01/09/2021
Fonte:https://agroecologia.org.br/2021/08/26/agricultura-do-encantamento-receitas-e-historias-da-comida-como-identidade-olhares-das-juventudes-sobre-seus-territorios/GT Juventudes da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), lança livro com mais de 16 receitas de comidas tradicionais
Para inúmeros povos indígenas, pretos e camponeses do Brasil e do mundo, a agricultura é parte encantada de uma extensa rede de manifestações ancestrais interligadas entre si que sustentam a vida.
Preparar a comida, enquanto um ritual, é pensar nas inúmeras conexões que se estabelecem da conservação das sementes crioulas e do plantio até as tradições de preparo e os momentos de partilha de cada refeição. O que as juventudes teriam a dizer sobre isso? Como falar de agroecologia e democracia unindo campo e cidade, a partir das cozinhas espalhadas por todo o Brasil?
Organizado pelo Grupo de Trabalho (GT) de Juventudes da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) nos primeiros meses do ano de 2021, a pedra inicial que dá origem a este livro já havia sido lançada há tempos. Esta publicação é fruto da articulação de muitos desejos.
Este livro é parte das ações e processos gerados a partir do Projeto “Comida de Verdade nas Escolas do Campo e da Cidade”, uma iniciativa de pesquisa-ação sobre a inserção de produtos da agricultura familiar e agroecológicos na alimentação escolar brasileira, um dos critérios de aquisição previstos no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O projeto Comida de Verdade nas Escolas do Campo e da Cidade está sendo desenvolvido pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), juntamente com o Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), outras organizações parceiras.
Articulado a uma oficina de preparação de receitas realizada para promover o intercâmbio entre jovens de diversos territórios do País e a formação técnica no preparo dos alimentos, o livro registra as trocas de saberes e práticas tendo a comida de verdade como patrimônio cultural e imaterial de um povo. A oficina contou com a presença de duas mestras da comida agroecológica no Brasil: Patrícia Brito e Nathalia Mesquita que com muito carinho são apresentadas ao final da publicação. Junto a elas, mulheres comunicadoras e artistas populares coloriram nossas ideias e nos ajudaram a desenhar este livro.
As receitas no livro e desenvolvidas na oficina prática foram escolhidas tendo como referência a consulta aos territórios envolvidos na pesquisa-ação e a seleção de alimentos que, neste amplo campo de possibilidades, podem ser considerados alguns dos pilares da cultura alimentar brasileira. Comidas que atravessam os limites geográficos e conectam o caldeirão cultural que tempera a memória do nosso País.
Em um processo artesanal de articulação com os territórios a partir das vozes e olhares das juventudes, o livro parte: a) do reconhecimento da arte e da cultura popular como práticas de resistência; b) da urgência em construirmos diálogos saudáveis entre gerações; e c) do compromisso com a renovação do campo político brasileiro a partir da força da juventude organizada.
Segundo o povo Xukuru, nossa cura verdadeira está na integração da nutrição do corpo, do espírito e das nossas raízes ancestrais. A cura verdadeira está na agricultura do encantamento que se conecta à vida e ao sagrado que pulsa na terra, nas plantas, no preparo de cada refeição, nos vínculos e nas relações que tecemos diariamente.
O livro é uma forma de partilhar as nossas trocas, inspirar novas receitas e partilhas na cozinha e, sobretudo, registrar o sonho de que possamos em breve estar juntas, juntos e juntes – em muitos lugares deste País –, misturando na fogueira da vida: comida de verdade, feminismo, reconhecimento da sabedoria sagrada dos povos, cultura, arte e muito mais!
A live de lançamento da publicação digital acontecerá no próximo dia 16/09 às 19h e será transmitida no Facebook da Articulação Nacional de Agroecologia.
“Simborá meu povo, já já a gente chega para comer essa comida e levantar poeira nesse terreiro!”
Com amor e esperança, GT Juventudes da ANA