Sem auxílio emergencial da Vale, trabalhadores informais necessitam pescar no rio Paraopeba para subsistência 

Foto: Lucas Hallel

No Mab

A pandemia do Covid-19 vem agravando a situação dos atingidos pelo rompimento da barragem B1, do complexo mina do Córrego do Feijão, que pertence a mineradora Vale. Trabalhadores que já estavam em situação de vulnerabilidade, com a pandemia precisam pescar no rio Paraopeba para complementar a renda.

Os trabalhadores que garantiam a renda com a venda do peixe, tiveram que parar após o rompimento da barragem, seguindo as orientações do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) de não utilizar a água bruta do rio Paraopeba, sem tratamento, para qualquer finalidade: humana, animal e atividades agrícolas. A determinação judicial de que todos os atingidos que moram a 1km do rio recebessem um auxílio emergencial foi uma medida paliativa para ajudar na renda.

No entanto, vários atingidos tiveram o auxílio emergencial da Vale bloqueado sem justificativa e precisaram retornar à pesca no rio para alimentar suas famílias e vender o excedente. Como é a situação de Aprígio José, pescador e morador da Colônia Santa Izabel, em Betim. “A Vale nos prejudicou e desde novembro não recebemos o auxílio emergencial. Estamos nos critérios de 1km do rio Paraopeba e tivemos a verba cortada. Precisei voltar a pescar para alimentar a família”, relata com tristeza.

Sinalização insuficiente

Por orientações de nota técnica do Igam, a Vale foi obrigada a sinalizar em alguns trechos do rio Paraopeba quanto ao impedimento da utilização da água. Para Jefferson Macena, da coordenação estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, as placas alertam as populações ribeirinhas, mas tem sido insuficiente para que as pessoas não acessem a água do rio.

“O povo está comendo peixe contaminado, por que não recebe o auxílio. As atividades econômicas como forma de sobrevivência e subsistência ficaram limitadas e não podem ser desenvolvidas. Falta orientação aos atingidos referente a contaminação do rio. Talvez uma forma mais estratégica de publicidade seria o ideal. O povo no período de pandemia está pescando para se alimentar e vender o excedente”, relata a situação dos atingidos.

Jefferson ainda ressalta a necessidade da regularização dos pagamentos do auxílio emergencial, garantindo aos trabalhadores direitos básicos para sobrevivência. “Sabemos que enfrentamos um momento delicado de colapso na saúde. Para enfrentar o Covid-19 é preciso ficar em casa e para isso o auxílio emergencial é fundamental para superar a pandemia”, conclui.

Saúde em risco

A contaminação do rio Paraopeba continua aumentando, à medida que o material contaminado desce o rio. Com a pandemia, as pessoas parecem ter se esquecido do perigo, inclusive muitas famílias escolheram isolar-se na beira do rio, onde nadam, pescam e usam o rio como se nada tivesse acontecido.

Muitos moradores usam o rio por necessidade, pois como parte do “pacote de maldades” da Vale, além de reduzir em 50% o valor do Auxílio Emergencial, muitas famílias deixaram de receber mesmo esse valor irrisório, além de ter sido cortados o fornecimento da água potável, água mineral e forragem para os animais.

O perigo a que estão expostas as comunidades ribeirinhas parece não sensibilizar a empresa, que continua em campo com seus empregados e terceirizados, aumentando o risco de levar o coronavírus para as comunidades. Aproveitando-se do atraso do início dos trabalhos das Assessorias Técnicas devido ao isolamento, tem sido feitos cadastros e levantamentos de renda, que futuramente serão usados contra os atingidos.

 

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