Iniciada na primeira casa de tradição Angola/Congo de Minas Gerais, onde posteriormente recebeu o cargo de Nengua Makula, Nengua Monasanje, completa neste ano 33 anos de iniciação no Candomblé. Em 2017 fundou o terreiro Nzo Jindanji Kuna Nkosi, situado no bairro Concórdia em Belo Horizonte, onde é zeladora.
Grande conhecedora desta tradição e eterna aprendiz, como costuma dizer, dedica-se à transmissão deste conhecimento ancestral a mulheres, homens e às juventudes que se reúnem em torno dela em busca de construir uma comunidade onde a ancestralidade negra que veio para a diáspora brasileira vive.
Passamos a todas as segundas-feiras fazer o ritual Flor de Obaluaê – O Deus da Saúde
Durante a pandemia, a Nengua conseguiu manter o terreiro unido e amparado frente à crise, afirmando mais uma vez o propósito de comunidade e solidariedade que fundamentam as casas de candomblé. Nesta entrevista, ela relata como tem sido o dia-a-dia no terreiro Nzo Jindanji Kuna Nkosi e como a comunidade tem se organizado. Uma das ações desenvolvidas para conseguir manter o sustento da casa foi a criação da loja virtual Zitanga.
Brasil de Fato – Como a senhora conheceu o Candomblé, qual sua trajetória e há quanto tempo se dedica ao culto?
Nengua Monasanje – Eu cheguei a Belo Horizonte com 14 anos. Minha família é toda do espiritismo e eu tinha mais contato com a umbanda. Minha tia já frequentava o terreiro e foi ela que me levou. Comecei a frequentar o Nossa Senhora da Glória, no Ermelinda. E o tempo foi passando, passando… Vi meu pai iniciar e comecei a tomar gosto. E aí quando eu tinha 33 anos eu fui iniciada. E desde então eu sigo na fé de Lembá e de todos os Nkises.
Agora no mês de outubro eu completo 33 anos nessa trajetória.
Estamos em um período de isolamento social, de pandemia, como a comunidade religiosa que a senhora dirige viveu esse processo?
Quando começou a pandemia, logo no início, eu fiquei assustada porque nós nunca vivemos uma coisa igual. Mas tive que manter a calma, para conseguir manter a casa e passar paz para os nossos filhos. Mas graças à Deus e aos Nkises nós fomos orientados e começamos a fazer em todas as segundas-feiras a flor de Obaluaê, arreá comida ao Deus da saúde.
Nós fizemos uma live para saber como todos os meus filhos estavam vivendo essa situação. Na primeira live eu fiquei muito preocupada de ver como que eles estavam precisando de suporte espiritual. Aí passamos a todas as segundas-feiras fazer o ritual Flor de Obaluaê – O Deus da Saúde conjuntamente a outras casas tradicionais que fizeram o movimento Cura da Terra que nós encerramos agora em agosto. Esse ritual foi feito para fortalecer as energias das pessoas, da humanidade, pedindo para que o universo nos ajudasse a encontrar a cura.
Senti meus filhos todos muito fortes e superando tudo isso. Nós temos que entregar a nossa vida à Lembá.
Nengua Monasanje, a senhora vem de uma comunidade tradicional do candomblé. E essa é uma religião que enfrenta ainda muitos preconceitos na sociedade. Como a senhora vê a comunidade externa e a relação que ela têm com o candomblé?
Existe muito preconceito com a nossa religião. Felizmente aqui no Concórdia, onde estamos provisoriamente, não tivemos nenhum problema. Mas eu não descuido da casa, não descuido da nossa segurança. Graças a Deus a nossa casa está muito bem vigiada.
Para a sustentabilidade da nossa casa criamos a loja virtual Zitanga
Neste período muitas pessoas ficaram desempregadas, aumento do custo de vida, houve perda de vários direitos sociais. Os terreiros de candomblé historicamente foram lugares onde o povo/ comunidade sempre buscou acolhimento. O Nzo Jindanji Kuna Nkosi fez ou participou de alguma ação de solidariedade neste período?
Nós recebemos muita ajuda e graças a Deus deu para sustentar a nossa casa e nossos filhos. Agora estamos fazendo a loja virtual Zitanga para a sustentabilidade da nossa casa e para futuramente termos o nosso canto.
O Nzo Jindanji Kuna Nkosi é um ambiente que agrega muitos jovens, como a senhora vê a participação da juventude no terreiro?
Eu acho muito interessante e fico muito feliz de termos tantos jovens aqui na Casa. Eu lido com várias gerações aqui no terreiro e a maior parcela é a de jovens. É uma felicidade. Sinal que nós estamos fazendo o nosso trabalho, de dar assistência aos meus filhos. Eu sei sentar, conversar, entender, ouvir, chamar atenção com amor e com carinho quando eles erram. Então isso prende o jovem.
Tem muitos aqui que não tem pai nem mãe, ou os pais estão longe. Então eles vêm para serem acolhidos.
Qual a mensagem que a senhora gostaria de transmitir para os leitores do Brasil de Fato?
Que todos continuem em suas orações, entregando aos nossos Nkises tudo que somos, temos e possuímos e que não percam a fé jamais. A fé é importantíssima em nossas vidas.
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Edição: Elis Almeida