11/12/2024
Na foto, o protesto aos acontecimentos que afetam diretamente o povo indígena, principalmente os que vivem próximo à região de Mariana, em Minas Gerais (Laura Di-Lua / Greenpeace)
Day Molina, estilista e criadora da marca Nalimo, leva a representatividade indígena e a luta em defesa do meio ambiente para o mundo da moda. Em sua segunda coleção, nomeada “Natureza Surreal”, ela valoriza a cultura dos povos originários e denuncia o silenciamento e violência que os atingem.
O desfile de lançamento das peças aconteceu no último dia 7 de dezembro, em São Paulo, no Vale do Anhangabaú, reunindo dezenas de ativistas. A coleção mostra como a moda pode ser muito mais do que estética, cumprindo também um papel político, social e cultural, trazendo beleza, design e um propósito consigo: promover a discussão sobre sustentabilidade e o bem-viver.
Ao unir arte, a defesa da biodiversidade, dos povos indígenas e periféricos, que estão na linha de frente na luta contra a crise climática, o evento trouxe visibilidade às lutas sociais e raciais, e destacou a impunidade de crimes socioambientais.
“Não temos tempo de olhar o mundo colapsando e pensar em uma nova tendência de moda. A forma como eu consigo dar vida prolongada às matérias-primas vai muito de encontro à pauta da questão climática”, comenta a estilista Day Molina.
Day Molina, estilista e criadora da marca Nalimo, conta um pouco sobre o propósito da coleção, que valoriza a cultura dos povos originários e denuncia o silenciamento e violência que os atingem (Laura Di-Lua / Greenpeace)
“9 anos de dor”
A ativista indígena Shirley Krenak foi convidada especial do desfile e denunciou a destruição do Rio Doce, o rio sagrado, o Rio Watu, chamando a atenção também para o abandono de governos e a impunidade das empresas culpadas pelo tragédia socioambiental em Mariana (MG) após o rompimento da barragem de Fundão, há 9 anos.
As mineradoras Vale, BHP e Samarco, além de outras sete pessoas, foram absolvidas pela Justiça no último mês. Saiba mais aqui.
O derramamento ainda traz consequências para os povos da região.
Na foto, Day Molina e Shirley Krenak em uma concentração que homenageia os costumes e a cultura indígena (Laura Di-Lua / Greenpeace)
“Diante de tudo que o meu povo passou e ainda passa, a gente ocupa alguns espaços relevantes para poder mostrar nossa indignação. Tem 9 anos que as nossas crianças não podem colocar o dedo na água; tem 9 anos que o meu povo não pratica o ritual sagrado da cura no nosso rio. Ele ainda continua morto. Ainda não foi realizada nenhuma ação para que esse rio possa fluir com a água limpa, porque as empresas não foram penalizadas por isso”, afirma Shirley.
“Nós, enquanto Krenak, enquanto indígenas, ocupamos esses espaços para mostrarmos para vocês que não é normal matar um rio e nem estuprar uma terra com minério, com lítio ou petróleo”, comenta.
Day Molina reforça a importância da participação indígena nesse espaço. “Nós precisamos proteger e olhar para todos os biomas, porque todos eles são importantes. Trazer a Shirley Krenak para o centro dessa conversa é dizer ‘Protejam a Mata Atlântica, olhem para o Rio Watu”.
Ao final do desfile, ativistas do Greenpeace Brasil participaram de um protesto com placas que deram luz às dificuldades enfrentadas pelos povos indígenas, cobrando responsabilização pela tragédia de Mariana e reforçando também a urgência da luta por justiça climática e o lugar de protagonismo das comunidades mais afetadas.
Modelos e ativistas levantando placas com dizeres de protesto às impunidades (Laura Di-Lua / Greenpeace)