30/07/2021
Fonte:https://www.bomjesusdalapanoticias.com.br/bom-jesus-da-lapa/bom-jesus-da-lapa-sedia-encontro-da-economia-solidaria-de-mulheres-indigenas-com-apoio-da-cnbb/Promover a troca de experiências da economia solidária desenvolvida por comunidades indígenas de várias partes do país. Esse foi dos objetivos do encontro realizado em Bom Jesus da Lapa e que contou com a presença de mulheres indígenas de diversas etnias, com o tema: “Mulheres indígenas gerando renda com economia sustentável e comércio justo, na ótica do bem viver”, e pauta: “Troca de saberes, rodas de conversas, oficinas práticas e feira de comércio justo”.
Realizado pelo Cimi Regional Leste e com o apoio de Cáritas Alemã e da Diocese de Rotemburg, a ação começou na última quarta-feira(28), no espaço do CTL, e terminou nesta sexta-feira(30). Durante o período de evento foram apresentadas experiências[troca de saberes] com a realização de oficinas voltadas ao artesanato de cerâmica do barro, produção de sabonetes medicinais e confecções de biojoias [bijuterias e miçangas]. Todo material produzido foi expostos em uma “Feira da Economia Solidária e do Comércio Justos” no centro da cidade.
De acordo a liderança indígena Valdinete, Gendiba de Tupinambá, o Encontro da Mulheres do Regional Leste, realizado em Bom Jesus da Lapa, contou com a participação de mulheres de várias etnias, e foi um momento de troca de saberes. “Esse evento foi organizado por meio do CIMI – companheiros que vem nos acompanhando na luta pelo nosso território e pelo nosso bem viver, de nossas raízes, de nossas culturas, de nossa ciência há muitos anos. O evento foi muito produtivo, onde nós mulheres conseguimos passar os nossos conhecimentos, nossos saberes de uma para a outra, de cada aldeia com sua cultura, com sua ciência, com sua vivência diferente uma da outra, mas que junto vivemos uma mesma coisa, falamos a mesma língua e pisamos em um só rastro”.
“E essa luta que a gente vem vivendo é para a revitalização da nossa verdadeira identidade, de o quanto nosso povo, de todas as etnias, ter o nosso fortalecimento da nossa identidade. Para que o homem branco – para que os governantes não venham dizimar o nosso povo – não venham dizimar a nossa cultura”, disse.
Valdidente disse ainda, que a luta dos povos indígenas busca mostrar para os governantes que eles podem criar a lei que eles quiserem, a exemplo da PEC-490, como também o “marco temporal”, mas o que vale mesmo no Brasil é o “marco temporano” que é a vivência e a resistência de um povo que com seu sangue guerreiro jorrando na veia que nunca deixaram de ser no seu território o povo Tupinambá e povo Pataxó e vários outros povos que estão participando da ação em Bom Jesus da Lapa. Esse encontro pra mim foi um encontro muito rico, encontro onde nós botamos pra fora tudo que sentíamos, e divulgamos as nossas ciências que existiam dentro do nosso ser, do ser de cada uma”, finalizou.
O Bispo da Diocese de Bom Jesus da Lapa, Dom João Cardoso, que esteve presente no encontro, afirmou que ficou muito impressionado com o nível da organização, discussão e cuidado que as representações discutiram e aprofundaram o estudo da economia solidária, conciliando a economia[geração de renda] com princípios que são de muita importância como o do valor da pessoa humana, a cultura indígena e os seus valores que marcam sua tradição. “Me chamou muita atenção esse elemento, porque assim, percebi que é possível falar de economia a partir de princípios solidários em que ao mesmo tempo se valoriza as tradições culturais e abre perspectivas para o novo e o compromisso com a sociedade democrática que respeita o direito de todos, inclusive dos povos indígenas, cuja a voz muitas vezes no contexto em que nós estamos vivendo, são sufocadas” , disse.
Dom João destacou, que o atual modelo busca com que o índio abandone as suas raízes culturais a todo custo e assuma todos os valores da cultura ocidental, especialmente da cultura moderna ou pós-moderna do consumismo em que a natureza é transformada simplesmente em objeto. E que ter visto no encontro de mulheres indígenas, com representações de várias etnias, fazendo o repasse de conhecimento entre si, preocupadas em harmonizar a economia [desenvolvimento] com determinados princípios, chamou muita atenção. Vejo que é preciso de fato apoiarmos e fazermos com que a voz desses povos de fato ecoe para que repercuta em toda a sociedade”.
Já Domingos Andrades, que faz parte da Coordenação Colegiada do CIMI, Regional Leste, afirmou que o evento realizado em Bom Jesus da Lapa buscou valorizar muito mais sobre a questão da economia solidária dos meios sustentáveis que as comunidades indígenas vêm promovendo, fazendo com que a renda ela aconteça de forma bastante voltada também a causa ambiental. “Então, é uma questão que gera renda, é uma questão ambiental e, que move a questão da economia local – esses elementos são importantes”, disse.
Domingos lembrou que no primeiro ano de pandemia, em 2020, muitas comunidades indígenas se insolaram para se proteger da contaminação devido a uma falta de uma política do Governo Federal de proteção direcionadas para essas minorias[povos indígenas]. Com isso essas comunidades potencializaram ainda mais aquilo que eles já faziam, sem perder a sua cultura e as suas raízes”.
O Encontro e as oficinas visaram apoiar e fortalecer ações e iniciativas sustentáveis dos Povos Indígenas e das populações tradicionais, que contribuam para o fortalecimento da autonomia, controle social e gestão dos seus territórios. Também tem o objetivo de dar visibilidade ao processo organizativo das mulheres indígenas, bem como o fortalecimento das suas lutas e o intercâmbio interétnico.
Para o Cimi Leste esta atividade de retomada da presença mais próxima das comunidades de forma gradual, cuidadosa e dialogada, tem também o caráter de perceber e apontar caminhos para a superação deste momento pandêmico, que ainda persiste.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dão conta de que a Bahia possui a maior população indígena do Nordeste e assume a terceira posição no ranking nacional. O Estado conta com 143 comunidades distribuídas em 33 municípios, com 22 etnias reconhecidas. A Comunidade Pataxó é considerada a mais populosa, com 11.942 (21,0% do total).