Escola que atende comunidades quilombolas em São Domingos do Prata deve ser fechada neste ano

06/12/2021

Por Alex Araújo, g1 Minas — Belo Horizonte

Fonte:https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/12/06/escola-que-atende-comunidades-quilombolas-em-sao-domingos-do-prata-deve-ser-fechada-neste-ano.ghtml?fbclid=IwAR1rK4m5Z_SpyjV4REe7GCXF-Egi7o5S-TGIMAoPIE-a-J7t1AhgVMybY-s

Escola mais próxima está a 10 km de distância da zona rural e professores temem por evasão. Federação das Comunidades Quilombolas entrou com ação civil pública para tentar barrar decisão.

 

Fachada da Escola Estadual Coronel José Gomes de Araújo, em São Domingos do Prata — Foto: Renata Cristina de Souza Araújo/Arquivo pessoal

Fachada da Escola Estadual Coronel José Gomes de Araújo, em São Domingos do Prata — Foto: Renata Cristina de Souza Araújo/Arquivo pessoal

Professores e alunos temem que meio século de educação dedicado a comunidades quilombolas de Surrão e Areião, no distrito de Cônego João Pio, em São Domingos do Prata, na Região Central de Minas Gerais, tenha a última página escrita no próximo dia 31.

 

Educadores contaram ao g1 que a Secretaria de Estado de Educação (SEE) pediu o encerramento das atividades na Escola Estadual Coronel José Gomes de Araújo. Atualmente, o espaço atende 40 estudantes com faixa etária de 13, 14 e 15 anos, dos 7º ao 9º anos.

Para fechá-la, segundo a especialista em educação básica Renata Cristina de Souza Araújo, a SEE alegou baixa quantidade de alunos, mas ela diz que havia uma turma de dez estudantes para o 6º ano de 2022 e que a SEE não autorizou a abertura da classe.

Uma das salas de aula da escola — Foto: Renata Cristina de Souza Araújo/Arquivo pessoal

Uma das salas de aula da escola — Foto: Renata Cristina de Souza Araújo/Arquivo pessoal

A pasta fala, ainda, que a escola não fica em área quilombola, o que contradiz documento enviado à Secretaria Regional de Educação (SRE), em Nova Era, em novembro deste ano. Veja o documento a seguir.

Documento com pedido para que escola seja quilombola — Foto: Reprodução

Documento com pedido para que escola seja quilombola — Foto: Reprodução

Documento é assinado pelas comunidades quilombolas Surrão e Areião — Foto: Reprodução

Documento é assinado pelas comunidades quilombolas Surrão e Areião — Foto: Reprodução

Além disso, o Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (Cedefes) reconhece as comunidades Surrão e Areião como quilombolas. Veja abaixo.

Surrão e Areião são consideradas comunidades quilombolas pelo Cedefes — Foto: Reprodução/Cedefes

Surrão e Areião são consideradas comunidades quilombolas pelo Cedefes — Foto: Reprodução/Cedefes

“As comunidades se autodeclararam como quilombolas. Então, legalmente, elas são quilombolas. É um direito dessas comunidades terem uma escola perto da comunidade”, diz a especialista. Além disso, a educadora falou que um processo de certificação é analisado pela Fundação Palmares, em Brasília.

“A escola é uma referência para as comunidades quilombolas. Existe uma convivência das comunidades com a escola, para orientar, ajudar. Ela é a única referência desses moradores”, pondera Renata.

 

Refeitório da Escola Estadual Coronel José Gomes de Araújo — Foto: Renata Cristina de Souza Araújo/Arquivo pessoal

Refeitório da Escola Estadual Coronel José Gomes de Araújo — Foto: Renata Cristina de Souza Araújo/Arquivo pessoal

Renata salienta que os moradores fizeram um abaixo-assinado, que foi entregue à SRE e à SEE.

“Se a escola for fechada, os alunos terão que pegar um transporte e andar por dez quilômetros até o distrito de Vargem Linda. Isso pode causar evasão escolar por causa da dificuldade de transporte, da estrada de terra que é ruim em tempo de chuva”.

 

A Escola Estadual Coronel José Gomes de Araújo existe há 50 anos e há 39 a professora de matemática Delma Marques Oliveira Gomes Araújo leciona no local.

Para ela, “o fechamento da escola é um absurdo”.

“É uma escola que é um patrimônio histórico da comunidade. A maioria das pessoas estudou aqui porque as comunidades são pobres. Além disso, a escola tem uma infraestrutura maravilhosa. Se começar assim, a tendência é fechar igreja, posto de saúde”, lamenta.

 

Escola Estadual Coronel José Gomes de Araújo atende atualmente a 40 alunos — Foto: Renata Cristina de Souza Araújo/Arquivo pessoal

Escola Estadual Coronel José Gomes de Araújo atende atualmente a 40 alunos — Foto: Renata Cristina de Souza Araújo/Arquivo pessoal

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