10/03/2019
Cidadãos brasileiros assistimos, preocupados, a escalada de conflitos contra a vizinha Venezuela, a que, para nossa maior consternação, adere o Brasil governado por J.Bolsonaro.
Trata-se de momento extremamente perigoso, em que a paz, tão duradoura no sub-continente, se encontra ameaçada pelo governo de D.Trump nos Estados Unidos. A intervenção norte-americana ora se traveste de ajuda humanitária, incluindo a linha seca Pacaraima/Santa Elena, entre seus possíveis corredores. Não será demasiado lembrar que instituições concernidas e respeitáveis, tais como a Unesco e a Cruz Vermelha, se recusaram a participar de tal ajuda, apontando o fato básico de que ajuda humanitária se define, sempre, por sua neutralidade e desinteresse, aspectos inexistentes na presente iniciativa norte-americana. Houvesse um grão de verdade nas alegações intervencionistas quanto à crise humanitária na Venezuela, seria de se esperar que os Estados Unidos levantassem o embargo que impuseram àquele país – embargo que responde, em larga medida, à crise em pauta. Como apontam especialistas, sob o pretexto de defesa da democracia – jamais aplicado à Arábia Saudita e a outros aliados fornecedores de petróleo – , os Estados Unidos pretendem avançar sobre a região, em busca do controle de enormes reservas de petróleo.
Não podemos nos calar diante desta violência, cujos efeitos serão catastróficos para a região. Todos aqueles que conhecem a fronteira Venezuela- Brasil podem testemunhar sua diversidade étnica, sua riqueza cultural, seu delicado ecossistema – feito do encontro único da floresta tropical com a savana –, declarado patrimônio da humanidade pela Unesco. A pequena cidade de Pacaraima, encravada na Terra Indígena São Marcos, é geminada à cidade venezuelana de Santa Elena do Uairén, constituindo um espaço integrado, de intensa mobilidade de pessoas e de circulação de bens – a população, indígena ou não, mantém estreitos vínculos de parentesco, trabalho e residência, de ambos os lados da fronteira. Não podemos permitir que tudo isso seja devastado pelo cálculo e pela arrogância de uma intervenção armada.
Conclamamos, assim, as forças democráticas na sociedade brasileira a que, efetivamente, se manifestem contra a intervenção armada na Venezuela e, em particular, contra o envolvimento brasileiro nessa desventurada iniciativa, de modo a honrar a tradição pacifista e não-intervencionista do país, inscrita em sua Constituição.
Declarando toda nossa solidariedade ao povo venezuelano, assinamos:
Nádia Farage, antropóloga
Paulo Santilli, antropólogo
Luiz Marques Filho, historiador
Eduardo Caetano da Silva, antropólogo
Ítala Maria Lofredo D’Ottaviano, matemática
Enzo Lauriola, economista
Elaine Moreira, antropóloga
Marcelo Phaiffer, pedagogo
Mauro William Barbosa de Almeida, antropólogo
Sidney Chalhoub, historiador
João Quartim de Moraes, filósofo
André Augusto da Fonseca, historiador
Kézia da Costa Lima, historiadora
Cristhian Teófilo da Silva, antropólogo
Alfredo Clodomir Rolins de Souza, historiador
Carla Monteiro de Souza, historiadora.
Centro Acadêmico de História da UERR
Centro Acadêmico de História da UFRR
Cleane de Souza Feitosa Schwenck, assistente social
Comitê Estadual em Defesa da Escola Pública de Roraima
Eduardo Gomes da Silva Filho, historiador
Eliaquim Timóteo da Cunha, antropólogo
Emanuel Rabelo, Professor e Historiador
Érica Marques, advogada
Francisco Marcos Mendes Nogueira, historiador
Herika Fabíola Barros de Souza Oliveira do Valle, Professora de História
Hsteffany Pereira Muniz Araújo, historiadora
Inara do Nascimento Tavares, antropóloga
Leonardo Rossatto Queiroz, Cientista Social
Lucas Endrigo Brunozi Avelar, historiador
Luiz Maito Jr., historiador
Paulo Thadeu Franco das Neves, professor e jornalista
Raimundo Nonato Gomes dos Santos, historiador
Sandra Moraes da Silva Cardozo, professora
Suely de Oliveira Marques, economista e pedagoga
ANPUH RR (Associação Nacional de História, seção Roraima)
ANPUH-Brasil (Associação Nacional de História)