04/02/2022
Elas são artistas, políticas, educadoras, líderes espirituais em suas comunidades e ainda usam as redes sociais para divulgar a cultura de seus povos, reivindicar direitos e denunciar violações e violências cometidas contras suas terras, sua gente e a natureza. No Dia Nacional da Luta dos Povos Indígenas, celebrado nesta segunda-feira (7 ), conheça nove mulheres de diferentes etnias para seguir, se inspirar, aprender e apoiar nas redes sociais.
Já aos 14 anos, Alice Pataxó – ativista e comunicadora da etnia Pataxó – incomodada com a imagem desatualizada, estereotipada e estigmatizada dos povos originários nos livros didáticos, tornou-se representante indígena em movimentos estudantis. Hoje, aos 20 anos, a jovem que vive na Aldeia Craveiro, na Cidade do Prado, no sul da Bahia, é uma das vozes mais influentes sobre os direitos indígenas na internet. Em 2020, ela criou no YouTube o canal Nuhé, no qual fala sobre a história e cultura Pataxó, desconstrói estereótipos e trata de literatura indígena.
Muito ativa também no Instagram e no Twitter, a jovem, que é estudante de Humanidades na Universidade Federal do Sul da Bahia, divulga informações sobre os cerca de 300 povos indígenas brasileiros e denuncia as muitas violações de direitos sofridas por essas comunidades, desde atividades de garimpo ilegal em suas terras até assassinatos de lideranças.
Como bem diz seu nome, que significa “onça que nada para outro lado do rio”, a artista plástica e nutricionista We’e’ena Tikuna, de 33 anos, teve que aprender, desde cedo, a nadar contra a maré. Ao sair de sua aldeia com a família e mudar-se para Manaus (AM), aos 12 anos, teve que aprender português e, ao mesmo tempo, enfrentar o bullying e o racismo de colegas de escola e outros entornos sociais da cidade. Formada em artes plásticas pelo Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura do Amazonas, ela fez história em 2019 ao se tornar a primeira indígena a protagonizar um desfile de moda no Brasil Eco Fashion Week, onde lançou as coleções Éware e No´e. Hoje, ela também é nutricionista e se baseia nos princípios indígenas da alimentação orgânica.
Putanny Yawanawá, de 40 anos, e sua irmã, Hushahu, são as primeiras mulheres pajés na etnia yawanwá. Para tanto, além do preconceito dos homens do seu povo, Putanny enfrentou a desconfiança das mulheres da aldeia. Foi submetida a uma rigorosa dieta durante um ano (etapa de preparação fundamental para conhecer as sabedorias ancestrais espirituais), perdendo mais de 20 quilos, e manteve-se isolada no meio da floresta. Durante esse período, contou com plantas da floresta que, até então, eram usadas apenas pelos homens, como uni (ayahuasca), e substâncias como o rapé, saliva de jiboia e veneno de sapo. Cumprido o ritual de preparação, recebeu a benção do seu antecessor, Pajé Tatá, para se aprofundar nos saberes de sua gente.
Geni Núñez
Mais conhecida no Instagram como @genipapos, a psicóloga guarani Geni Núñez é uma influencer que advoga pela descolonização dos pensamentos e dos afetos em todas as esferas da vida humana. A partir de uma perspectiva histórica, ela, que é doutoranda em estudos de gênero e raça, explica de maneira direta e didática a origem colonial e ocidental das relações desiguais de gênero e da monogamia, por exemplo, e como isso quase sempre representa uma deturpação de tradições e culturas dos povos originários.
Indígena da etnia Boe Bororo e natural do Mato Grosso, a artista Katú Mirim foi adotada aos 10 meses e criada por uma família branca na periferia de São Paulo. Quando descobriu sua origem biológica, não encontrou nenhuma informação sobre seu povo nos livros da escola. Isso só mudou aos 19 anos, quando, graças à internet, mergulhou em pesquisas sobre a história das culturas indígenas no país. Quando decidiu fazer rap, não teve dúvidas: cantaria as lutas dos povos originários brasileiros. Em 2020, lançou o EP Nós, no qual evidencia desde o genocídio indígena até o racismo naturalizado no cotidiano. Na letra de Vestido de hipocrisia, por exemplo, ela critica o uso de fantasias de “índio” no carnaval e em outras festas enquanto a população se aliena das constantes violências sofridas por estes povos: “Vivemos resistindo e enfrentando artilharia / O seu racismo tem confete / Sua cara, hipocrisia“.
Dayana Molina, de 33 anos, se define como “artvista” e, em 2020, lançou a hashtag #DescolonizeAModa, iniciando nas redes sociais um debate sobre a representatividade indígena na indústria. Stylist, ela está no setor há 13 anos e sua avó, Nana, foi quem serviu de inspiração para que ela desenvolvesse seu trabalho. As roupas de sua marca, Nalimo, são desenhadas e costuradas a partir dessas memórias afetivas, que fizeram com que ela entendesse as roupas como algo mais pessoal e não ligado ao conceito tradicional ou de tendências de consumo. Esse é um dos temas sobre os quais fala em seu perfil.
Sendo a primeira integrante do povo xakriabá a cursar uma universidade, Célia Xakriabá pesquisa, em seu doutorado de antropologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), se as falas e conhecimentos de alunos indígenas são levados em conta e valorizados no ambiente das instituições de ensino superior ou se apenas seus corpos são acolhidos por meio de políticas de cotas. Nas redes, ela milita pelo reconhecimento das mulheres indígenas dentro e fora das aldeias, pela demarcação das terras dos povos originários e defende uma reestruturação do sistema educacional para que estudantes indígenas sejam, de fato, acolhidos.
Coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sonia Guajajara, de 47 anos, foi a primeira indígena na história do país a disputar eleições como vice-presidente, em 2018, na chapa de Guilherme Boulos (PSOL). Depois de despontar no cenário político, ela consolidou-se como uma das principais vozes pelos direitos indígenas no país, denunciando, principalmente, a invasão de territórios e a violência perpetrada por garimpeiros e madeireiros ilegais contra comunidades originárias.
Joênia Wapichana, de 48 anos, entrará para a história do Brasil como a primeira indígena a eleger-se deputada federal, em 2018, pela Rede. Antes disso, ela também foi a primeira indígena a se formar em Direito no país, em 1997, pela Universidade Federal de Roraima (UFRR). Pouco mais de 10 anos depois, em 2008, ela protagonizou outro marco no Tribunal Federal (STF) ao ser a primeira advogada indígena da história a realizar uma sustentação oral na Corte, durante o julgamento que definiu a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR). Desde que chegou ao Congresso Nacional, Joênia é uma das principais vozes no debate em defesa pelos direitos dos povos originários e, durante a pandemia de covid-19, tem trabalhado pela proteção e vacinação dessas populações mais vulneráveis.