Pataxós reivindicam demarcação de terras em Açucena

30/08/2017

ALMG

Fonte:https://www.almg.gov.br/acompanhe/noticias/arquivos/2017/08/30_dh_pataxos.html

Eles denunciam ameaças de grileiros e cobram transformação de parque estadual em reserva indígena.

 O cacique Baiara, da aldeia Pataxó Geru Tucunã, localizada em Açucena (Vale do Rio Doce), denunciou ocupações irregulares e conflitos com posseiros na sua área em reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quarta-feira (30/8/17). A aldeia fica dentro do Parque Estadual do Rio Corrente e os pataxós reivindicam a transformação da área em reserva indígena.

Cacique Baiara relatou que posseiros ateiam fogo na área, destruindo a natureza

Cacique Baiara relatou que posseiros ateiam fogo na área, destruindo a natureza –Foto: Ricardo Barbosa

Representantes de órgãos como Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e Fundação Nacional do Índio (Funai) afirmaram que os indígenas têm ajudado na conservação do local e defenderam a regularização da sua terra.

“Quando chegamos, a área estava toda degradada”, lembra o cacique Baiara sobre a chegada da comunidade indígena ao local, em 2010. Segundo ele, boa parte do território ocupado por eles já foi recuperado, mas, no entorno, ainda há criações de gado e búfalos.

Alguns posseiros, que já teriam recebido indenizações para sair do local, ainda estariam lá. Por isso, os conflitos com os pataxós são cada vez mais frequentes, conforme relatou o cacique. “Eles colocam fogo em tudo para escorraçar a gente e acabam destruindo a natureza ao redor”, contou.

Outra reclamação é de que, como se trata de um parque natural com uso restrito, os pataxós não podem construir casas de alvenaria ou ter acesso a energia, por exemplo. Por isso, eles reivindicam a transformação do parque em reserva indígena.

Alexsandro de Almeida Mathias, da Funai, se disse favorável à proposta e afirmou que a comunidade foi guiada até o local onde está hoje pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) com a presença de servidores da Funai. Ele ressaltou, ainda, que é questionável a classificação do local como parque, um dos tipos de reserva ambiental mais restritivos, já que grande parte da área está degradada.

Segundo indígenas, posseiros que já receberam indenizações para sair da área ainda continuam lá, o que faz com que os conflitos sejam cada vez mais frequentes
Segundo indígenas, posseiros que já receberam indenizações para sair da área ainda continuam lá, o que faz com que os conflitos sejam cada vez mais frequentes – Foto: Ricardo Barbosa

 

Área ocupada pelos pataxós é a mais preservada do parque

A degradação do Parque do Rio Corrente foi confirmada pela coordenadora estadual da Emater, Marcia Campanharo Zanetti Bonetti, que ressaltou que a porção de terra mais conservada é a da aldeia pataxó.

De acordo com ela, a Emater identificou a presença de fazendeiros com várias atividades ilegais no local, como pastagens, casas construídas, cercas e dutos de água. Já na aldeia, foi verificado, segundo ela, que os pataxós conseguiram recuperar a terra antes degradada e produzem alimentos de forma agroecológica.

A dificuldade de acessar políticas públicas por falta de documentação oficial de posse da terra é outra questão que precisa ser resolvida, de acordo com a representante da Emater. Ela exemplificou com o programa de compra de produtos de agricultura familiar para a merenda escolar. Para Bonetti, os pataxós poderiam ser fornecedores desses alimentos se tivessem a posse da terra.

A prefeita de Açucena, Darcira de Souza Pereira, também se mostrou favorável à transformação da área em reserva indígena. Ela salientou que a prefeitura tem feito sua parte ao garantir aos pataxós acesso a serviços de saúde, por exemplo.

Muitos dos moradores presentes se manifestaram ao fim da reunião e reivindicaram outros direitos, como a construção de uma escola indígena para as crianças.

IEF rebate críticas

O IEF foi duramente criticado por não tomar as providências necessárias quanto às ocupações irregulares de posseiros e grileiros. A representante do órgão, Giuliane Carolina de Almeida, disse que já há um estudo para tentar resolver os conflitos dentro do parque e uma proposta deve ser entregue em breve à ALMG. Ela disse que levará aos diretores do órgão as demandas apresentadas na reunião.

O subsecretário de Estado de Acesso à Terra e Regularização Fundiária, Geraldo Victor de Abreu, salientou que o governo está empenhado em resolver esses conflitos.

Agilidade – O deputado André Quintão (PT) disse que é preciso maior agilidade para resolver os conflitos agrários e salientou que o governador Fernando Pimentel tem avançado nessas negociações.

O deputado Cristiano Silveira (PT), presidente da comissão, ressaltou, ainda, que a Comissão de Direitos Humanos tem buscado diálogo nesse tipo de conflito agrário e se comprometeu a dar encaminhamento às demandas apresentadas. A deputada Celise Laviola (PMDB) também se colocou à disposição para ajudar a encontrar soluções para as questões apresentadas.

Consulte o resultado da reunião.

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