08/05/2023
Fotos: Renato Araújo/ Camara dos Deputados e acervo/ Funai
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) informa, com profundo pesar, o falecimento nesta segunda-feira (8) de Marcelo Zelic, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, coordenador do Projeto Armazém Memória e um dos responsáveis pela inclusão do estudo de graves violações de direitos humanos contra os povos indígenas na Comissão Nacional da Verdade. O pesquisador, que sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) na última sexta feira (5), deixa centenas de páginas escritas de documentos sobre violações de direitos contra os povos originários.
Em um de seus últimos trabalhos, Zelic atuou diante da tragédia humanitária no Território Indígena Yanomami, afirmando que o ocorrido exige a abertura de uma Comissão Nacional Indígena da Verdade para esclarecer os crimes cometidos entre os anos de 2019 e 2022. Em um artigo intitulado “Justiça de Transição: remodelando práticas do Estado para o Bem Viver”, o pesquisador faz uma análise sobre o que pode ser feito tanto para interromper as invasões ao território indígena como para acabar com a “dinâmica genocida de expansão do desenvolvimento e exploração das riquezas” territoriais.
Em um dos trechos do documento, Zelic afirmava que “em memória dos indígenas, indigenistas e defensores de direitos humanos assassinados no Brasil entre 2019-2022, conclamamos, sem anistia! O Estado brasileiro tem o dever de reparar. Tem o dever de realizar a desintrusão em terras homologadas e cessar, sem demora, essa afronta constitucional ao usufruto indígena de suas terras. Demarcar é reparar”, completou.
Sobre o tema, recentemente, em abril, Zelic participou, na Câmara dos Deputados, de uma audiência pública na Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais para tratar das graves violações de direitos humanos cometidas contra os Povos Indígenas durante a ditadura militar ao lado da presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, do procurador Regional da República, Marlon Alberto Weichert; do diretor de Línguas e Memórias do Ministério dos Povos Indígenas, Eliel Benites; do jornalista Rubens Valente; do coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Kleber Karipuna; e da conselheira da Comissão de Anistia, Maíra Pankararu.
Marcelo Zelic também participou, em março deste ano, de uma reunião com Joenia Wapichana e integrantes da Articulação dos Povos Indígenas do Tocantins (ARPI), representantes do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), da Comissão de Paz e Justiça da Arquidiocese de São Paulo (CJP/SP) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) na sede do órgão, em Brasília (DF). O objetivo do encontro foi apresentar demandas para a proteção dos direitos indígenas no país.
Em uma mensagem encaminhada por Helena, filha de Marcelo Zelic, ela afirma que o legado deixado pelo pai não pode ser esquecido. “Agora é hora de seguirmos pensando nele, e não só lembrando as histórias, mas também assumindo o compromisso de sermos mais como ele: justos, generosos, teimosos, rebeldes, carinhosos e comprometidos com a luta dos povos. É hora de mantermos a memória dele viva, assim como ele, com o armazém memória, mantinha viva uma parte muito importante da memória do Brasil”, afirmou.
O velório de Marcelo Zelic será realizado nesta terça-feira (9), na cidade de São Paulo, em local a ser divulgado pela família. A Funai lamenta profundamente a perda e manifesta sua solidariedade aos familiares, amigos e colegas do pesquisador.
Assessoria de Comunicação / Funai