02/12/2020
A entidade cobra explicações do país acerca das violações dos direitos humanos das famílias Sem Terra, que resistiram por 56 horas ao despejo em plena pandemia
Mesmo com a pandemia Governador de Minas Gerais autorizou despejo das famílias. (Foto: Setor de Comunicação MG )
Nesta segunda feira, 30, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) notificou o Estado brasileiro para que apresente explicações sobre o despejo das famílias do Acampamento Quilombo Campo Grande, em Minas Gerais. A notificação é resultado do pedido de medidas cautelares apresentado à CIDH em favor das famílias Sem Terra e denunciando a arbitrariedade do governo do estado, Romeu Zema (Novo) e do governo Bolsonaro.
Para Silvio Neto, da Direção Nacional do MST, essa notificação é fundamental para garantir que o Estado não cometa mais crimes como este e contenha seu autoritarismo no país. “Nossa expectativa é de que o Estado brasileiro, o governo e o judiciário nunca mais cometam despejos violentos como esse no Acampamento Quilombo Campo Grande. Esse conflito demonstra a necessidade da Reforma Agrária em nosso país. São 90 mil famílias acampadas pelo Brasil que precisam ter seu direito de acesso à terra garantido.”
O despejo do Acampamento Quilombo Campo Grande, no Sul de Minas, foi o mais longo do século XXI no Brasil. Uma operação programada para começar e terminar na manhã da quarta-feira (12), tornou-se uma saga que deixa profundas marcas nas lutas sociais do estado. Por 56 horas, famílias Sem Terra resistiram pacificamente à pressão da Polícia Militar, dia e noite, no meio de uma estrada, sob o sol forte e o frio da madrugada, respirando poeira e ouvindo ameaças.
Realizado em meio à pandemia, com as autoridades sanitárias recomendando evitar aglomerações, o Governo de Minas Gerais despejou violentamente 14 das 450 famílias acampadas. Este foi o 12º despejo na trajetória do local, uma área com 11 acampamentos, mais de 2 mil pessoas, produtora anual de mais 500 toneladas de café e outros alimentos livres de agrotóxicos.
Durante o despejo, a Polícia Militar utilizou violência física e psicológica contra as famílias camponesas. Utilizando bombas de efeito moral, um grande contingente policial, armamento pesado e inclusive, um helicóptero para jogar poeira e fuligem sobre as famílias Sem Terra. Além disso, a Polícia também destruiu a Escola Popular Eduardo Galeano, que servia para a promoção da educação de crianças, jovens e adultos do acampamento.
*Editado por Solange Engelmann