11/07/2023
Estrutura da AngloGold Ashanti tem trinca de 300 metros
Em outubro do ano passado, a barragem de Santa Bárbara foi classificada como nível 1 de alerta – Foto: Reprodução/ANM
Roseni Aparecida Ambrosio tinha acabado de acordar quando escutou, na manhã desta terça-feira (11), a sirene da barragem CDS II, que fica em Santa Bárbara, município da região Central de Minas Gerais, soar. É a quinta vez que a estrutura é acionada acidentalmente, nos últimos dois anos, causando pavor nos moradores do município.
Desde o mês de maio deste ano, quando foi encontrada uma trinca de mais de 300 metros de comprimento e aproximadamente dois centímetros de largura, a barragem está em situação de emergência e os atingidos estão em alerta.
“São episódios que causam transtornos e traumas. Quando uma barragem com uma trinca de 300 metros tem a sirene disparada acidentalmente, as pessoas param de confiar. Pode acontecer algo sinistro e elas perderem suas vidas por falta de credibilidade da sirene”, lamenta Roseni.
Ela relata, ao Brasil de Fato MG, que sua família já convive diariamente com os impactos da negligência da mineradora AngloGold Ashanti.
“Eu e minha família já estamos abalados psicologicamente e nem podemos mais ouvir nenhum barulho relacionado à barragem. Além das trincas e da sirene, nossa casa já foi invadida por uma lama tóxica, que a mineradora nunca foi responsabilizada. A gente se sente totalmente desprovido e desamparado”, conta a atingida.
Em outubro do ano passado, a estrutura, que abriga um volume de rejeitos semelhante ao da barragem da Vale que rompeu em 2019, em Brumadinho, foi classificada como nível 1 de alerta, após o surgimento de uma trinca com 12 centímetros de largura e 60 metros de comprimento.
Outra moradora de Santa Bárbara, Mercia Regina da Silva Xavier, relata que a situação é assustadora. Ela conta que o local onde fica a casa em que mora com os filhos é um “beco sem saída”.
“Eu tenho dois filhos gêmeos e eles estudam na parte da manhã. Quando a sirene disparou eu pensei ‘o que eu vou fazer agora? Eu corro para a escola para ficar com os meninos? ou para o ponto de encontro para onde a empresa diz que é preciso ir’”, relata Mercia.
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“Eu moro em uma rua mais baixa. Quando chove, ficamos sem saída de um lado da rua. No outro lado, tem um barranco. E, se a gente corre, é sentido à lama. Nós não vivemos nem dormimos mais. Eu estou sendo medicada para dormir e, mesmo assim, não tenho sossego”, complementa.
As duas moradoras reclamam da falta de diálogo, assistência e clareza da AngloGold Ashanti. No ano passado, a mineradora lucrou mais de R$ 660 milhões com a barragem no município e, mesmo assim, os membros das comunidades não foram indenizados.
Outro lado
Procurada pela reportagem, a AngloGold Ashanti reforçou que a barragem CDS II segue segura e estável. Afirmou ainda que, na segunda-feira (10), a empresa realizou um teste de rotina no sistema de comunicação de emergência e que, nesta terça (11), o “som musical” foi emitido por poucos segundos e que não houve emissão de sirene ou de mensagem de voz, e que a Defesa Civil Municipal foi comunicada do ocorrido.
Matéria atualizada às 19:11, da terça-feira (11), para incorporação da resposta da mineradora.
Edição: Elis Almeida