08/04/2022
Nós, povos e comunidades tradicionais, movimentos sociais e populares, organizações da sociedade civil, viemos a público manifestar nosso repúdio e discordância com a resolução do Governo Zema publicada dia 05 de abril de 2022 no Diário Oficial do Estado de Minas Gerais.
Essa Resolução, criada de forma conjunta entre as Secretarias Estaduais de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) e de Desenvolvimento Social (SEDESE), *fere princípios básicos de participação e da Convenção 169*. A Convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT), internalizada no ordenamento jurídico brasileiro por meio do Decreto 5.051, de 19 de Abril de 2004, tem por objetivo ser um instrumento de proteção e salvaguarda dos direitos de povos e comunidades tradicionais, garantindo-lhes, dentre outros, o direito à autoatribuição, o direito à consulta e de participação da tomada de decisões que possam trazer impactos ao seu modo de vida.
Vivenciamos atualmente, em Minas Gerais, uma ofensiva do setor mineral para ampliar suas atividades em todas as regiões, gerando danos e conflitos com populações e povos tradicionais em todos os cantos do estado. Esta resolução do Governo Zema vem, portanto, para acelerar os grandes projetos de morte, como o projeto Bloco 8 da empresa Sul Americana de Metais (SAM), que representa a confirmação de um modelo de exploração mineral que já deu mais do que suficientes provas de falência e caos, que provocou catástrofes criminosas e impunes como as ocorridas em Mariana (2015) e Brumadinho (2019).
A própria elaboração da Resolução nº 01/22, sem consulta e participação anterior, viola o direito da participação dos povos e comunidades tradicionais, já que a Convenção 169 OIT fala que devem ser consultados toda vez que haja medida legislativa ou administrativa capazes de afetá-los. A Resolução é um ato que afeta todos os povos e comunidades tradicionais do Estado.
Segundo o que prevê a Resolução, inclusive, esses povos e comunidades tradicionais ficariam à mercê, inclusive, de estudos e da “boa fé do empreendedor”, em alguns casos.
A Resolução abre brechas para ainda mais violências empresarial e estatal. Em diversas regiões onde há grandes empreendimentos temos casos de povos e comunidades ameaçados e perseguidos pelas empresas, e essa Resolução injusta confirma a irresponsabilidade do Estado e sua clara intenção de violar os direitos das comunidades.
Outro aspecto inconcebível previsto na Resolução é permitir que empresas que já possuem interesses pelo empreendimento façam a consulta! O Governo Zema permitindo isso, além de ferir de morte toda a legislação sobre o tema e a própria Convenção 169 da OIT, deixa nítido suas intenções de favorecimento às empresas e limita, intimida a liberdade de consulta livre, prévia e informada para as populações tradicionais. Não podemos permitir que antes do empreendimento ser licenciado a empresa já comece a atuar no território. Dessa forma não há um processo de consulta livre e independente.
A Resolução também prevê que, não havendo consenso na Consulta junto aos Povos e Comunidades Tradicionais, a decisão final não será dos Povos, e sim, da SEMAD, mesmo que os povos e comunidades consultados neguem a aprovação do empreendimento.
São impostos prazos absurdos e inconcebíveis que violam o caráter livre e informado da consulta, quando por exemplo a Resolução prevê 45 (quarenta e cinco) dias corridos para a elaboração de Protocolos de Consultas e 120 (cento e vinte) dias para a conclusão da consulta. Entendemos, assim, que essa Resolução é mais uma manobra do Governo Zema, a serviço dos grandes empreendimentos, das mineradoras e empresas do setor de energia, para criar uma aparência de diálogo. A verdade é que ela é violenta e retira os direitos dos povos e comunidades tradicionais. Essa ação de guerra do Governo Zema deve ser enfrentada por toda a sociedade que luta pela água, natureza, defesa dos territórios e direitos dos povos.
Por isso exigimos a revogação desta resolução, respeito aos povos e comunidades tradicionais de Minas Gerais, respeito à Convenção 169 OIT e aos direitos nela previstos. A Constituição Brasileira deve ser respeitada!
Revogação Já!!
Assinam:
1 – AJAMBASA – Associação de Jangadeiros Artesanais do Município de Barra de Santo Antonio-AL
2 – Aldeia Katurama – Povos Indígenas Pataxó Hã Hã Hãe e Pataxó
3 – Articulação Pacari Raizeiras do Cerrado
4 – Articulação Rosalino Gomes de Povos e Comunidades Tradicionais
5 – Associação Central das Comunidades Veredeiras – ACEVER
6 – Associação comunitária e Quilombola de Três Barras, Buraco e Cubas
7 – Associação dos Moradores de Bonito e Cancela
8 – Associação dos Moradores de Bonito e Cancela
9 – Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Córrego da Batalha
10 – Associação dos Remanescentes da Comunidade do Quilombo Peixe Bravo
11 – Associação Guardiões da Serra do Quilombo de Raiz
12 – Associação Retireiros e Retireiras do Araguaia – ARA
13 – Colônia de pescadores e Aquicultores z-2 de Januária
14 – Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas – CONFREM Alagoas
15 – Conselho Intermunicipal Comunitário do Território Tradicional Geraizeiro do Vale das Cancelas
16 – Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais – MPP
17 – Movimento Geraizeiro
18 – Povo Indígena Aranã Caboclo
19 – Povo Indígena Pankararu/Pataxó da Aldeia Cinta Vermelha/Jundiba
20 – Povo Indígena Xakriabá
21 – Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneira
22 – Rede de Mulheres Pescadoras da Costa dos Corais
23 – Rede de Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil – REDE PCTS DO BRASIL
24 – Rede ĶÔDYA/ Rede Organizada da Diáspora Africana Direito Alimentação
25 – Rede Puxirao Faxinalense do Estado do Paraná
26 – Retomada Aldeia Arapoã Kakya do Povo Indígena Xukuru-Kariri
27 – Retomada Indígena do Povo Kamakã Mongoió
28 – Vazanteiros em Movimento
29 – Articulação Antinuclear Brasileira e Associação Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania
30 – Articulação das CPT’s do Cerrado
31 – Articulação POMERBR
32 – Articulação Popular São Francisco Vivo
33 – Associação Nacional Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu/ACBANTU.
34 – Brigadas Populares
35 – Campanha Nacional em Defesa do Cerrado
36 – CDDH Dom Tomás Balduíno de MARAPÉ-ES
37 – Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva – CEDEFES
38 – Codecex
39 – Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular
40 – Coletivo oVelho Chico Vive
41 – Comissão Pastoral da Terra – CPT
42 – Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos
43 – Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduino
44 – Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração
45 – Conselho Comunitário de Segurança Pública Distrital do Vale das Cancelas (CONSEP)
46 – Conselho Indigenista Missionário – CIMI
47 – Conselho Pastoral dos Pescadores – CPP
48 – Coordenação Nacional de Articulação de Comunidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ
49 – Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais – N’Golo
50 – FIAN Brasil – Organização pelo direito humano à alimentação e à nutrição adequadas
51 – Fórum das Entidades e Movimentos Sociais do Vale do Jequitinhonha
52 – Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais
53 – Grupo Tortura Nunca Mais Bahia
54 – Instituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos Sociais – IPDMS
55 – Irmãs Franciscanas Missionárias Diocesanas da Encarnação
56 – Laboratório de Educação Ambiental e Ecologia Humana – LEAEH/Unimontes
57 – Mandato da Deputada Federal Áurea Carolina (PSOL/MG)
58 – Mandato Deputada Estadual Leninha (PT/MG)
59 – Mandato do Deputado Federal Rogério Correia
60 – Movimento de Atingidos por Barragens – MAB
61 – Movimento de Mulheres Camponesas – MMC
62 – Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
63 – Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH Brasil
64 – Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM
65 – NEABI IFNMG Campus Araçuaí
66 – Núcleo Interdisciplinar de Investigação Socioambiental – NIISA/Unimontes
67 – Observatório das Relações Étnico-raciais da Unimontes
68 – Observatório dos Vales e do Semiárido Mineiro – UFVJM
69 – Rede Igrejas e Mineração – Minas Gerais
70 – Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares – RENAP
71 – Terra de Direitos
72 – Povo Indígena Krenak
73 – APIG (Associação dos ilhéus Atingidos pelo Parque Nacional de Ilha Grande e APA Federal do Rio Paraná)
74 – Central Única dos Trabalhadores – CUT
75 – Sindicato Único do Trabalhadores em Educação de Minas Gerais – Sindiute
76 – Associação Comunitária e Cultural Quilombola Povo Unido do Baú
77 – Associação Comunitária Quilombola Unidos de Candeias
78 – Mandato Deputada Estadual Beatriz Cerqueira (PT)
79 – Mandato coletivo e participativo do deputado federal Padre João-PT/MG
80 – Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais – Sindieletro
81- Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos – MTD
82- Mandato do Deputado Federal Patrus Ananias
83- Mandato Parlamentar Vereadora Karine Roza (PT – Serro)
84- Associação Comunitária Cultural Quilombola Ausente Feliz
85- Associação dos Moradores da Comunidade Quilombola Vila Nova
86- Cáritas Brasileira