15/12/2022
Fonte:http://emdefesadosterritorios.org/mapa-de-conflitos-da-mineracao-revela-644-casos-e-840-ocorrencias-em-2021-envolvendo-ao-menos-762-246-pessoas-no-brasil/Desde 2020, o Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração publica anualmente o Mapa dos Conflitos da Mineração no Brasil e o Relatório dos Conflitos da Mineração, para monitorar as violações cometidas anualmente pelo setor da mineração.
O objetivo do Relatório dos Conflitos da Mineração é denunciar para o Brasil e o mundo os locais onde se concentram os conflitos envolvendo a mineração, o perfil e os setores associados a ela. Além disso, o monitoramento permanente, dá visibilidade às violações de direitos humanos cometidas pelo setor mineral brasileiro, assim como as reações dos grupos sociais atingidos.
Conforme aponta o Relatório dos Conflitos da Mineração 2021, foram contabilizados 644 casos e 840 ocorrências de conflito, envolvendo ao menos 762.246 pessoas, isto é, ao menos duas ocorrências por dia no ano de 2021.
Em comparação com 2020 (acesse aqui o Relatório dos Conflitos da Mineração 2020) quando foram contabilizados 751 localidades e 851 ocorrências, houve uma leve retração nos números em 2021, correspondendo a uma diminuição de 14,2% nas localidades e 1,2% das ocorrências.
O Bioma com o maior número de registros foi a Mata Atlântica, com 49,0%, seguido da Amazônia (27,9%), Caatinga (13,9%) e Cerrado (7,0%).
Em 2021, ao menos 54.550 indígenas estavam envolvidos em conflitos, sendo em 51,4% das situações com garimpeiros. Os quilombolas sofreram em 22 conflitos e 26 ocorrências, englobando ao menos 13.603 pessoas.
Dos 24 estados com registros, os que mais concentraram localidades em conflito, novamente, como no ano anterior, foram Minas Gerais (35,0%), Pará (12,6%) e Bahia (11,0%). Em comparação com 2020, Minas Gerais sofreu uma diminuição de 23,5% nas ocorrências, seguida por uma diminuição de 15,4% no Pará. Na Bahia, houve um crescimento de 12,2% nas ocorrências. Alagoas também apresentou um aumento significativo no número de ocorrências entre 2020 e 2021, passando de 22 para 61 ocorrências, representando um aumento de 192%, em especial por conta do conflito com a empresa Brasken em Maceió.
Em número de pessoas atingidas por estado, Minas Gerais concentra 42,9% do número total de pessoas atingidas, seguido de Roraima (16,2%), Pará (12,8%) e Alagoas (11,5%).
Dos 853 municípios de Minas Gerais, foram mapeados conflitos em 87 (10,1%), sendo Brumadinho o que mais concentrou casos, com 24 situações de conflito, totalizando 43 ocorrências, majoritariamente por conta do processo de reparação do desastre da barragem da Vale, em 2019.
Pescadores e ribeirinhos compõem um grupo que somou 65 ocorrências, abrangendo 16.161 pessoas. O estado da Bahia congregava 40,0% das ocorrências, seguido do Pará com 15,4%.
Fizeram parte dos conflitos 11 empresas e o garimpo ilegal. A empresa Tombador Iron Mineração foi responsável por 36,9% dos conflitos nessa categoria, seguido pelo “Garimpo ilegal” (16,9%), pela Samarco/Vale/BHP (16,9%) e Hydro (9,2%). Os casos da Samarco/Vale/BHP e Hydro referem, especificamente, aos desastres ocasionados pelas empresas na Bacia do Rio Doce, com o rompimento da barragem de Fundão e o vazamento de bauxita das operações da Hydro Alunorte em fevereiro de 2018 em Barcarena (PA), e o processo de luta por direitos à reparação integral.
Os conflitos urbanos, em 2021, ocorreram em 35 municípios e 8 estados. Os estados que mais reúnem conflitos urbanos são Minas Gerais, com 45,3% dos conflitos, seguido de Alagoas, com 43,2%, e Pará, com 4,2%. Os três municípios com mais conflitos foram Maceió, no estado do Alagoas, com 42,1% dos casos; Congonhas, com 7,4% e Barra Longa, com 4,2%, ambos em Minas Gerais.
Em relação aos conflitos na área urbana, foram identificados 68 casos, totalizando 95 ocorrências. Ao menos 95.123 pessoas estavam envolvidas em conflitos urbanos com a mineração no país e sofreram violações do setor. As empresas que mais concentraram conflitos foram a Braskem, concentrando 42,1% dos conflitos urbanos, a Vale S.A., com 9,5%; seguida por Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e a Samarco/Vale S.A./BHP Billiton (CSN).
Foram mapeadas 127 empresas envolvidas em conflitos em 466 localidades. Assim como em 2020, a Vale S.A. é a empresa que mais concentrou conflitos (29,4%), congregando a Vale S.A. (131 ocorrências de conflitos) e sua subsidiária Samarco/Vale/BHP, com 34 ocorrências de conflitos.
Das mineradoras internacionais, as que mais se destacaram foram a Bahia Mineração (BAMIN) de capital de Luxemburgo, com 38 ocorrências de conflitos; a australiana Tombador Iron Mineração, com 26 ocorrências; e a Anglo American, com 17. Em relação à nacionalidade das empresas, o Brasil aparece em primeiro lugar, com 356 ocorrências, em seguida a Austrália, que possui 64 das ocorrências, Luxemburgo (57), Canadá (31) e Reino Unido (25).
As extrações ilegais de minérios, em particular os garimpos, provocaram 240 ocorrências em 168 localidades em 19 estados, sobretudo na Amazônia Legal, com destaque para o Pará (22,6%), Amazonas (18,5%), Mato Grosso (15,5%) e Rondônia (9,5%). Além disso, os indígenas foram os grupos mais violados por essa atividade.
Ocorrências de violências extremas foram um total de 67: Morte (27 ocorrências); assédio (19 ocorrências); trabalho escravo (14 ocorrências); ameaça de morte (4 ocorrências); violência física (3 ocorrências); e violência sexual (3 ocorrências).
Em relação à categoria “violadores – quem causou a ação”, no total das 840 ocorrências de conflito, “mineradora internacional” ocupa a primeira posição da categoria, com 40,5%, seguida por “garimpeiro” (26,5%) e “mineradora” (25,7%). Extração ilegal compondo a soma das categorias garimpeiro” e mineradora ilegal, correspondeu a 30,2% dos casos.
Foram mapeadas 96 reações diretas às violações, concentradas em Minas Gerais (48), Roraima (18) e Alagoas (9). Em Brumadinho houve, em média, mais de um protesto por mês (13). As categorias que mais reagiram com ações de resistência foram: indígenas (21 ocorrências), pequenos proprietários rurais (21 ocorrências) e população urbana (11 ocorrências).
O Comitê é uma articulação da sociedade civil formada por mais de 100 organizações, movimentos sociais, igrejas e pesquisadores, em atividade desde 2013. É uma das principais iniciativas nacionais que se organizam politicamente em defesa dos atingidos pela mineração e de seus territórios. Atua na formação, mobilização, articulação política, produção de materiais e comunicação sobre a política mineral brasileira.
O Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, no âmbito do Observatório dos Conflitos da Mineração no Brasil, tem o Mapa dos Conflitos como uma de suas iniciativas de denúncia do modelo mineral brasileiro, sobretudo no contexto do Governo Bolsonaro com a desregulamentação das políticas ambientais, de proposta de abertura de novas áreas para mineração e de incentivo ao garimpo.
O ano de 2021 teve a situação de pandemia da Covid-19, com diferentes ondas e aberturas esporânicas. Neste contexto, os conflitos e desastres, como os do Rio Paraopeba (Vale/Rio Paraopeba), do Rio Doce (Samarco/Vale/BHP), de Maceió (Braskem), e os garimpos ilegais, ganharam visibilidade frente aos danos produzidos e às resistências encontradas.
No âmbito do monitoramento, iniciado em 2020, o Observatório organiza um banco de dados, atualizado anualmente, a partir do levantamento sistemático de dados secundários em fontes como registros de jornais de circulação nacional e regional, portais de notícias, redes sociais, mídia independente e material dos movimentos sociais, somadas às ocorrências tabuladas anualmente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) para os conflitos da mineração no campo e com indígenas, respectivamente.
O Observatório visa ser uma ferramenta que permite monitorar e analisar, no médio e longo prazo, a variação temporal dos conflitos e do comportamento das diferentes empresas dos setores, articulando-a com fatores políticos e econômicos nacionais e globais que influenciam a política mineral. O mapeamento permite ainda identificar a distribuição espacial dos conflitos e as diferentes disputas pela apropriação da natureza, assim como os efeitos sobre as comunidades atingidas.
Comunicação Comitê