31/08/2023
Além dos livros, exposição também reunirá registros fotográficos de indígenas — Foto: ANDRE GUAJAJARA/divulgação
A leitura de um livro significa a abertura para um novo mundo. Uma obra literária tem o poder de levar seu leitor a enxergar um universo inédito costurado por diferentes personagens e histórias. É para essa jornada que a exposição “Araetá: a literatura dos povos originários” pretende levar os seus visitantes, do dia 31 de agosto até 5 de novembro, no Memorial Gerais Vale. Na exposição, estarão reunidos mais de 300 títulos de 110 escritores de 40 povos indígenas.
Não à toa, o nome escolhido para a mostra foi o termo da língua tupi “araetá”. Ara significa mundo, e etá leva a palavra o plural. “Os escritores indígenas apresentam, em seus livros, os seus mundos, que trazem a ancestralidade e a relação com os seres que habitam os céus, a terra e o invisível, a relação com as crianças, a relação com os animais, e a relação com os mais velhos.Todos esses mundos são representados pela escrita de cada um nas obras ali apresentadas”, avalia o curador da exposição Ademario Payayá.
O universo da literatura indígena explorado na exposição, aliás, é relativamente recente. O título mais antigo das 335 obras disponíveis é de 1998, 25 anos atrás. A gestora cultural à frente do Prêmio Oceanos, Selma Caetano, que divide a curadoria com Payayá explica que, “em 1970, a Eliana Potiguara já lançava cartilhas para aldeias, mas somente em 1998 houve o lançamento do primeiro livro em uma editora.”
Segundo ela, a recente produção literária tem relação, dentre outros fatores, se deve à tradição da oralidade na cultura indígena. “A vida e a arte andam juntas na cultura indígena. Por isso, a oralidade também é considerada literatura, não há uma divisão entre elas. Contar histórias, passá-las para os próprios filhos significa literatura”, avalia.
A exposição reunirá nomes como Ailton Krenak, Cristino Wapichana, Álvaro Tukano, Márcia Kambeba, Auritha Tabajara, Gleycielli Nonato e Marcos Terena, dentre outros. O próprio Ademario Payayá terá um de seus livros expostos, o “Oré – Îandé (Nós Sem Vocês – Nós Com Vocês)”.
A obra reúne poemas e textos nas línguas indígenas guarani, kiriri, patxohã e tupi, com traduções para o português. “É um livro multilíngue, que permite trabalhe desde a educação infantil até a licenciatura, com diversos temas escritos de maneira muito poética, filosófica e pedagógica”, diz Ademario. Ele também destaca a obra de Daniel Munduruku na programação. “Ele tem uma capilaridade de escrever sobre vários temas de maneira sábia, eloquente e agradável”, pondera.
Selma Caetano, por sua vez, chama a atenção para a obra “O que Falam as Águas”, de Ezequiel Vítor Tuxá. “Esse romance ainda vai fazer história, assim como fez ‘Vidas Secas’, de Graciliano Ramos, e a obra do João Antônio sobre as grandes metrópoles. O Ezequiel fala sobre a desterritorialização de terras indígenas a partir da inundação das terras tuxá, na Bahia. É um livro magistral que retrata de um tema premente na história”, observa.
A exposição, que será realizada simultaneamente em São Paulo, chega no Memorial disposta em duas salas, dividas por regiões brasileiras. Na primeira, estão reunidos autores da Amazônia, e, na outra, estarão as obras de autores da Mata Atlântica, do Pantanal, da Caatinga e do Cerrado. Além dos livros, que poderão ser manuseados pelos visitantes, haverá também vídeos, áudios, ilustrações e fotografias sobre os contextos dos autores.
Nesse sábado (2), ainda haverá, a partir das 11h, um bate-papo com os escritores indígenas Gleycielli Nonato, do povo Guató, e Luciano Ariabo Kezo, do povo Balatiponé. Selma Caetano também estará na ocasião, e a conversa vai girar em torno da produção literária indígena.