10/11/2019
Arquidiocese de Uberaba – Romaria-MG, 10 de Novembro de 2019.
No espírito do Sínodo da Igreja para a Amazônia, nós viemos de várias dioceses do Estado de Minas Gerais e da Arquidiocese de Uberaba para participarmos da XXII Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais. Somos romeiras e romeiros da mãe terra e da irmã água, sob a inspiração do tema “Com a Mãe Abadia, os filhos e filhas e toda a natureza clamam em dores de parto”, do lema “Das águas sujas, em Romaria, na luta pela terra e pelas águas, fontes de vida” e com a proteção de São Francisco de Assis, patrono da Romaria das Águas e da Terra, e de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja. Ficamos felizes e gratos aos/às missionários/as que fizeram uma Semana de Missões em várias comunidades das cidades de Uberlândia, Monte Carmelo, Indianópolis e Romaria. Lutamos pela construção de uma sociedade do Bem Viver e Conviver, com estilo de vida simples e sóbrio para superarmos o sistema capitalista, que é uma máquina de moer vidas. Lutamos, porque acreditamos que é possível construir uma sociedade, na qual os direitos do povo sejam reconhecidos e respeitados em sua totalidade. Por tudo isso, irmãs e irmãos, continuaremos caminhando, como peregrinos e peregrinas da esperança, construindo a esperança na luta coletiva a partir dos injustiçados e violentados nos seus direitos. Estamos a caminho, em romaria, sem a indiferença dos apressados, mas com a serenidade e a firmeza de quem sabe contemplar a luz e a força divina agindo em nós e, por meio de nós, no mundo.
Com a força do Deus da vida, em sintonia com o papa Francisco, anunciamos e defendemos: a luta dos Povos e Comunidades Tradicionais, a igualdade entre homens e mulheres, a sociobiodiversidade, a reforma agrária, a soberania e a segurança alimentar, a dignidade no campo e na cidade. São Francisco de Assis dizia que o nosso planeta é “irmã e mãe, que nos sustenta e nos governa”. “A terra existe antes de nós e foi-nos dada”, nossa responsabilidade é a de “cultivar e guardar”, essa é “responsabilidade perante uma terra que é de Deus e implica que o ser humano, dotado de inteligência, respeite as leis da natureza e os delicados equilíbrios entre os seres deste mundo”. O papa Francisco reafirma isso na Encíclica Louvado Sejas e nos diz que tudo está interligado.
Denunciamos: os grandes projetos desenvolvimentistas baseados no fortalecimento do agronegócio ligados a grandes grupos econômicos nacionais e internacionais que promovem enormes danos socioambientais por meio da implantação de projetos de monoculturas, exploração de minérios, pecuária extensiva, projetos que contam com forte apoio dos poderes públicos em todas as suas esferas. Estes empreendimentos são responsáveis diretos pelo empobrecimento de nossas regiões e pela intensa devastação ambiental, violência no campo e na cidade. Com o papa Francisco alertamos: “Em qualquer discussão sobre um empreendimento, dever-se-ia pôr uma série de perguntas, para poder discernir se o mesmo levará a um desenvolvimento verdadeiramente integral: Para que fim? Por qual motivo? Onde? Quando? De que maneira? A quem ajuda? Quais são os riscos? A que preço? Quem paga as despesas e como o fará? Neste exame, há questões que devem ter prioridade. Por exemplo, sabemos que a água é um recurso escasso e indispensável, sendo um direito fundamental que condiciona o exercício de outros direitos humanos. Isto está, sem dúvida, acima de toda a análise de impacto ambiental duma região.”
Agradecemos, de coração, à Arquidiocese de Uberaba e ao Santuário de Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, padroeira também dos/as atingidos/as pela mineração. Que beleza que vocês acolheram com alegria a realização da XXII Romaria das Águas e da Terra do Estado de Minas Gerais! Reafirmamos nosso compromisso de empenho na luta coletiva no processo de transformação da realidade injusta e cruel que nos envolve. Estaremos na luta até que a população tenha acesso à água em qualidade e quantidade necessária, que a irmã água e a mãe terra sejam preservadas como dádivas de Deus. Até o próximo ano (2020) na 23ª Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais na Diocese de Sete Lagoas. Amém, Axé, Awerê, Aleluia, Uai!