Tabatinga

23/03/2010

 

TABATINGA
 
LOCALIZAÇÃO
A comunidade da Tabatinga é um quilombo urbano localizado no bairro Ana Rosa, na cidade de Bom Despacho, região Centro-Oeste de Minas Gerais.
 
HISTÓRIA
Em entrevista dada aos pesquisadores Tânia Nakamura e Lúcio E. Júnior, a moradora dona Maria Joaquina da Silva, a dona Fiota ou Fiotinha, relata como surgiu a Tabatinga: “Quando rebentô a liberdade, minha mãe saiu lá Engenho do Ribeiro caçando um lugá. Isso aqui tudo era mato. Nós foi luitá para fazer uma barraca de lona. Nós fizemo, entramo. A barraca acabou, nós fizemos a piteira… Nós tirava barro era no meio do garimpo aqui. Nós entrava dum lado e saída do outro. Nós ia com as enxada atrás tirando a terra. Nós custô demais fazer um cômodo barreado mas nós fizemo e aí, o povo, todo mundo foi fazendo.
Nós amassava era de pé,o barro. Não tinha amassador de barro, não tinha cavalo… Foi aonde que cresceu esse bairro tão maravilhoso.”
A presença da comunidade da Tabatinga na área urbana, seu congado e a “gira” são indícios de que a própria cidade de Bom Despacho foi primeiramente um quilombo. O nome Tabatinga é uma referência ao barro branco existente na principal rua do atual bairro.
Este era amassado com os pés para ser utilizado na construção de casebres. Mesmo com o processo de urbanização e os fortes preconceitos de parte da população local, a Tabatinga resiste. Em 2004, chegaram a mudar o nome do bairro para Ana Rosa. Em décadas anteriores, um padre tentou impedir a comunidade de realizar seus festejos na igreja de São Benedito. A disputa foi longa, mas os moçambiques da Tabatinga, liderados pela dona Tiana, venceram e voltaram a participar das missas.
 
INFRA-ESTRUTURA
Situada na periferia de Bom Despacho, vivem na Tabatinga cerca de 500 pessoas. É servida de água tratada, esgoto, energia elétrica, telefone público e de uma escola que atende até a 4ª série do ensino fundamental. Como bairro urbano, a comunidade é servida pelos serviços públicos disponíveis na cidade.
Além dos grupos de congado, há a Associação de Quilombo dos Carrapatos, coordenada pela Dona Sebastiana.
 
CULTURA
Objeto de estudos, a “gira” ou Língua do Negro da Costa é uma espécie de dialeto até recentemente muito falado pelos moradores da Tabatinga. Em 1981, havia cerca de 200 pessoas que falavam a língua.
Mas, hoje, a pesquisadora Sônia Queiroz identificou apenas duas mulheres que ainda a falam. Uma delas é a dona Fiota, filha de um dos falantes mais antigos da Língua do Negro da Costa, chamado Zé Caria (ou Zacaria) e Joaquina Caria. Segundo dona Fiota, sua mãe trabalhava no tempo da escravidão quando se casou com o baiano Zé Caria.
O idioma usa a estrutura do português com a introdução de palavras do grupo banto, quimbundo e umbundo, faladas, até hoje, em Angola. A língua, surgida quando os escravos começam a realizar trabalhos domésticos, foi uma forma particular que eles encontram para se comunicarem. Cambuá (cachorro), mavero (leite), cuete ocara (preto) são palavras da língua. Uma frase dita pela dona Fiota ilustra bem a estrutura: “Patrão chegava, eles falavam: catingueiro caxô. Caxô o quê? No curima. Ela tava querendo dizer que o patrão chegou”.
As festas de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito são tradicionais na Tabatinga, quando saem os ternos e guardas, que são grupos compostos por homens e mulheres paramentados com cores de sua comunidade e, em cortejo, vão dançando e cantando ao ritmo de tambores, gungas e sanfonas. Levam à frente as bandeiras em homenagem aos santos de devoção.
Está na Tabatinga um dos grupos de congado mais considerados de toda a região do centro-oeste de Minas. Tendo à frente dona Sebastiana Geralda Ribeiro da Silva, ou dona Tiana, nascida na comunidade próxima de Carrapatos e morando na Tabatinga, desde os 2 anos de idade, a Guarda de Moçambique de São Benedito mantém viva a longa tradição religiosa de matriz africana. Aos 72 anos, Dona Tiana, como é chamada, é capitã e integrante da guarda.
 
Fonte: QUEIROZ (1998) e CEDEFES
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