A plenária teve como objetivo, denunciar os mais diversos conflitos vivenciados pelas comunidades camponesas e urbanas, de todo o território nacional, que as impedem de vivenciar a Agroecologia. Destacou-se a morosidade do estado na demarcação e titulação dos territórios e comunidades, o avanço dos projetos do capital sobre os territórios, o assassinato de trabalhadores e lideranças, entre outros. De ouro lado, a plenária também destacou a cultura, a ancestralidade e as diversas lutas e resistências para manutenção e conquista de direitos do povo negro.
Ao falar da realidade das comunidades quilombolas do estado do Estado de Minas Gerais, Jesus Rosário, destaca a morosidade do estado e os principais conflitos vivenciados no campo e na cidade. Segundo ele, “Em minas existe cerca de 800 comunidades reconhecidas, apenas uma titulada, localizada no Vale do Jequitinhonha e, mesmo assim, esta comunidade foi relocada para a construção de uma hidrelétrica. Desse modo, a gente não considera o título. Aqui a gente enfrenta vários conflitos. A disputa pelos territórios é imensa. São vários empreendimentos, entre eles as monoculturas da cana, grãos, eucalipto, a criação de gado, as barragens, a mineração. A gente tem também a expansão imobiliária que afeta as comunidades próximas das cidades. Grande parte das comunidades de Minas gerais estão localizadas em áreas urbanas e possuem diversos conflitos. A gente tem discutido a questão dos quilombos urbanos, principalmente de estar inserindo estas comunidades nos Planos Diretores dos municípios. Outra questão grave é o imenso fechamento de escolas em comunidades quilombolas, e isso traz vários outros problemas, principalmente a desistência escolar da juventude, aumentando o êxodo rural. Também nesse contesto, está o aumento da violência e extermínio da juventude negra”.
A realidade vivenciada pelas comunidades quilombolas em Minas Gerais, se assemelha à realidade dos outros estados e situação tende a se agravar, sobretudo com os retrocessos da política atual. É o que afirma Vagner do Nascimento, da comunidade quilombola Campinho da Independência, município de Parati/RJ.
“A gente percebe que o Brasil, hoje, está vivenciando um retrocesso, que tem impactado diretamente as comunidades tradicionais. Entre esses retrocessos, destaca a tentativa de derrubada do decreto 4887/2003, que regulamenta o artigo 68 da Constituição Federal, o desmonte dos órgãos que cuidam da regularização dos territórios e o congelamentos dos recursos. Esse processo tem aumentado bastante a violência no campo e a criminalização da luta. Nesse sentido, a gente precisa juntar força, juntar energia, juntar o nosso povo, para fazer uma reflexão, por um projeto novo, que passa pela agroecologia”.
De acordo com a Angela Maria da Silva Gomes, do Movimento Negro Unificado (MNU) de Belo Horizonte/MG, moradora de um quilombo urbano, a construção desse novo projeto, passa pela compreensão da necessidade da resistência e do enfrentamento.
“Agroecologia está presente na nossa ancestralidade, na nossa cultura. A gente só pode e só vai sobreviver, se a gente enfrentar essa injustiça racial, essa injustiça do capital –Racismo Institucional. Os quilombos precisam ter o que são seus por direito, pois sem terra, sem espaço para produzir e vender nossos produtos, sem a garantia de que nossos filhos possam estudar dentro de uma escola que consiga respeitar esse conhecimento, não vai existir agroecologia.”
Com o mesmo sentimento, a quilombola Nilce de Pontes Pereira, da comunidade quilombola Ribeirão Grande/Terra Seca, município de Barra do Turbo/SP, afirma que “Nosso principal desfio hoje, é titulação dos territórios e apropriação desses espaços como área de sobrevivência e sustentabilidade, e também avançar no campo político, para garantir a soberania dos territórios. E essa plenária foi uma forma de fortalecer a voz das comunidades dentro desse campo agroecológico, no qual a gente não se reconhecia, e hoje a gente passa a ter um pouco mais de apropriação, como sujeitos de direito. Essa plenária pra nós foi muito importante, pois conseguimos debater vários assuntos e levantar várias questões pertinentes às comunidades e percebemos que agroecologia e território são duas coisas que caminham juntas na nossa luta e na nossa identidade”.
As atividades plenária foram marcadas também por apresentações culturais, presentes na história das comunidades tradicionais, que ajudam a fortalecer a identidade e a luta em dessa de um novo projeto. Entre as apresentações, destaca a poesia “Orgulho de ser negro”, de Wellington Quilombola, da comunidade quilombola de Porto de Areia, município de Estância/SE.
Orgulho de ser negro
Não é humilhação
Passei e passo e ainda vou passar
Por que discriminação de raça?
Será que nosso Deus não é um só
Tem gente que pensa que não
Então pisa, rouba, odeia e mata
O que devo fazer? Acomodar-me? Não!
Prefiro lutar. Erguer a cabeça e ir em frente
Dizer que sou negro e mostrar que sou gente
Que tem sangue, cor, orgulho e alma
E o meu sangue é vermelho, a minha cor, a minha cor, é negra
Por isso não aceito ser superior ou inferior
Sou do jeito que Deus me fez
Nasci e vou morrer com essa cor
E faço questão de dizer para todos
Que sou negro! Negro! Negro!
Confira a síntese da plenária Síntese para carta – Plenária Quilombola
Edição: Verônica Pragana