08/10/2018
Carta ao Povo Mineiro
“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores,
matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil
deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso
medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.”
Eduardo A. Costa. No caminho com Maiakóvski.
A eleição presidencial entrou nos dias decisivos. Face à grave situação do Brasil e
às características de Jair Bolsonaro, a Comissão da Verdade em Minas Gerais – órgão
não de governo, mas de Estado, cuja finalidade legal se realizou em fevereiro – pronuncia-se
em nome de seu trabalho, lembrando a galeria infindável de horrores comprovados
em sua apuração e coerente com as conclusões de seu Relatório Final.
O candidato da extrema-direita, em 30 anos de mandatos, nunca votou em projetos
de lei favoráveis às classes populares e sempre aprovou políticas em benefício dos magnatas
e poderosos. Ademais, sua carreira parlamentar primou por atos e declarações truculentas
contra mulheres, negros e outros segmentos discriminados.
O candidato que defende o golpe de 1964, com os seus crimes – torturas, assassinatos,
perseguição aos oposicionistas, ataque às universidades, intervenções nas entidades
sindicais e eliminação das liberdades democráticas –, prega o retorno ao regime ditatorial-militar
que mergulhou a Nação no seu período mais sombrio.
O candidato vassalo da geopolítica estadunidense quer privatizar as empresas estatais,
eliminar as conquistas trabalhistas, destruir a Previdência e acabar com as políticas
sociais. Confunde segurança pública com extermínio e guerra civil. Pretende suprimir o
regime democrático, os direitos fundamentais e as liberdades civis.
O candidato que prega o ultraliberalismo econômico, o entreguismo antinacional, o
reacionarismo político, o obscurantismo cultural, o falso-moralismo conservador e a intolerância
perante as diferenças, também pratica métodos fascistas de ação, como preconceito,
intimidação, mentira e ódio a tudo que discrepa de seus dogmas.
O candidato que tenta enganar algumas parcelas da população e transformar o
Governo em arma para submeter a si o Congresso, o Judiciário, os Entes Federativos e
as próprias Forças Armadas – tornando-as uma turba policialesca à margem do profissionalismo
e da legalidade – tem como propósito a instauração do arbítrio.
Portanto, este momento exige a união dos democratas e progressistas, para além
dos partidos, ideologias, doutrinas políticas e opiniões individuais. Para quem defende os
direitos humanos e demais interesses populares, a única opção civilizada e sensata à crise
político-institucional é barrar já, nas urnas e nas ruas, o plano despótico em curso. As
hordas liberticidas não roubarão de novo “a flor do nosso jardim”.
Belo Horizonte, 8 de outubro de 2018,
Comissão da Verdade em Minas Gerais