11/07/2018
Hoje gestora de projetos da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí) – onde trabalha há quatro anos – ela é uma das três mulheres brasileiras que foram escolhidas pela paquistanesa Malala para integrar uma rede internacional de incentivo a projetos para educação de meninas: a Rede Gulmakai, iniciativa do Fundo Malala.
A Anaí foi selecionada dentre diversas instituições do nordeste. Ana Paula conta que a entidade foi indicada quando Malala demonstrou interesse em apoiar projetos do Brasil. “Veio um representante do Rio de Janeiro, que contou que ela queria iniciar o trabalho pelo Nordeste. Eles visitaram diversas instituições, mas a Anaí foi a escolhida na Bahia. Eu acho que eles nos escolheram porque desde a primeira reunião a gente já foi com os povos indígenas. Deixamos bem claro que não fazemos nada sem eles”, explicou.
A mineira não conhecia Malala e não tem previsão para encontrá-la novamente. Ela explica que a agenda da paquistanesa é muito sigilosa e, por isso, não sabe se terá a oportunidade de vê-la novamente. O encontro das duas foi realizado na sede da Anaí, em que ela teve a oportunidade de entrar em contato com índias brasileiras, que além de conversar com Malala, fizeram um ritual para ela.
Foto: Arisson Marinho/ CORREIO
“Eu fui convidada para ser uma ‘champion’ e vou receber um treinamento de três anos aqui no Brasil e em outros lugares. Vou desenvolver habilidades e isso vai ajudar na promoção da educação indígena”, explicou.
Além do projeto com Ana Paula, a Anaí pretende alcançar toda a Bahia com um projeto incentivado pelo Fundo Malala. Serão três etapas: de diagnóstico, formação e campanha.
“De início, nós iremos realizar um diagnóstico quantitativo da educação na Bahia, focado na educação de meninas. No segundo, iremos discutir sobre vários temas para empoderar e levantar a voz dessas meninas e no terceiro, vamos fazer com que elas participem de campanhas.Toda pauta de movimento indígena, a gente quer que elas participem. Isso porque a Malala acredita que a gente deva construir junto. Pressionar o governo para fazer. Então é importante para essa criação”, detalhou.
Sobre ganhar o prêmio, a mineira afirmou estar muito feliz. “A ficha ainda está caindo. Eu tenho uma segurança muito grande do meu trabalho e do meu ativismo pessoal, que é uma coisa que sempre fiz na vida, não é novo para mim. O novo é essa questão internacional e essa estrutura. Ainda estou surpresa, mas eu acho que serão três anos de muita dedicação, e espero que dê muito retorno para a educação indígena da Bahia”.
Realidade das tribos
Malala discutiu sobre a educação de meninas índias com jovens integrantes das tribos Pataxó, Pataxós-hã-hã-hãe e Tupinambá na sede da Anaí. Uma das meninas presentes, que preferiu não se identificar, de 17 anos, conta que Malala pediu para conversar com elas para saber a realidade educacional das tribos.
A menina, que é Tupinambá e mora na Serra do Padeiro, conta que a paquistanesa perguntou para elas sobre o acesso à escola e o formato de estudo. Ela conta que tem aulas dentro da aldeia, com professores índios e também com não-índios. Dentre as disciplinas ligadas à etnia, ela tem aula de cultura e de língua tupi. Malala ainda disse às meninas que não desistissem de estudar.