A Polícia Federal está investigando, em Minas Gerais, uma quadrilha suspeita de desviar o dinheiro de benefícios sociais destinados a indígenas.
Os Maxacali vivem na região nordeste de Minas Gerais, quase divisa com a Bahia. A cidade mais próxima é Santa Helena de Minas, onde eles vão com frequência.
Os índios falam uma língua própria: o maxakali, e poucos dominam o português. Mesmo com a barreira da comunicação, muitos trabalham como assalariados e participam de vários programas sociais do governo federal. O que acabou chamando a atenção de uma quadrilha, que há pelo menos oito anos está extorquindo dinheiro dos indígenas.
Segundo a Polícia Federal, crime acontecia em três mercados da cidade.
“Eles vendiam o alimento ao valor totalmente exorbitante. Por exemplo, a R$ 20, R$ 30 um pacote de feijão. Ou eles retinham todo o valor e forneciam para o indígena alimentos pré-determinados, ou seja, forneciam uma cesta básica para o indígena”, diz Christian del Cantoni, delegado da Polícia Federal em Governador Valadares.
Além disso, os cartões que os indígenas usavam para fazer os pagamentos eram retidos. A PF apreendeu cerca de 200 cartões de programas sociais, de bancos e as senhas. Além de cheques, documentos e anotações das transações financeiras. Os extratos, segundo a polícia, comprovam a transferência de valores como o auxílio emergencial recebido pelos índios para as contas dos investigados.
“Como nós temos uma variação entre R$ 600 de auxílio emergencial até R$ 1.260 contando salários e benefícios, é bem possível que os valores ultrapassem R$ 150 mil por mês, e podem chegar até próximo de R$ 200 mil por mês”, afirma o delegado Cristiano Jomar Costa Campidelli.
Segundo a Polícia Federal, os índios eram ameaçados com agressão˜es físicas.
De acordo com as investigações, o presidente da Câmara de Santa Helena de Minas, o vereador Wallace Ronne Alves Ferreira, do PROS, é o principal articulador do esquema. A PF encontrou na casa dele vários cartões de benefícios e extratos bancários de indígenas.
Um funcionário terceirizado da Secretaria Especial de Saúde Indígena, órgão vinculado ao Ministério da Saúde, é investigado por transportar os indígenas das aldeias e também apreender os cartões.
E um terceiro integrante da organização, Wagner Ferreira da Silva, que chegou a ser preso, é suspeito de torturar um índio que cancelou os cartões de benefício porque se cansou das extorsões.
A equipe do Jornal Nacional foi até os comércios investigados para ouvir os donos.
“No caso aqui, olharam tudo, olharam computador, olharam tudo, não encontrou nada. Graças a Deus não teve problema nenhum”, conta o comerciante Gean Pierre Aguiar Rocha.
“Eu já sei que é proibido pegar cartão de índio, esses três que ficaram comigo foi porque eles mandavam guardar para não levar para aldeia, para não chegar lá e ‘não’ sumir”, diz o comerciante Hamilton Santos Rocha.
Em um supermercado, o dono não foi encontrado.
A equipe do Jornal Nacional tentou falar com os índios sobre o assunto, mas quando a reportagem se aproxima, eles vão embora.
“Não é um fato recente e é de conhecimento da população regional. Então, ainda se encontram sim vulneráveis diante da sociedade dominante e de pessoas mal-intencionadas que se aproveitam de todo esse contexto sociocultural e socioeconômico para se aproveitar tanto dos indígenas como da situação de negligência das autoridades públicas em relação a esses povos indígenas”, afirma Ramon Rafaello Castro de Souza, pesquisador da Universidade Federal do Sul da Bahia.
A defesa do vereador Wallace Ronne declarou que o cliente é vítima de perseguição de opositores políticos e que vai comprovar a inocência.
A defesa de Wagner Ferreira disse que ele não foi sequer indicado e que o pedido da prisão foi prematuro.
A Secretaria Especial de Saúde Indígena declarou que demitiu o funcionário terceirizado e que não compactua com práticas ilícitas
A Funai afirmou que acionou a polícia.