Os Povos e Comunidades de Tradição Religiosa Ancestral de Matriz Africana (PCTRAMA) realizam no último sábado (20), um ato em defesa do meio ambiente e em prol da vida, em Juatuba. O ato foi um espaço de reivindicação, de luta por direitos negligenciados – desde o rompimento da barragem – e pela reparação integral do território, o Paraopeba e seu ecossistema, ancestral e sagrado.

Foto: Rurian Valentino/Aedas.

O PCTRAMA é uma articulação que reúne Unidades Territoriais Tradicionais (UTTs) dos municípios de Mateus Leme, Mário Campos, Juatuba, Igarapé, Betim e São Joaquim de Bicas, ambos duramente atingidos pelo rompimento da barragem, no Córrego do Feijão em Brumadinho.

“Nós estamos aqui hoje enquanto povos tradicionais de matriz africana demonstrando a nossa indignação, a nossa insatisfação com tudo o que aconteceu a partir do derramamento da barragem de Brumadinho. Essa manifestação dos PCTRAMA hoje, vem nesse sentido de denunciar tudo o que vem ocorrendo e de anunciar a coragem nossa de continuar na luta pela reparação total e por nossos direitos”, destacou Maria Silva Souza, ekedi e Ya Dagan no Ilê Axé Alá Tooloribi.

O ato foi mais um passo para o fortalecimento da auto-organização dessa articulação que está se tornando um grupo cada vez mais forte e unificado. Diversas representações das UTTs que são acompanhadas pela Aedas, lideranças de movimentos e organizações sociais da sociedade civil estiveram presentes. Segundo a organização, as Instituições de Justiça (IJs) foram convidadas e não responderam ao convite.

Foto: Rurian Valentino/Aedas.

“O ato em defesa do meio ambiente e do território ancestral dos Povos e Comunidades de Tradição Religiosa Ancestral de Matriz Africana – PCTRAMA foi um momento muito importante para visualizar na rua os pleitos deles, o acompanhamento constante desse grupo deixa negritado como o meio ambiente é parte fundamental dos Povos de Matriz Africana”, contou Beatriz Borges, coordenadora da equipe de Povos e Comunidades Tradicionais, na região 2.

O rio ainda corre…

O modo de vida, organização, subsistência ancestral dos povos e comunidades tradicionais tem como premissa a convivência equilibrada com a natureza, mesmo quando fazem uso dos recursos naturais não geram grandes impactos ao longo do tempo. Muito disso se deve ao fato de acreditarem que são parte integral da natureza e por tanto é possível entender como o meio ambiente adoecido impacta dessas pessoas especificamente.

Rio Paraopeba. Fotos: Rurian Valentino/Aedas.

O Babálorixa Marcílio, do Ile Àse Baba Jacunam em Juatuba destacou “a Vale cometeu um crime contra o meio ambiente, contra a natureza e nós PCTRAMA, povos de tradições de matriz africanas, nós temos uma ligação muito forte com o meio ambiente porque nossos Nkise, nossos orixás, nossos voduns, são forças, energia que emana da natureza, e se a gente acredita, cultua e manifesta essa energia pela natureza é porque a gente acredita que a ela está viva, que a energia que a gente tem vem dessa natureza”.

Foto: Rurian Valentino/Aedas.

Para muitas pessoas, a força da natureza é divina, e é nessa motivação que o PCTRAMA chama este ato, convocando todos e todas para se juntar e fortalecer a luta em defesa do meio ambiente e em prol da vida. “Porque para nós de matriz africana a natureza é os orixás, a vida no candomblé, no terreiro, ela acontece a partir da natureza, da água, do ar, do fogo, da terra, das folhas, então é isso que a gente está buscando hoje aqui e olha que vai ser o primeiro de muitos outros que virão”, Maria Silva Souza, Ekedi do Ilê Axé Alá Tooloribi.

O povo ainda luta

“É bom frisar que a luta é por direitos, mas a luta também é em defesa do meio ambiente, porque o desastre crime [do Córrego do Feijão] ele revela um racismo ambiental que impactam as comunidades em sua maioria pobres, as comunidades tradicionais, de matriz africana. A gente está em defesa da vida, de todas as vidas, inclusive aqui lembrar das 272 vidas que se perderam pelo interesse do capital”, contou o Ogan João Pio, do Ilê Axé Alá Tooloribi.

O ato foi finalizado com entrega da oferenda para Oxum/Ndandalunda no Rio Paraopeba.

Foto: Rurian Valentino/Aedas.

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Texto: Jaqueline dos Santos.