Dom Angélico considera que o amigo é vítima de perseguição. “Para muitos o golpe ficará pela metade se não houver o banimento político de Lula. Isso é um desserviço à democracia”, diz.
O bispo afirma que não há provas contra o ex-presidente. “Ao que tudo indica essas provas não foram apresentadas, não foram com clarividência. Não basta acusar alguém. É preciso realmente apresentar provas consistentes e depois em juízo para que haja ampla defesa. Nesse julgamento do Lula está havendo uma pressa que é uma coisa impressionante.”
O religioso diz haver evidências de interesses externos no processo envolvendo Lula. “Aceleraram (a ação judicial) por quê? Quais são os interesses que estão por trás? Que existam interesses econômicos internacionais é evidente”, disse. “Então é preciso realmente que nós trabalhemos sem cessar para que os poderes, as dificuldades que envolvem os Poderes Judiciário, Legislativo, Executivo, eles realmente ganhem um banho de isenção, ganhem um banho de ética e estejam efetivamente a serviço da verdade e do bem comum. Isso que nós precisamos.”
SINDICATO
No início do ano passado, quando Lula soube que a vida de Marisa Letícia estava chegando ao fim após um AVC (acidente vascular cerebral), tratou de ligar para dom Angélico. O religioso foi até o ex-presidente e administrou o sacramento para a mulher do petista. No próximo dia 3 de fevereiro, quando a morte de Marisa completará um ano, o bispo vai celebrar uma missa no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em memória dela.
Foi neste mesmo sindicato que Marisa foi velada e que na quarta (24) Lula assistiu parte do julgamento do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região).
O lugar também foi palco dos primeiros encontros do ex-presidente com o sacerdote, no final da década de 1970. Dom Angélico vê semelhanças entre o momento atual e aquela época, em que o país vivia sob ditadura militar.
“Em 1964 o golpe foi dado pelo poder econômico se valendo dos militares. Agora, o poder econômico usou o Parlamento e o Judiciário”, diz. “Em 1964 a desculpa era o perigo do comunismo, agora foi a crise e não sei o quê. Esse pessoal aí (poder econômico) cria crise e não reconhece realmente o vilão da crise que é o capitalismo liberal no mundo”, diz.
Por conta de opiniões assim, o bispo é classificado como comunista por militantes de direita nas redes sociais. Ele nega ter sequer apreço pelo comunismo.
O pontífice aponta o dedo também para o partido criado por seu amigo. “O PT cometeu uma série de erros, inclusive de abandonar seu compromisso de organização, de trabalho popular e muitas promessas também não foram cumpridas”, diz. “E houve elementos do próprio partido que foram condenados depois de julgamentos por improbidade.”
Sobre o risco de aumentar o espaço da divisão entre direita e esquerda no país, ele vê no amigo a chance de pacificação.”A possibilidade de o Lula ser candidato, de disputar a eleição vai realmente acalmar muito os ânimos”, diz. “Eu faço votos que caminhemos para a paz, para o bom senso. O que é preciso é que nos respeitemos em nossas posturas, em nossas maneiras de encarar a realidade. Com respeito. Toda divisão se aprofunda no povo brasileiro.”