09/03/2022
Famílias tentam recomeçar a vida em novo território, mas mineradora diz que tomará as providências cabíveis
Mais de 50 índios da etnia Xucuri-Xariri ocupam uma fazenda abandonada em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, desde o fim de fevereiro. Sem alternativa de outro território, o grupo, que tem cerca de 20 crianças, sobrevive de doações da população da cidade e reclama da falta de apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai). Por conta de um conflito interno, eles precisaram deixar a aldeia em Caldas, no Sul de Minas, e moraram de forma provisória no município de Presidente Olegário, no Alto Paranaíba.
A fazenda pertence à Vale, que afirmou estar adotando as providências cabíveis para o caso e lembrou que a tribo não foi impactada pelo rompimento da barragem da mina de Córrego do Feijão. “Não sabíamos que era da mineradora, não estamos querendo nenhum auxílio, mas só um território para sobrevivermos, preservando a natureza e continuando com nossos costumes tradicionais e religiosos”, explicou o cacique Arapowana. Segundo ele, até hoje a Funai não prestou nenhum apoio à comunidade.
“Vivíamos em Caldas, e, no dia 2 de setembro do ano passado, devido ao conflito interno que poderia provocar até um problema maior, fui até a Funai e coloquei a situação. Deram uma solução de morarmos provisoriamente na aldeia da Giselma, em Presidente Olegário, que faz três anos que ela está lá com o seu povo”, relatou. Porém, não havia condições para que todos continuassem no território, e os indígenas voltaram à fundação em busca de uma solução definitiva.
Diante da falta de respostas, o grupo passou a procurar por alternativas. E foi de um sonho durante um ritual religioso que veio uma luz, segundo o cacique. “Temos um uricuri sagrado, que é a nossa religião, começamos a pesquisar também os territórios. E, através de um sonho espiritual, tivemos uma orientação que chegávamos em uma casa abandonada e tinha uma estátua de uma índia”, relatou. No caminho para um encontro com representantes da Funai, Arapowana viu uma fazenda próximo à estrada com algumas casas abandonadas e, perto de uma delas, a estátua de uma índia.
Após retornar para Presidente Olegário, o cacique falou sobre o território com o grupo, que decidiu ocupar a região. “Quando chegamos, no dia 20 de fevereiro, por volta das 15h, estava chovendo muito. As crianças estavam com muita fome, já foram comendo as frutas que tinham, a goiaba. Naquele momento a chuva era o pai Tupã, mandando chuva para que pudéssemos enraizar. Agora queremos brotar”, declarou.
Doações
Conforme o cacique Arapowana, a aldeia tem sobrevivido por meio da doação de água e alimentos de moradores da cidade. Além disso, os indígenas já começaram a preparar a terra para receber hortaliças. “Temos professor formado na UFMG, de cultura e artes, e queremos implantar uma escola aqui. Estava tudo abandonado, a casa sem portas, e estamos limpando tudo, a lagoa, as nascentes. Já capinamos em volta das estruturas”, declarou Arapowana.
Procurada, a Fundação Nacional do Índio (Funai) não se pronunciou sobre a situação dos Xucuri-Xariri.