21/12/2018
Em sua propriedade nos arredores de Xapuri, o extrativista
Francisco Assiz de Oliveira aposta no que diz ser o futuro da Amazônia: o
sistema agroflorestal.
Em uma área degradada por pasto, ele plantou mudas de seringueira e
castanheira, alternadas com pés de cacau, banana, goiaba, acerola e outras
frutas. Junto com a mata nativa, consegue tirar no mínimo R$ 1.500 por mês,
a depender da safra, e garante renda todo mês.
Alinhadas e espaçadas, as árvores produzem mais e dão menos trabalho do
que entrar na mata fechada, e podem ser uma alternativa ao extrativismo
convencional, para aproveitar áreas degradadas e manter as pessoas na
floresta –e a floresta em pé.
“A floresta é meu caixa eletrônico: o que eu quiser, é daqui que eu tiro”,
afirma Antonio Teixeira Mendes, o Duda, primo de Chico Mendes — líder ambientalista cuja morte completa 30 anos neste sábado — e vizinho de Assiz, que também plantou seringueiras e
castanheiras.
Em um hectare de floresta plantada, cabem até 500 árvores de seringa. Na
mata nativa, cortar tudo isso tomaria 15 horas de incursão pela floresta.
Entre as seringueiras, também dá para plantar açaí, cacau, cupuaçu, banana,
acerola e graviola. Foi o que fez Assiz, que começou a plantar por conta
própria –e na beira da estrada, para mostrar aos outros que a ideia ia dar
certo.
No começo, ele errou. Plantou árvores que só vingavam na sombra. Outras,
ao contrário, que precisavam de sol. Mas foi aprendendo. Atualmente, ele
tem um viveiro de mudas, que usa para expandir a área plantada.
Duda, seu vizinho, começou a plantar seis anos atrás. Hoje, já colhe
borracha, mas ainda não a castanha (a árvore leva pelo menos 15 anos para
dar frutos). Com a seringa, são cinco anos para começar a produzir. “Tem
que insistir, ter paciência”, diz.
A experiência ainda é minoria entre os extrativistas –que, com pouca renda
na floresta nativa, acabam partindo para a pecuária, maior fonte de
desmatamento da Amazônia.
Nos arredores de Xapuri, cidade de Chico Mendes, a Folha viu plantações de
seringueiras abandonadas, tomadas pelo mato. Assiz, que também é
presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, admite que
poucos persistiram no programa, apoiado pelo BID (Banco Interamericano
de Desenvolvimento) e pelo governo do Acre. Outras florestas também são
financiadas pelo banco de desenvolvimento da Alemanha, o KfW.
Técnicos que trabalharam no projeto apontam problemas de gestão: em
alguns casos, as mudas demoraram a chegar; em outros, faltou assistência.
Mas também responsabilizam os produtores por falta de cuidado.
“É falta de cabeça, mesmo, de consciência”, diz Sebastião Aquino, 39.
Membro da Cooperacre (cooperativa de extrativistas do estado), ele planta
açaí, cacau, cupuaçu, banana, acerola e graviola, e ainda cria peixe. É um dos produtores mais bem-sucedidos da região –e faz isso em apenas cinco
hectares de sua área, que fica dentro de uma reserva extrativista.
Companheiro de Chico Mendes e um dos veteranos da região, o extrativista
Raimundo Mendes de Barros, 73, conhecido como Raimundão, é outro
entusiasta da ideia. “Quem diz que não dá dinheiro é preguiçoso. Porque tem
que trabalhar todo dia”, diz. “É fácil entrar nessa mata com motosserra. O
trabalho é pouco.”
“É como diz a religião: tem o caminho largo e o caminho estreito”, diz Assiz.
“Esse aqui [agrofloresta] é o caminho estreito.”
Chefe da Reserva Extrativista Chico Mendes, o analista Flúvio Mascarenhas,
do ICMBio, defende o modelo da agrofloresta, em parceria com o
extrativismo.
“Nosso país tem a maior floresta tropical do mundo. Quem mais vai oferecer
esse serviço?”, afirma. “Se a gente perder isso, perde a vanguarda, o
protagonismo.”
Ele destaca que a agrofloresta é um processo lento, e leva tempo para dar
resultados –mas argumenta que há compradores, tanto no mercado interno
quanto externo.