16/12/2021
Após a Heineken desistir de construir sua nova fábrica próxima a um sítio arqueológico em Minas Gerais, ONGs ligadas à defesa do meio ambiente cobraram compromissos da cervejaria com a preservação do local.
Em nota publicada na segunda-feira (13), as entidades pediram que a empresa se responsabilize pelas interferências já realizadas no terreno, faça o reflorestamento da área e explique como os recursos prometidos serão aplicados.
“A cervejaria precisa demonstrar que entendeu a indiscutível relevância da área e que esse recuo não significa apenas uma estratégia de marketing”, diz o texto assinado pelo Cedefes (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva), coletivo Subverta, movimento Fridays for Future e Grupo de Voluntários Greenpeace Belo Horizonte.
Na segunda (13), a Heineken anunciou que desistiu de construir uma fábrica em Pedro Leopoldo, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Em setembro, a obra chegou dessa nova unidade chegou a ser embargada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). A instituição avaliou que havia risco de o projeto causar danos ao sítio arqueológico onde foi localizado o crânio de Luzia, o mais antigo fóssil humano encontrado nas Américas. No mês seguinte, a Justiça deferiu uma liminar liberando a construção.
“Seguimos todos os ritos para obter a licença ambiental e temos autorização judicial para construir a cervejaria, o que demonstra a legalidade do processo”, disse Mauro Homem, diretor de assuntos corporativos da Heineken, ao anunciar a desistência do projeto.
No entanto, apesar da permissão, o diretor disse que a permanência no local dividia opiniões, e que a cervejaria procuraria outra área em Minas Gerais para realizar a obra.
Na ocasião, Homem também afirmou que a companhia pretende fazer uma doação de cerca de R$ 300 mil para ajudar na preservação do sítio arqueológico, iniciativa que foi questionada pelas entidades.
“Exigimos transparência: pedimos que a empresa torne público o destinatário final desta verba e como ela será aplicada na região afetada”, dizem as ONGs.
Em nota, a Heineken disse que o cuidado com o meio ambiente direciona suas decisões e que a doação será feita ao Ministério Público de Minas Gerais, por meio de termo de cooperação.
“Entendemos que a instituição tem plena condição de direcionar o investimento da forma mais adequada e efetiva para preservação e manutenção do sítio arqueológico”, afirmou.
Além da doação, as organizações ambientais pedem a incorporação da área onde a fábrica seria construída ao Monumento Natural Estadual Lapa Vermelha, como forma de garantir que a região não receba projetos semelhantes no futuro.
De acordo com Alenice Baeta, arqueóloga e membro do Cedefes, a região onde a cervejaria seria construída sempre foi muito visada por empreendimentos imobiliários, de mineração, entre outros.
“A gente quer que a Heineken refloreste e recupere aquele terreno, senão chega outra empresa e começa de novo o mesmo processo”, afirma.
Segundo ela, antes do projeto da fábrica, já houve tentativas de construir um condomínio e um shopping de moda no local.
“O terreno sofreu uma série de danos ao longo do tempo, não foi a Heineken que causou tudo. Mas, a partir do momento em que ela assume o local, nós queremos que ela faça um investimento provando ser comprometida com a recuperação ambiental“, diz.
A cervejaria não comentou os pedidos de reflorestamento e reparação de eventuais danos.