O Tempo produz especial indígenas de Minas – vozes e faces

18/04/2023

POR CRISTIANA ANDRADE CYNTHIA CASTRO QUEILA ARIADNE FREDERICO DUBOC

Fonte:https://www.otempo.com.br/especiais/indigenas-de-minas-vozes-e-faces/o-tempo-produz-especial-indigenas-de-minas-vozes-e-faces-1.2848579

Voz e face dos indígenas de Minas emergem de uma trajetória de violência e superação

Xakriabá usa arco e flecha para caçar em seu território

Em dezembro de 2022, Uaimanã veio ao mundo. E o choro da primeira criança nascida na aldeia em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte – onde antes havia uma fazenda abandonada por mineradora – soou alto: “Sim, existem povos indígenas em Minas!”.

Somaram- se a ele as afirmações de Maria Diva, Tito, Arapowanã, Ãngohó, Ailton, Célia, entre outros milhares de integrantes dos povos originários que vivem no Estado. Invisibilizados por 523 anos de perseguição, exploração, violência e estigma, eles têm como terras reconhecidas menos de 0,2% do território mineiro. Vozes e faces que esta reportagem especial de ajudam a reverberar e se fazer conhecer.

Trata-se de uma imersão na diversidade. Cerca de 20 etnias resistem em Minas, algumas originárias do Estado, outras resultados de migrações forçadas pelos conflitos agrários ou até pela crise político-econômica em outros países. O número oficial de quantos são eles deve ser conhecido neste ano, assim que os resultados do Censo de 2022 forem divulgados. Pelo estudo estatístico do IBGE, de 2010, os indígenas de Minas somam mais de 31 mil. Já a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) acredita que sejam cerca de 41 mil. Dados preliminares mostram que, nacionalmente, essa população praticamente dobrou.

Neste especial, trazemos um pouco da história desses que vivem por aqui. Histórias de dor, como a do Reformatório Indígena Krenak, instituído na ditadura militar; histórias de luto, como o massacre Xakriabá por grileiros, após o qual foi impossível postergar mais a homologação de suas terras; histórias de resistência, como a dos Maxakali, que, espalhados por centenas de quilômetros, preservam a identidade e a cultura por meio da linguagem; histórias de exílio, como de Pataxó, Pataxó Hãhãhãe, Xukuri-Kariri e Kamakã-Mongoió, separados de seus pares e vítimas da lama das tragédias das barragens.

Ao mesmo tempo, eles são faces da preservação de saberes e de pioneirismo na produção de conhecimento, perpetuados nas escolas indígenas e nos materiais didáticos produzidos por eles próprios. Assim como a voz, que, desde a posse, em fevereiro deste ano, assume a tribuna em Brasília por meio da primeira mulher indígena eleita deputada federal por Minas. Ou o saber reconhecido dos povos originários que, desde março, ocupa pela primeira vez uma academia de letras no Brasil – a de Minas.

Esta é a missão deste caderno: reconhecer a riqueza e a pluralidade de vozes e faces, possibilitar que os próprios indígenas narrem suas histórias. Uma trajetória de luta e esperança, que é o que representa Uaimanã, em Xukuri-Kariri.

Print Friendly, PDF & Email