MNU lança livro sobre os Griots: “Memórias de Vida de Luta da Idosidade Negra”

21/03/2025

Fonte:https://revistaforum.com.br/cultura/2025/3/21/mnu-lana-livro-sobre-os-griots-memorias-de-vida-de-luta-da-idosidade-negra-176093.html

Lenny Blue, organizadora da obra e cofundadora do movimento, fala à Fórum sobre necessidade de visibilizar a idosidade negra no Brasil

Neste sábado (22), o Movimento Negro Unificado (MNU) e o Conselho Griot do MNU-SP lançam o livro “Memórias de Vida de Luta da Idosidade Negra”  na Livraria Expressão Popular na capital paulista. Griot é uma expressão negra para se referir a contadores de histórias, trovadores, mensageiros e guardiões de tradições de povos africanos.

A obra, feita de forma voluntária, conta com mais de 40 textos de autores de todas as regiões do país sobre vidas de luta e resistência, histórias recheadas de afeto, alegria e apresenta à sociedade brasileira sua dívida histórica com a população negra.

“Divida essa passível de ações reparadoras para a idosidade negra [expressão adotada pelo movimento para designar os mais velhos da comunidade negra]. Produz memória e fundamento, bens inestimáveis para as gerações futuras”, destacou a organizadora do livro e cofundadora do MNU, Lenny Blue. Segundo ela, o livro foi pensado para visibilizar essa perspectiva.

“No caso da mulher negra idosa as mazelas do envelhecimento são potencializadas por estar inclusa na base da pirâmide no rol de marcadores como: subemprego, desemprego, informalidade, ausência de políticas públicas e de acesso à saúde”, comenta a organizadora sobre as desigualdades que também refletem a disparidade de gênero.

“O alijamento das mulheres negras idosas ao benefício previdenciário é só um dos exemplos cruéis das consequências do racismo estrutural tendo em vista que as desigualdades raciais que se expressam no mercado de trabalho influem na cobertura previdenciária”

Dados da plataforma Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), indicam que, em 2022, 21,2% das mulheres negras estavam desamparadas pela previdência e sem capacidade contributiva. A exclusão previdenciária desse grupo tem origens históricas, remontando à escravidão e ao racismo estrutural no Brasil. Além disso, em 2021, o país registrou 7,3 milhões de mulheres negras desempregadas, segundo a Pnad Contínua do IBGE.

É preciso descerrar o “véu de invisibilidade da velhice negra”, que significa refletir sobre suas demandas, reconhecê-las e criar estratégias para enfrentar os impactos da desigualdade racial, segundo Lenny Blue. “A omissão ante a violação dos direitos fundamentais em função da idade caracteriza desobediência aos preceitos constitucionais, principalmente ao direito à dignidade, direito à saúde, direito à vida e direito a um envelhecimento digno.”

Ainda para Blue, é preciso universalizar as aposentadorias e a pensão na velhice, elaborar um  conjunto de leis protetivas dos idosos, políticas públicas na saúde de monitoramento das mulheres e planos de ação para o envelhecimento. “São alguns dos quesitos que devem constar na agenda específica de luta das mulheres negras em todas as instâncias, movimentos sociais, partidos políticos…”

Como gesto de reconhecimento, os griots serão presenteados com mudas de Baobá, árvore que simboliza resistência e continuidade no evento. De acordo com Simone Nascimento, coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado em São Paulo, é um presente para os mais novos poder ler os griots, aprender com suas experiências e histórias.

“Somos um povo que precisa valorizar nossos mais velhos, lutando  também pelo direito de envelhecer com dignidade e direitos. Aprendo todos os dias com eles que lutar é pra vida toda, até que superemos o racismo. O mnu é esse grande encontro de gerações”, completou.

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