Começa nesta quinta-feira (15) o tradicional Festival Brésil en Mouvements, mostra de documentários sobre o Brasil na França, criado em 2005. Entre os convidados, que vieram especialmente do Brasil para participar do Festival, está a líder indígena Shirley Krenak, protagonista do filme “A mãe de todas as lutas”, de Susanna Lira.

Começa nesta quinta-feira (15) o tradicional Festival Brésil en Mouvements, mostra de documentários sobre o Brasil na França, criado em 2005. Entre os convidados, que vieram especialmente do Brasil para participar do Festival, está a líder indígena Shirley Krenak, protagonista do filme “A mãe de todas as lutas”, de Susanna Lira.

O tema desta 18ª edição do Festival Brésil em Mouvements, que acontece em um momento importante para a democracia brasileira, às vésperas da eleição presidencial, é o “cinema contra a barbárie”. Até o próximo domingo (18), o evento apresenta doze filmes e debates sobre as lutas sociais e movimentos de resistência e arte brasileiros.

 

O documentário “A mãe de todas as lutas”, de Susanna Lira, revela a primazia das mulheres na luta pela terra no Brasil. O filme é protagonizado por Shirley Krenak, líder do povo Krenak, do norte de Minas Gerais, e por Maria Zelzuita, trabalhadora rural sobrevivente do massacre de Eldorado dos Carajas. “A mãe de todas as lutas hoje no Brasil é a força de todas as mulheres unidas em prol de um único desejo que é o respeito pela sagrada mãe Terra”, reforça Shirley Krenak nos estúdios da RFI em Paris. Na entrevista, sem citar nomes de políticos ou candidatos à presidência do Brasil, ela ressalta, várias vezes, que “espiritualidade e ação precisam andar juntos”.

“O filme representa o que há de mais sagrado dentro do processo da luta pelas demarcações de nossas terras. Mostra, também, como foram as ações utilizadas desde o processo da colonização até os tempos atuais no que diz respeito a violações, aos estupros provocados dentro de nossos territórios”, conta a líder indígena.

Segundo ela, ao revelar as dificuldades que os povos indígenas estão tendo para a demarcação de suas terras ancestrais, o documentário “mostra para as pessoas quem somos nós e o que nós estamos fazendo diante de tantas atrocidades que estão sendo provocadas em nossos territórios”.

Corpo território

Shirley Krenak também integra a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), que defende todos os “biomas sagrados” do país. Durante o festival Brésil em Mouvements em Paris, ela também vai participar do debate “Corpo Território”, conceito que estrutura o movimento de mulheres indígenas brasileiras.

“Nós mulheres somos árvores plantadas sobre esse território sagrado. Nós somos únicas e precisamos estar sempre juntas para buscar o nosso direito de viver bem e de estar ocupando espaços no que diz respeito à nossa cultura e à nossa tradição.”

A líder indígena diz que teria muitos recados para passar sobre “esse processo de existência dos povos indígenas” diante de “tamanhas injustiças” em nome do “progresso”, mas proclama apenas um: “parem de nos matar, por favor”. Esse é “o recado que eu daria para a humanidade porque nós não estamos fazendo nada de errado para o mundo. Nós apenas queremos proteger os nossos rios sagrados, as nossas matas, a nossa terra”, diz.

Política coletiva

Ela lembra que essa defesa dos povos indígenas pode ajudar na luta contra as mudanças climáticas e que a “Amazônia sozinha não é o pulmão do mundo” e sim todos os biomas.

“A forma que nós temos de proteção dos nossos territórios e da terra é algo que pode estar salvando a vida de vocês também. À medida que nos encaminhamos em prol da defesa dos nossos direitos, no que diz respeito a toda a questão ambiental, é porque a gente se preocupa com a humanidade inteira. A nossa luta hoje em dia se tornou um ato radical diante da sociedade não indígena, mas é esse ato radical que leva para você, ainda, um copo de água para beber, um ar para respirar e uma terra para pisar”, salienta.

Ela defende que o caminho correto para frear essa destruição seria “trabalhar a questão ambiental de uma forma coletiva” e a ocupação de espaços políticos por mulheres indígenas para “pensar a política e a democracia de forma coletiva”.

Determinada, mas serena, Shirley Krenak mantém a esperança. “A esperança a gente tem e estratégia política também porque nós somos povos indígenas inteligentes. Somos 5% da população brasileira hoje e esses 5% lutam 24h por dia para fazer mudança positiva em prol da não extinção da humanidade”, pontua, enviando a todos um “Ererré”, saudação sagrada do povo Krenak que significa tudo de bom.

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