“Reivindicamos o retorno da gestão comunitária da Água pela Comunidade do Tejuco e a proteção das nossas nascentes.”

A comunidade do Tejuco, atingida e golpeada pelo crime da mineradora Vale S/A, em Brumadinho, MG, iniciou hoje, dia 21 de novembro de 2022, desde 4 horas da madrugada o bloqueio de todas as entradas da comunidade. A luta é contra o Acordo entre Ministério Público de MG, Vale S/A e Prefeitura de Brumadinho que impõem a entrada da COPASA, Companhia de Água e Saneamento do estado de Minas Gerais. A comunidade defende a revitalização e proteção das nascentes históricas que estão cobiçadas pelas mineradoras. A comunidade está disposta a manter o bloqueio até que suas demandas sejam atendidas. Em defesa das condições objetivas de vida e das Águas no Tejuco. Esta mobilização é em defesa dos direitos da comunidade e do meio ambiente, ameaçados pelo avanço desenfreado das empresas do setor de mineração e pela política de reparação do crime da mineradora Vale S/A.

Há muitos anos, nossa comunidade sofre com os impactos desumanos dos empreendimentos minerários. O que começou pequeno, tornou-se grande e coloca, neste momento, a vida, a saúde e o bem viver das pessoas em risco grave.

Com o crime da Vale S/A e do Estado em 25 de janeiro de 2019, as condições de existência tornaram-se inviáveis. Querem nos expulsar daqui, mas vamos resistir. Somos uma comunidade em processo de reconhecimento enquanto comunidade tradicional.

Nossos reservatórios comunitários de água foram contaminados e assoreados pela ação de mineradoras. Ficamos sem acesso à água, apesar de sermos dotados de várias nascentes nos arredores. Adoecemos física e emocionalmente. Sentimos coceiras, sofremos com vômito, dores intestinais, diarreias e temos manchas na pele em várias partes do corpo.

A mineradora Vale só reconheceu os danos à comunidade após dois anos de muita luta. As instituições de Justiça foram omissas, cúmplices, melhor dizendo.

Em janeiro de 2022 foi firmado um Termo de Compromisso (TAC Água) entre a Vale S/A, COPASA, MP/MG, DPE/MG e AECOM, sem a participação da comunidade. O Compromisso não atendeu as reivindicações comunitárias.

Não queremos a COPASA aqui na nossa comunidade do Tejuco. Denunciamos que, por detrás de um argumento dito técnico, se está vendendo uma solução benéfica apenas às mineradoras da região, querem avançar invadindo nossas nascentes e território.

Denunciamos que o Ministério Público de Minas Gerais está complacente com as violações de direitos das mineradoras em Brumadinho!

Querem nos fazer pagar pela água, nos desconectar das nascentes e serras, para deixar a mineração à vontade para seguir devastando nosso território e as fontes d’água. Isso é vergonhoso e inaceitável.

Depois de matarem 272 joias e depois outra joia, de contaminarem as nascentes e o rio Paraopeba, nos deixarem contaminados por altas concentrações de metais pesados que podem provocar até câncer, agora insistem em desmatar para construir novas estradas de mineração, querem fazer outra pilha de rejeitos em nossa comunidade, querem novas licenças ambientais para destruírem a Serra do Carrapato e o Pico dos Três Irmãos. Isso tudo é criminoso, absurdo inaceitável.

Reivindicamos o retorno da gestão comunitária da Água pela Comunidade do Tejuco e a proteção das nossas nascentes. Não queremos a COPASA em nossa comunidade, queremos ser ouvidos e o TAC água deve ser revisto imediatamente. Ainda, a tentativa de implantar novas pilhas de rejeitos da Mineral do Brasil e a exploração da mineradora LARF/MIB devem ser embargadas e extintas. Exigimos que a mineração respeite a vida na nossa comunidade do Tejuco! Nossa comunidade deve ser protegida de tanta destruição. Nosso direito às condições objetivas de Vida deve ser respeitado!

Assina esta nota:

Comunidade tradicional do Tejuco, de Brumadinho, MG.

Apoio: Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG)

Brumadinho, MG, 21 de novembro de 2022.

Comunidade do Tejuco bloqueia acessos e exige retorno da Gestão Comunitária da Água em Brumadinho/MG