Cacique baleado na Bahia é doutor por notório saber pela UFMG

22/01/2024

Fonte:https://www.otempo.com.br/brasil/cacique-baleado-na-bahia-e-doutor-por-notorio-saber-pela-ufmg-1.3316314

Nega Pataxó, irmã do indígena Nailton Pataxó, foi morta em ação de fazendeiros neste domingo (21/1)

Cacique Nailton Pataxó foi baleado durante ação de fazendeiros; sua irmã Nega Pataxó morreu durante ataque

Cacique Nailton Pataxó foi baleado durante ação de fazendeiros; sua irmã Nega Pataxó morreu durante ataque — Foto: X @clari_ci e @erahsfeliz/Reprodução

O cacique Nailton Pataxó, indígena baleado em um ataque violento de fazendeiros na Bahia neste domingo (21/1), foi titulado como Doutor por Notório Saber pela Universidade Federal de Minas Gerais em 2022. O reconhecimento o habilitou para lecionar na instituição. Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, ele foi atingido no rim e atendido no Hospital Cristo Redentor, em Itapetinga. Lideranças de entidades em defesa da causa indígena informaram que ele está estável após cirurgia.

Nailton vive na terra Caramuru Paraguassu (BA), em Potiraguá, onde luta pela recuperação dos territórios de onde seus parentes foram expropriados por fazendeiros, além de trabalhar na formação de lideranças políticas do povo Pataxó Hã Hã Hãe.

Nesse domingo, a ação de fazendeiros terminou com a morte da irmã de Nailton, Maria de Fátima Muniz, conhecida como a Pajé Nega Pataxó. Ela chegou sem vida à unidade básica de saúde da cidade de Potiraguá.

Entre os feridos está uma mulher que teve o braço quebrado. Outros indígenas também foram hospitalizados, mas não correm risco de morte.

 

O cacique Nailton Pataxó em recuperação após ser baleado

 

O cacique Nailton Pataxó em recuperação após ser baleado. Foto X @erahsfeliz /Reprodução

Ação foi mobilizada por fazendeiros pelo WhatsApp

O Ministério dos Povos Indígenas afirma que a ação foi mobilizada por cerca de 200 fazendeiros em trocas de mensagens no WhatsApp. Segundo a pasta, o grupo tentou recuperar a posse de propriedade de uma fazenda na cidade de Potiraguá sem decisão judicial.

Os ruralistas cercaram os indígenas com dezenas de caminhonetes. A ação para expulsá-los foi realizada pelo grupo autointitulado “Invasão Zero”, que disse no chamado no WhatsApp que faria uma ação “ordeira e pacífica”.

Dois fazendeiros foram presos sob a suspeita de terem atirado, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP). Eles portavam armas de fogo no momento da detenção.

“Os fazendeiros chegaram atirando. Na confusão, quem conseguiu fugiu. Meu filho e minha neta estão entre os que ainda não apareceram”, disse Manoel Muniz, irmão de Nega Pataxó e do cacique Nailton Pataxó.

Moradores interditaram BR em protesto

Nesta segunda-feira (22/1), cerca de 500 famílias integrantes do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), interditaram trechos da BR-101, no Sul da Bahia.

O protesto contra a morte de Nega Pataxó ocorreu nos municípios de Teixeira de Freitas, Itamaraju e Itabela. Os manifestantes cobravam celeridade na investigação do caso. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, a rodovia foi liberada após uma hora de interdição.

Em carta direcionada aos indígenas da etnia Pataxó, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa  (INCTI)-UnB e a Comissão Coordenadora da Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG lamentaram a morte da Pajé Nega Pataxó e o ataque a Nailton e outros indígenas.

“Liderança política e intelectual de convicção inabalável na legitimidade dos direitos de seu povo, assim como de todos os povos indígenas do Brasil, Nailton tem atuado durante décadas, e sobretudo no contexto da Constituinte em 1987 na defesa dos direitos humanos, com profunda sabedoria. […] A Pajé Nega Muniz Pataxó nos deixa muito cedo. Empenhada na retomada – que não significa apenas a entrada na terra, mas sustentar e fertilizar a vida nela de novo e em longa duração – era liderança espiritual e realizava um trabalho muito importante de mobilização da juventude e de defesa das mulheres indígenas.”, destacaram.

(Com Folhapress)

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