Hoje, 25 de janeiro de 2023, recordamos de forma especialmente pesarosa as 272 vítimas mortais  da tragédia de Brumadinho. Estas “joias”, como são denominadas de forma carinhosa e honrosa por seus entes queridos, perderam suas vidas num abrir e fechar de olhos, sem oportunidade de uma despedida, de um último suspiro, de um último abraço, de um último agradecimento. Para além da tremenda dor de perda, também um profundo sentimento de revolta se alastra ao pensar neste trágico acontecimento. A dura verdade é que ele poderia ter sido evitado e, como tal, tem de ser designado como “crime”. Partilhamos junto com os familiares das vítimas, a população de Brumadinho e nossas organizações parceiras na região a angústia de ainda não terem sido tomadas as devidas medidas de responsabilização das pessoas, que negligenciaram seus deveres,
permitindo que este crime ocorresse.

Como é de conhecimento geral, em outubro de 2019, entregámos juntamente com familiares das vítimas e o ECCHR uma queixa criminal no Ministério Público de Munique contra a empresa Tüv Süd, que quatro meses antes do rompimento da barragem tinha atestado a sua estabilidade. Por parte da procuradora responsável foi anunciado, que nas próximas semanas será tomada uma decisão em relação a este caso: No sentido da formalização de uma acusação ou encerramento do processo. Para a população de Brumadinho queremos deixar claro: Independentemente do desfecho, continuaremos ao lado de vocês e não nos contentaremos com uma falta de reconhecimento oficial da responsabilidade da Tüv Süd. Lamentamos a morosidade deste processo, que muito se deve a complexidade da temática e ao elevado número de atores envolvidos. Nossa esperança é que os três anos que passaram desde a denúncia, tenham contribuído para a recolha de provas suficientes e a consolidação da suspeita de culpabilidade da empresa. “Morosidade” é uma palavra que também acertadamente descreve o andamento do processo penal no Brasil. Lamentamos profundamente a recente decisão do Supremo Tribunal Federal em determinar a Justiça Federal como competente para este processo. Notícia desalentadora para as famílias das 272 joias, que há
quatro ano esperam por respostas e para as quais esperar por uma coisa nada lhes adianta: 0 retorno dos seus mais amados.

A este trágico fato se somam outros tantos aspetos, que causam em nós estupefação: A contaminação da população de Brumadinho com metais pesados, a perspectiva de uma série de novos processos de licenciamento para projetos minerários e a confirmada instabilidade de um número abismal de barragens. Reafirmamos clara e nitidamente nossa determinação e empenho em trazer luz e justiça neste caso e de apoiar nossos parceiros e parceiras nesta espinhosa caminhada. Na caminhada específica do dia de hoje, a memorável “IV Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho”, assinalaremos nossa solidariedade com nossa presença física.

Representantes de Misereor caminharão ao lado do povo, “não largando a mão de ninguém” e reforçando o apoio da cooperação internacional.

Brumadinho_2023-01-24

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