Comunidade quilombola é referência em BH em práticas sociais e culturais baseadas nas religiões de matriz africana
O Kilombo Manzo Nzungo Kaiango, comunidade quilombola localizada na Região Leste de Belo Horizonte, fundada em 1970 por Mãe Efigênia, completou três anos como Patrimônio Cultural do Estado de Minas Gerais. A conquista é fruto da mobilização de membros e frequentadores, que somente no mês de outubro de 2018 conseguiram o título.
Inicialmente, o espaço foi adquirido por Efigênia Maria da Conceição – Mametu Muiandê, mais conhecida como Mãe Efigênia. De início, o local foi transformado em um terreiro de umbanda. Com o passar dos anos, o local se tornou uma casa de candomblé.
Para Makota Kidoialê, o título de patrimônio imaterial de Minas tem uma importância muito grande, por ser uma solicitação que partiu da própria comunidade. “Para nós foi uma conquista conseguir mostrar, a partir das tradições quilombolas e de religiões de matriz africana, o nosso patrimônio para a cidade”, comenta.
De forma complementar aos encontros, ritos e ações religiosas, como o candomblé, ou consultas espirituais e jogos de búzios realizados, o Kilombo Manzo desenvolve atividades e práticas sociais para o desenvolvimento da cidade desde sua fundação. São oferecidas aulas de capoeira, dança, samba de roda, dança-afro e percussão.
“As pessoas começaram a entender que os territórios quilombolas e tradicionais têm uma importância tão fundamental na cidade, com o atendimento e acolhimento das classes sociais. Tudo o que fazemos não é só para nós, pois estamos em uma condição que nos permite compartilhar”, menciona Makota Kidoialê.
O título de patrimônio imaterial permite que os filhos de axé participem das discussões sobre política, patrimônio, preservação e história em Belo Horizonte. Makota Kindoialê destaca que há um grande desafio em garantir políticas públicas a um patrimônio imaterial, principalmente com práticas quilombolas e de religiões de matriz africana.
IDENTIDADEQUILOMBOLA
Os projetos do Kilombo são para todos os gostos. Também são ofertadas oficinas de tambor ashiko, berimbau e de caxixi, instrumentos tradicionais nas religiões de matriz africana. Com elas, os participantes aprendem sobre a produção, utilização e importância dos instrumentos para o quilombo. Além disso, também são realizadas oficinas de confecção de roupas.
No Kilombo, foi criado o projeto de acolhimento e apoio, chamado Kizomba, para as comunidades, bairros e vilas e favelas em torno do espaço. De origem Bantu, Kizomba significa “festa do povo que resistiu à escravidão”. Makota Kindoialê comenta como parte deste desafio constante é a necessidade de implementar a identidade do local e apresentar novas interpretações sobre o Kilombo Manzo como patrimônio imaterial.
As conquistas ao longo do último século vêm da resistência, insistências e da coletividade por parte dos membros e frequentadores do Kilombo Manzo.
O Quilombo não possui fins lucrativos e, por isso, recebe doações de parceiros e de apoiadores. Somente em 2020 o espaço foi reconhecido como território quilombola, recebendo o título de legitimação fundiária em Belo Horizonte, legalizando a propriedade e as suas atividades no município.
“É preciso que Minas Gerais dê mais voz, espaço, visibilidade para as comunidades quilombolas que já estavam antes de se formar o estado”, conclui Makota Kindoialê, apontando como as comunidades quilombolas e de religião de matriz africana são invisibilidades nos cenários urbanos e sociais, mas que contribui muito para a manutenção cultural, econômico e social dessas cidades.