Aos 71 anos, a escritora belo-horizontina começou carreira em publicação coletiva nos Cadernos Negros

Walter Craveiro/divulgacao
Conceição Evaristo foi homenageada na Flip, quando sua história e trajetória foram temas da mesa de encerramento da edição de 2017 (foto: Walter Craveiro/divulgacao )

Nascida no morro do Pindura Saia, favela no Alto da Avenida Afonso Pena na região Centro-sul de Belo Horizonte que foi removida, a escritora Conceição Evaristo foi para o Rio de Janeiro estudar na década de 1970. Foi lá que construiu a carreira como professora e escritora, mas daqui ela levou as histórias e a oralidade da família que marcam sua obra. “Recebo o prêmio um dia depois do meu aniversário. É um presentão. É muito simbólico, reconhece minha longa trajetória de BH até agora”, disse. Conceição nasceu em 29 de novembro de 1946.

Havia uma dívida pelo fato de a cidade não ter aberto as portas no ínicio da carreira para ela, que costuma fazer esse apontamento nos eventos literários que participa. Mas em 2017, quando a capital mineira completa 120 anos, a reparação foi feita. Conceição venceu o Prêmio do Governo de Minas Gerais de Literatura 2017 pelo conjunto da obra.  No ano passado, a láurea foi concedida a poeta divinopolitanaAdélia Prado.
O ano de 2017 foi especialmente marcado por reconhecimento à Conceição que primeiro se tornou conhecida entre o movimento social negro, depois na Europa, nos cursos de letras e somente recentemente furou os círculos literários tornando-se figura notoriamente conhecida e reverenciada.
Foi homenageada na Ocupação Cultural no Itaú Cultural em São Paulo em abril. Foi a escritora que encerrou a 15ª edição da Festa Literária de Paraty (FLIP 2017), quando sua trajetória e vida foram apresentadas pela escritora Ana Maria Gonçalves. Foi reverenciada na  II Mostra Conceição Evaristo em julho no Sesc Palladium. Na ocasião, participou do sarau lendo poemas. Em setembro retornou a capital para o Festival Literário de Belo Horizonte (FLIBH), quando disse que a cidade estava redimida com ela. Conceição costuma pontuar que não está só e que é sustentada por outras mulheres, entre elas escritoras como Maria Carolina de Jesus (1914-1977).
Conceição foi cercada por mulheres e homens da comunidade. Para ela, essas mulheres, mesmo diante de situações adversas, de luta e dor, criaram espaço para o lazer. “Lembro-me de minha mãe fazendo doces para a congada e flores de papel crepom. Apesar de toda dor e dificuldade, bordava vestidos a mão para os bailes”, disse ao EM no ano passando quando do lançamento do Histórias de leves enganos e parecenças, pela Editora Malê.
  
Conceição reverência como “essas mulheres criam espaços para a alegria, riem das próprias dores e, de maneira resiliente, conquistam lugares que lhes são negados por serem negras e mulheres”.
O amor pela escrita veio da família formada por boas contadoras de causos. Ecos da África ancestral, com sua preciosa cultura oral, e também de nossa velha e boa prosa mineira. Na década de 1970, Conceição mudou-se para o Rio de Janeiro, entrou na faculdade, tornou-se professora. Trocou as panelas pelo mestrado e doutorado em literatura.

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