14/11/2022
Pautas de justiça racial ambiental foram levadas para a 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 27. A Coalizão Negra por Direitos, organização que reúne mais de 250 associações, ONGs, coletivos, grupos e instituições do movimento negro, levou o debate da redução do racismo ambiental para a COP 27, edição que ocorre entre os dias 6 e 18 de novembro, na cidade de Sharm El Sheikh, no Egito.
A discussão da temática do racismo ambiental pauta reconhecimento e valorização de territórios quilombolas; implantação de metas ambientais que levem em conta ameaças à população negra, intensidade das chuvas e seus impactos em territórios periféricos e racismo religioso. Além da resistência de mulheres negras frente à mudança do clima são discussões durante a programação.
Para a Coalizão Negra por Direitos, o debate racial deve estar no centro da negociação climática e o que ainda não encontra ampla adesão – ou ainda é negado pelos movimentos ambientalistas. A ideia é amplificar a urgência desse assunto, uma vez que as mudanças climáticas afetam diretamente os territórios periféricos.
“Nesta edição da Conferência, que tem como foco a implementação de metas ambientais, o movimento negro leva a importância da redução de desigualdades para a justiça ambiental. São duas agendas que não podem andar separadas para o enfrentamento da crise climática. Portanto, os questionamentos que levaremos envolvem a implementação que precisamos”, avalia Diosmar Filho, geógrafo, doutorando em Geografia na Universidade Federal Fluminense.
Integrantes da Coalizão Negra Por Direitos realizaram evento no espaço Brazil Climate Action, na terça-feira passada, 8, com o tema “O racismo ambiental e a emergência climática: vivências negras e interseccionalidades”. O momento consistiu em um debate para aprofundar a denúncia sobre o racismo ambiental no Brasil.
Participaram os palestrantes Douglas Belchior, cofundador da Uneafro Brasil e da Coalizão Negra Por Direitos; Sheila de Carvalho, diretora de Incidência Política do Instituto de Referência Negra Peregum; e os coordenadores nacional e executivo da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), Kátia Penha e Biko Rodrigues.
Para Douglas Belchior, o legado de exploração da população negra e dos povos originários brasileiros, gerou uma sociedade totalmente estruturada no racismo, e a crise climática impacta diretamente essas populações. “Negar o racismo ambiental é negar que o Estado brasileiro é racista. É negar a história de urbanização do país e suas profundas desigualdades territoriais”, avalia.
Sheila de Carvalho observa que sendo os territórios em que a maioria da população é negra são alvos da destruição ambiental no Brasil, seja no campo ou na cidade, não existem ainda políticas públicas de mitigação às mudanças climáticas por parte do Estado.
“Infelizmente, essa realidade não é presente apenas no Brasil, mas sim em todo o Sul Global, o qual sente os impactos das desregulações do clima de forma mais intensa. Essas disparidades estruturantes afetam as regiões da América Latina”, complementa Sheila de Carvalho.
Foto de capa: Fael Miranda.