10/10/2022
Célia Xakriabá (PSOL-MG) foi uma das candidaturas eleita para Deputada Federal em MG que assinou tanto a carta-compromisso ‘Agroecologia nas Eleições’ como a carta-compromisso com o Cerrado e seus Povos – Arquivo Pessoal
A Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) divulgou na quarta-feira (5) o resultado relativo à campanha de mobilização Agroecologia nas Eleições 2022, uma iniciativa de incidência política que busca dialogar com as candidaturas federais e estaduais deste ano. Das 692 candidaturas que assinaram a Carta-Compromisso pela agroecologia em todo o Brasil, 153 foram eleitas neste primeiro turno – o equivalente a cerca de 22% do total de assinaturas coletadas.
“Essa mobilização teve uma importância muito grande de colocar a pauta da agroecologia no debate das eleições. Organizamos um processo ampliado, descentralizado no Brasil inteiro e coordenado nacionalmente no sentido de projetar as propostas da agroecologia no debate eleitoral. O número de adesões que conquistamos em todo o país mostra que esse esforço de diálogo foi bem sucedido”, avalia Flávia Londres, integrante da Secretaria Executiva da ANA.
Sudeste e Nordeste foram as regiões do país que escolheram mais candidaturas comprometidas com a agroecologia e a agricultura familiar, contabilizando 52 e 48, respectivamente. O Sul (35), o Centro-Oeste (10) e o Norte (8) aparecem na sequência. “Nós estamos muito felizes porque, com esse resultado, vamos começando a consolidar a formação de bancadas, tanto nos estados como no nível federal, comprometidas com a defesa de propostas que vimos construindo coletivamente ao longo de muitos anos”, afirma a representante da ANA.
Londres aponta ainda que a agroecologia contempla uma agenda que interessa a toda a sociedade e não somente a um nicho específico. “Nós estamos falando de segurança alimentar, crédito para a produção de alimentos saudáveis, combate aos agrotóxicos, de relações justas de trabalho, de defesa dos territórios, de defesa dos direitos da classe trabalhadora, das mulheres, direitos dos povos e comunidades tradicionais, direitos territoriais, saúde, combate à violência doméstica. É um leque muito amplo de temas que envolvem em alguma dimensão toda a sociedade”, afirma.
Do total de candidaturas eleitas, 64 se referem a deputados federais e 86 estaduais, além de dois governadores (Amapá e Maranhão) e uma para o Senado. O Partido dos Trabalhadores representa 70% das assinaturas coletadas, seguido do PSOL, com 15% e do PCdoB, com 5%. Outros partidos representam os 10% restantes. A lista completa das candidaturas eleitas comprometidas com a agroecologia está disponível no site da ANA.
Caminho até 30 de outubro
O segundo turno das eleições para definir quem ocupará o cargo de presidente do Brasil e de governador em 12 estados está marcado para 30 de outubro. O caminho até lá será de muito trabalho para organização e mobilização social, avalia Flávia londres.
“O desafio agora, não só para o movimento agroecológico, mas para todas as organizações que fazem parte da sociedade civil organizada no Brasil, é colocar a militância na rua e juntar todos os esforços possíveis para eleição do presidente Lula, para que a gente possa derrotar o fascismo e começar um processo de reconstrução do Brasil”, conclui.
Nesta mesma linha, segue o sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira, que considera o fascismo implementado no Brasil como um “fascismo de plataforma, articulado digitalmente e organizado pelos dutos dos mensageiros instantâneos”. Para ele, a articulação da sociedade é estratégia fundamental para combater o poder financeiro da extrema-direita neste segundo turno.
“Não será simples vencer o fascismo. Ele conta com muito dinheiro e com fazendas de cliques, milícias digitais e uma grande base de extremistas radicalizados. Nós somos a maioria e contamos com nossa força militante, ativista. Nós somos a linha de defesa democrática. Vamos avançar. Cada pessoa é decisiva”, convoca o sociólogo.
Cerrado nas Eleições
A Campanha Nacional em Defesa do Cerrado também divulgou na quarta-feira (5) que 72 candidaturas, de diversas regiões do país, assinaram a carta-compromisso com o Cerrado e seus Povos. A ação, fruto do esforço de uma coalização de mais de 50 organizações e movimentos da sociedade civil, povos e comunidades tradicionais do bioma, levou ao debate político eleitoral questões cruciais sobre o processo de ecocídio do Cerrado e genocídio de seus povos.
“Nossa carta explicita a urgente necessidade de revertermos este cenário de destruição e mortes que assola o Cerrado e seus povos. Em julho deste ano o Tribunal Permanente dos Povos (TPP) condenou o Estado brasileiro e empresas pelos crimes de ecocídio e genocídio que ocorrem no bioma. Diante disso, nossa ação buscou visibilizar e apresentar aos candidatos e à sociedade este veredito e recomendações concretas para frearmos esta catástrofe”, explica Joice Bonfim, secretária executiva da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado.
Candidaturas de 12 estados do país assinaram o compromisso com o Cerrado e seus povos. Destas, 18% foram eleitas para cargos no Poder Legislativo do país.
A recém-eleita deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG), liderança indígena com atuação no Cerrado mineiro e na Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), foi uma das candidatas signatárias da carta-compromisso cerratense, bem como da carta-compromisso Agroecologia nas Eleições.
“Mais do que nos colocar para transformação deste país a partir das estruturas de poder, nós mulheres indígenas viemos dar um recado para todo planeta: ainda dá tempo”, enfatizou Célia, em comunicação com seu eleitorado pelas redes sociais. “É mais do óbvio, que nós, o país com a maior biodiversidade do planeta, sejamos os protagonistas da virada de chave que precisamos para garantir a existência de um futuro”, destaca a deputada indígena.
*Rafael Oliveira é comunicador popular da Articulação Nacional de Agroecologia.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Nicolau Soares