Comunidade de Salineiros

28/01/2010

SALINEIROS
 
 
 
A comunidade de Salineiro se localiza no município de Ataléia e dista quatorze quilômetros da sede. A estrada é asfaltada até a entrada da comunidade. Ataléia fica no vale do Mucuri e divisa com os municípios de Ouro Verde de Minas, Carlos Chagas, Teófilo Otoni, Frei Gaspar, São José do Divino, Itabirinha de Mantena e com o Estado do Espírito Santo. A região tem seu ambiente alterado em relação a várias atividades econômicas ligadas a agropecuária e a mineração. Na região a extração de Água Marinha era atividade recorrente. Atualmente, a pecuária extensiva é a atividade que mais agride o meio ambiente através do desmatamento para a implantação de pastos. Esta atividade está gerando a redução da água, além da contaminação da mesma e do assoreamento de córregos e rios.
 
 
Há na comunidade aproximadamente vinte e cinco famílias. Há na comunidade casas de alvenaria, adobe e pau a pique.
A água é um problema para a comunidade. Ela não tem nenhum tratamento e é canalizada do rio pelos próprios quilombolas. No período de seca a falta de água é constante. Este período se dá na maior parte do ano. As casas tem cisternas para garantir o abastecimento.  
Não há rede de esgoto, sendo a fossa rudimentar usada por todas as famílias. Também não há recolhimento de lixo pela prefeitura. O lixo é queimado.
Não há agente de saúde na comunidade e nem visitas periódicas de um médico. O posto de saúde e o hospital mais próximo ficam em Ataléia a quatorze quilômetros do quilombo. As doenças mais freqüentes entre os moradores são a diabete, a pressão alta, verminose e o câncer. Não há transporte regular entre a sede e a comunidade, por isso, quando a população necessita se deslocar, fica na dependência de carros de conhecidos, táxi ou cavalo. Muitos fazem a viagem a pé.
Em Salineiro não tem escolas, todos estudam em Ataléia. O meio de transporte é realizado pelo ônibus da prefeitura. O transporte só atende a comunidade pela manhã. Muitos jovens precisam mudar para a cidade para continuar os estudos. Quando chove as crianças caminham mais de cinco quilômetros até o asfalto para pegar o ônibus escolar, que é precário e não oferece nenhuma segurança.   
 
 
A história da comunidade arremete o final do século XIX e início do XX quando famílias negras se deslocaram do vale do Jequitinhonha e sitiaram na região. O nome da comunidade advém da cidade de Salinas, cidade natal dos primeiros moradores. Esta informação é imprecisa pelo fato das pessoas da região se referirem de Salineiros pessoas vindas de Salinas e de outras cidades do Jequitinhonha. Esta migração se deu pela fuga da seca e da oportunidade de reconstruir a vida em uma região ainda livre, coberta de floresta e com muita água. Estas famílias abriram picadas e se fixaram no local.
No início dos anos oitenta, a pressão pela terra fez com que várias famílias vendessem as terras para fazendeiros. O território diminuiu bastante.  Segundo os moradores, nunca houve um conflito explícito em decorrência da disputa do território. Nenhuma família possui algum título ou documente referente à propriedade das terras ocupadas. As famílias produzem suas hortas e pequenas criações separadamente.
 
 
A economia da comunidade gira em torno de trabalhos realizados fora da comunidade, em Ataléia ou até mesmo outro centro urbano maior, como Teófilo Otoni, São Paulo, Vitória ou Belo Horizonte. Todas as famílias produzem alimentos e criam animais (galinha, peru e porco) para subsistência. Muitos moradores também trabalham pelo sistema da meia ou da terça nas fazendas circunvizinhas.  
Os principais produtos cultivados pela comunidade são a mandioca, usada para comer, vender no mercado e fazer farinha e beiju. Há também a produção de cana, que é vendida para alambiques da região, feijão, milho, hortaliças, café e coco.
Há muitos quilombolas que vivem em São Paulo e enviam ajuda financeira para os parentes na comunidade de salineiro. Esta renda é muito importante para a sustentabilidade econômica de muitas famílias.
A aposentadoria pelo INSS e a Bolsa Família são fontes de renda que atingem todas as famílias.  
Algumas famílias quilombolas acessam o crédito rural denominado de PRONAF B via EMATER.
Vários quilombolas tentam vender seus produtos na feira da cidade. Todos reclamam a pouca saída. Na maior parte das vezes não dá nem para pagar os custos do transporte, que fica em R$ 10,00 reais. Os moradores levam ovos, verduras, laranja, beiju, farinha e biscoito. Há um bom potencial para a produção de biscoito e farinha na comunidade.
 
Na comunidade de Salineiros há oitenta por cento de evangélicos e vinte por cento de católicos. Não há igrejas na comunidade, mas todos os moradores freqüentam as igrejas da vizinhança. Há duas protestantes – Deus é Amor e Prebisteriana – e uma católica na comunidade de Pacheco – Igreja de São Sebastião.
Os moradores são muito religiosos, sendo a reza do terço, um dos principais eventos sociais da comunidade. Também há a festa de São João, no dia vinte e cinco de junho, e a festa de Nossa Senhora Aparecida, no dia doze de outubro.
Segundo os moradores havia mais festividades antigamente, inclusive a prática do batuque, que não há mais.
 
 Há uma associação quilombola recém constituída. A associação foi constituída em 2009 e teve pleno apoio da lideranças quilombola de Ouro Verde de Minas, Vandeli de Paulo, diretor da Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais – N´golo e do sindicato dos trabalhadores rurais de Ouro Verde de Minas. A comunidade já encaminhou para a Fundação Cultural Palmares o pedido para o certificado de reconhecimento como quilombola do governo federal.
 
As principais reivindicações dos moradores foram projetos de geração de renda, a regularização fundiária, a construção de poços artesianos e saneamento básico.  
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