24/10/2023
Dois anos se passaram quando estive em outubro de 2021, pela primeira vez, visitando as famílias indígenas lideradas pelo cacique Merong Kamakã Mongoió no vale do Córrego Areias, entre Casa Branca e Piedade do Paraopeba, emoldurada pela belíssima Serra da Moeda, no município de Brumadinho, MG.
Nos anos anteriores a essa Retomada, houve inúmeras denúncias e algumas reuniões na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e Mesas de Negociação junto ao governo do estado para tratar do descaso e do abandono que os indígenas em situação urbana estavam sofrendo. Sem solução, após uma série de discussões e reivindicações não atendidas, os indígenas que moram nas cidades e que possuem inúmeros problemas ligados à moradia, risco social, carência alimentar, hídrica e dificuldade de acesso às políticas públicas têm iniciado, desde 2018, processos de Retomada de territórios na Região Metropolitana de Belo Horizonte-RMBH.
É preciso levar em consideração a realidade na qual os indígenas em contexto urbano estão inseridos e os motivos que os levaram à migração para as cidades pode ser, às vezes, voluntária ou, quase sempre, forçada e, em muitas situações, envolve violação de direitos humanos dos Povos Indígenas, motivada pela expulsão de suas terras de origem, fuga de conflitos, ameaças, inseguranças econômica e alimentar, falta de trabalho, ausência ou precariedade de serviços básicos, tratamento de saúde, comercialização de artesanato, estudos, dentre outras tantas razões.
As ‘Lutas de Retomadas de Territórios’ são consideradas pelas lideranças indígenas e xamãs atos sagrados de recuperação de terras, lugares, águas e de vida, que lhes foram tirados pelos invasores colonizadores e pela expansão dos empreendimentos degradantes, como a mineração devastadora. Segundo o Cacique Merong Kamakã Mongoió, ele, guiado pelo Grande Espírito, sentiu que precisava voltar às terras ancestrais na região de Brumadinho, protegendo-as da destruição que a assola e a ameaça constantemente. Da mesma maneira, ocorreu a Retomada Xucuru Kariri, que guiados pelas forças ancestrais chegaram na antiga fazenda Bruma, este último local, próximo ao Paraopeba e à fazenda da Índia, em fevereiro de 2022.
Nas duas retomadas indígenas estão plantando frutas, hortaliças, ervas, milho, feijão, preservando as suas matas, animais, nascentes e seguem construindo casas em forma de mutirão para as suas famílias, bem como espaços escolares. As duas Retomadas indígenas de Brumadinho são importantes marcos para a história de longa duração em Minas Gerais e na Serra da Moeda, mas necessita do apoio da sociedade organizada e de moradores da região. Unamo-nos às Retomadas Kamakã Mongoió e Xucuru Kariri na proteção das terras, das serras, das suas águas sagradas, que emanam e que fortalecem a defesa dessa belíssima região, ameaçada constantemente pelo avanço da mineração e outras atividades degradantes, como loteamentos, obras viárias e o agronegócio.
[1] Membro do CEDEFES. Historiadora e Arqueóloga.