O CEO pouco tem feito para garantir uma postura digna nesse momento em que se prepara para encerrar as suas atividades na cidade
Em 2022, a mineradora Vale completou 80 anos de fundação e, em Itabira, celebrou a data com uma apresentação da Orquestra Ouro Preto. E nada mais. Essa tímida comemoração é um retrato do descaso que a empresa costuma demonstrar com a sua terra natal — uma omissão que passa pelo seu presidente, Eduardo Bartolomeo. O CEO pouco tem feito para garantir que a multinacional tenha uma postura digna nesse momento em que se prepara para encerrar as suas atividades na sua cidade de origem.
Bartolomeo assumiu a presidência da Vale em 2019, pouco depois da tragédia de Brumadinho. No ano seguinte, em 2020, ele fez a sua primeira visita à Itabira, quando participou do “Encontro 360”, evento interno transmitido ao vivo para unidades da mineradora em todo mundo e realizado periodicamente em uma cidade que tem atuação da Vale.
Em 2021, Bartolomoneu retornou de maneira silenciosa ao município para um encontro “secreto” com o prefeito Marco Antônio Lage (PSB), que ainda iniciava o seu governo. A reunião aconteceu sem a presença da imprensa ou de terceiros — e pouca ação prática para Itabira aconteceu a partir disso. Desde então, parece que o presidente da Vale virou as costas para a cidade-berço da empresa.
De lá pra cá, a mineradora deu início ao processo de descomissionamento de barragens e diques no município, com forte impacto social nos bairros Bela Vista, Nova Vista, Jardim das Oliveiras e Praia, vizinhos ao Sistema Pontal. Os moradores dessas localidades, assistidos pela Assessoria Técnica Independente da Fundação Israel Pinheiro (FIP/ATI), relatam diariamente abusos cometidos pela empresa — seja pela falta de transparência no processo, pouco diálogo, imposição de medidas e diversas situações que afetam diretamente na rotina das pessoas que convivem com o temos de um possível rompimento dessa barragens.
O descaso com a comunidade itabirana prossegue em outras áreas, como os tremores de terra recorrente causados pelas detonações em suas minas e as constantes nuvens de poeiras que tomam os céus da cidade, causando inúmeros problemas de saúde à população — sem que uma solução definitiva para esse problema crônico seja apresentado.
Se não bastasse as questões socioambientais, a Vale pouco se esforça para oferecer uma alternativa para o desenvolvimento e diversificação econômica de Itabira. O projeto Unifei Itabira, uma das grandes apostas para o futuro da cidade, encontra-se paralisado, já que as obras de construção dos três novos prédios da universidade praticamente não evoluem devido a falta de repasses da mineradora — principal responsável por custear a iniciativa.
A multinacional comandada por Bartolomeo também se recusou a participar de um grupo técnico para discutir o fechamento de suas minas em Itabira. O grupo em questão foi criado pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema) para debater providências e ações para o período pós mineração no município. A recusa foi assinada por Daniel Argento Soares, coordenador de Relações Institucionais do Sistema Sudeste da Vale.
Todo esse descaso da empresa com a sua terra natal passa pelas decisões — ou falta delas — dos diretores responsáveis pela unidade do município, mas com a chancela de Eduardo Bartolomeo. O CEO da mineradora deveria ter a preocupação em tornar Itabira um case de sucesso nesse processo de transição econômica, que passa pelo fechamento das suas minas, demonstrando o interesse em reposicionar a marca e melhorar a imagem da multinacional após as tragédias de Mariana e Brumadinho. Porém, essa preocupação parece não existir.
Agora, a pergunta que resta é: quanto custará à Itabira a omissão de Eduardo Bartolomeo?
