11/01/2022
Para organização, serras e patrimônios do quadrilátero ferrífero carecem de cuidado, proteção e planejamento
O distrito de Nova Lima (MG), Macacos, é cercado por sete barragens, uma delas está em alerta nível 3, o que indica risco alto de rompimento – Foto: ©Arquivo da Comunidade / publicação autorizada
As fortes chuvas em Minas Gerais, nessa primeira semana de janeiro de 2022, expuseram situações trágicas. Em Capitólio (MG), houve o desabamento do paredão de rocha, causando 10 vítimas fatais. E em todo o estado, há barragens com risco de rompimento.
Em reação a esse cenário, o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), que existe há mais de 100 anos, lançou uma nota, divulgada na segunda-feira (10), lamentando os problemas no estado. No texto, chamam atenção para a falta de políticas.
“A tragédia em Capitólio é de outro espectro, mas da mesma ordem predatória do território. Nos falta cuidado, discernimento, escolhas justas, diretrizes claras. Nos falta bom senso e nos falta, principalmente, governo. O simulacro que hoje temos não cuida, não protege, não planeja, não confia nos especialistas, não toma providências”, diz o texto.
Confira na íntegra:
NOTA DO IAB
As chuvas intensas em Minas Gerais põem a nu a tragédia anunciada pela mineração no quadrilátero chamado de ferrífero.
O perímetro do quadrilátero – para lhe fazer jus, o quadrilátero aquífero – cerca as serras do Curral, da Piedade, do Caraça, do Gandarela, de Ouro Branco, da Moeda, do Rola Moça, encosta em Belo Horizonte na face da Serra do Curral, e guarda preciosidades: cidades, igrejas, sítios arqueológicos, grutas, parques naturais, vida silvestre, casas, gentes. E água.
Guarda ainda seu maior pecado: minério. Desde a descoberta do ouro no final do século XVII, nossa riqueza é para inglês ver, é para rechear os cofres do quinto, é o minério de ferro sendo arrancado e expatriado, deixando seu rastro de crateras, águas exauridas, solo contaminado, rios mortos, famílias destroçadas.
A tragédia em Capitólio é de outro espectro, mas da mesma ordem predatória do território. Nos falta cuidado, discernimento, escolhas justas, diretrizes claras. Nos falta bom senso e nos falta, principalmente, governo. O simulacro que hoje temos não cuida, não protege, não planeja, não confia nos especialistas, não toma providências.
2022 chega com horror e tristeza. O Instituto de Arquitetos do Brasil une-se à dor das famílias atingidas por tantas tragédias.
Maria Elisa Baptista
Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil
10/01/2022
Edição: Larissa Costa