vida da comunidade, mas muito ainda deve ser feito. Várias famílias passam por dificuldades financeiras e não são contempladas com auxílios governamentais.
A Bolsa Escola, por exemplo, só é fornecida a duas famílias, apesar de a maioria ter sido cadastrada.
 
PROBLEMAS NO TERRITÓRIO
Hoje, somente uma minoria possui título de comprovação de terras, mas não se verificam conflitos de terras na região.
O acesso à água é um dos mais graves problemas da comunidade. Há alguns anos, houve um desentendimento entre a comunidade e alguns fazendeiros vizinhos, que não aceitavam que poços artesianos para o abastecimento dos habitantes de Barro Preto fossem construídos em suas propriedades. O problema só foi resolvido quando um dos poços foi colocado na área de uma moradora da comunidade e outro no terreno da igreja.
 
CULTURA
A comunidade tem sua cultura marcada por festas, como a de Santo Antônio, comemorada no dia 25 de junho, e da vigília de Natal, no dia 25 de dezembro.
As danças mais comuns estão associadas ao batuque, moda de quatro, quadrilha, umbigada e capoeira.
Segundo o morador Sebastião, de 82 anos, antigamente, no povoado era comum a prática da marujada e o hasteamento das bandeiras de Santo Antônio, São Pedro e São Sebastião. Atualmente, as bandeiras encontram-se na casa de Maria Praxedes.
Em Barro Preto há duas igrejas, a católica e a evangélica. O santo padroeiro da comunidade é Santo Antônio.
No pequeno povoado ainda mantém-se erguida a casa mais antiga, a de Maria Praxedes, de 88 anos. A moradia foi feita de pau-a-pique e pedras sobrepostas – esse era o padrão das casas dos antepassados.
Segundo relato dos moradores, a comunidade pretende tombar a casa, como parte do patrimônio histórico-cultural de Barro Preto. A comunidade, anteriormente, era denominada Córrego do Santo Antônio, mas depois passou a chamar-se Barro Preto. O nome tem sua origem em um costume antigo dos moradores: pintar a roupa de preto, durante os períodos de luto, usando barro, cipó e gabiroba.
 
Fonte: CEDEFES
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