Resgate: Povo indígena quase totalmente dizimado é tema de mostra aberta no Museu Emílio Goeldi
O etnógrafo e ornitólogo alemão Emil-Heirinch Snethlage continuou pesquisas da tia
Há um século, em 1914, em meio à crise econômica da borracha, a alemã Emília Snethlage, então pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), fechou parceria com o Museu Real de Etnologia de Berlim e com a Sociedade Geográfica Berlinense para realizar uma expedição nos rios Tapajós e Xingu. Lá, Snethlage coletou objetos da cultura material dos povos Xipaya e Kuruaya, antes pouco conhecidos. Fotografias das peças antigas e produções atuais dos Xipaya estão na exposição “Diálogos: os Snethlage e as Ciências Humanas no Museu Goeldi”, que apresenta ainda o trabalho de Emil-Heirinch, sobrinho de Emília, sobre a linguística indígena amazônica. A exposição está aberta no Pavilhão Domingos Soares Ferreira Penna (Rocinha) no Parque Zoobotânico, com visitação de terça-feira a domingo, das 9 horas às 17 horas.
A exposição é uma iniciativa do Museu Goeldi junto à Casa dos Estudos Germânicos/UFPA e o povo Xipaya. Na abertura, dez representantes dos Xipaya estiveram presentes para reforçar a importância de divulgar a sua cultura.
Na mostra, é apresentada parte da história dos povos da região dos rios Iriri e Curuá, na bacia do Xingu. Apesar de terem origens distintas, Xipaya e Kuruaya eram vizinhos na região do Baixo e Médio Xingu e tiveram intensas trocas culturais. Ao longo dos séculos, os embates com fazendeiros, seringueiros e castanheiros dizimou as populações. Em 2010, 84 pessoas se declaravam Xipaya e 159 Kuruaya. Algumas delas moram hoje em Terras Indígenas e na cidade de Altamira e lutam pelo reconhecimento de sua cultura.
PESQUISA
Emília Snethlage chegou ao MPEG em 1905 para atuar na área da Zoologia, no estudo das aves (Ornitologia). Apesar de sua especialidade, ela contribuiu para as Ciências Humanas ao realizar expedições já nos anos 1908 e 1909 na região dos rios Tapajós e Xingu. Foi assim que ela conheceu as tribos indígenas Xipaya e Kuruaya, que a acompanhavam e auxiliavam nas pesquisas a campo, das quais resultou, além da coleta de exemplares de aves e de material cultural, a produção de um mapa detalhado dos cursos superiores dos rios Iriri, Curuá e Curuaé.
Anos depois, em 1923, chegou ao Brasil o sobrinho de Emília, Emil-Heirinch, também com a intenção de estudar aves. Em uma viagem com a tia, acabou se interessando pela Etnologia, ao visitar os povos indígenas Jê e Tupi. De volta à Alemanha, foi contratado pelo Museu Etnológico de Berlim para documentar e reunir objetos etnográficos de povos indígenas do Alto Rio Madeira. Atualmente, este material está sendo reexaminado pelo Dr. Hein van der Voort, linguista do Museu Goeldi.