22/10/2011
"ÍNDIOS": UMA IDENTIDADE EMERGENTE EM CONTEXTO MULTIÉTNICO NA GRANDE BELO HORIZONTE.
Ana Paula Ferreira de Lima – CEDEFES
Artur Queiroz Guimarães _ CEDEFES
Consultoria antropológica: José Augusto Sampaio
Fomento: Ministério do Desenvolvimento Agrário / MDA
1- Objeto e Objetivos:
O projeto tem como realizador o Centro de documentação Eloy Ferreira da Silva – CEDEFES e como apoiador o Ministério do Desenvolvimento Agrário MDA, dentre os objetivos estão: produzir banco de dados sobre as comunidades indígenas que residem em Belo Horizonte e sua região metropolitana , prestar Assistência Técnica e Extensão Rural a práticas de agricultura urbana entre as etnias Pataxó, Pataxó Ha-Ha-Hãe, Aranã e Xacriabá, fortalecer os grupos através da formação política, articular as associações indígenas , famílias indígenas entre os órgão públicos e demais representantes da sociedade civil .
A agricultura urbana é realizada em pequenas áreas dentro de uma cidade, ou no seu entorno (peri-urbana), é destinada à produção de cultivos para utilização e consumo próprio ou para a venda em pequena escala, em mercados locais. Difere da agricultura tradicional (rural) nos seguintes aspectos: Inicialmente, a área disponível para o cultivo é muito restrita na agricultura urbana. Além disso, pode haver escassez de conhecimentos técnicos por parte dos agentes/produtores diretamente envolvidos; no caso dos indígenas beneficiários do projeto eles reproduzem em menor escala os conhecimentos tradicionais trazidos da aldeia. Freqüentemente não há possibilidade de dedicação exclusiva à atividade que destina-se, normalmente para utilização ou consumo próprio. Todas as técnicas de plantio seguem a linha agroecologica e não há nenhuma utilização de agentes químicos nos quintais produtivos que recebem assistência técnica.
Existe uma grande diversidade de cultivos; e a finalidade da atividade é distinta, pois normalmente não é requisito para a agricultura urbana a obtenção de lucro financeiro.
Observa-se, porém, uma relação muito forte entre a agricultura rural/tradicional e a agricultura urbana.
Os produtos agricultáveis vão desde hortaliças e plantas medicinais. Em áreas um pouco maiores ocorreu à plantação de leguminosas e frutíferas.
2- METODOLOGIA:
As ações do projeto estão pautadas em metodologias participativas, que incentivam a participação direta das famílias envolvidas, contribuindo para a interação do conhecimento indígena com o conhecimento técnico e a valorização do saber tradicional.
A metodologia aplicada prioriza o conhecimento tradicional e a participação de todos os envolvidos, especialmente mulheres, jovens e crianças. Entre as ações estão sendo realizadas diversas reuniões e encontros entre índios da região metropolitana, índios das áreas tradicionais e outros locus que possam contribuir com a troca e a manutenção do conhecimento tradicional e o manejo das hortas.
Através da articulação e da troca de experiências, as famílias indígenas recebem acompanhamento técnico, para que possam compartilhar conhecimentos e fortalecer sua auto-estima no processo de reterritorialização vivenciados na região metropolitana de Belo Horizonte.
O banco de dados da população é alimentado com as seguintes informações: árvore genealógica das quatro etnias, dados sócio econômicos, localização geográfica georreferenciada, mapas dos bairros, etnia, breve histórico.
As ferramentas participativas utilizadas para se trabalhar o tema SAN (Segurança Alimentar Nutricional): foram: a) árvore genealógica dos participantes, procurando identificar as gerações anteriores, as relações de parentesco entre os participantes, e a origem; b) dinâmica ‘No tempo das Avós’ (Weitzman, 2008), que consiste em construir uma linha do tempo feita com barbante onde são levantadas pelo grupo as principais características como: culinária em três épocas distintas: no tempo das avós, no tempo das mães, no tempo atual. Aprofundamento das discussões suscitadas e sistematização das informações obtidas; c) pesquisas em grupos; d) exposição dialogada; e) danças em roda a fim de animar, integrar e harmonizar o grupo; f) atividades práticas, como o feitio das receitas recordadas pelos indígenas.
3- RESULTADOS E CONCLUSÕES:
De acordo com os objetivos proposto a pesquisa/ projeto obteve os seguintes resultados:
Agricultura urbana e troca de experiências
Os vinte e dois quintais aonde foram realizados as intervenções contam com várias plantas cultivadas. Além das plantas, e de todas as possibilidades que se descortinam a partir delas (sucos, chás, temperos, saladas, cheiros, observação etc.) Outros tipos de intervenção também foram realizados, como por exemplo, pintura de paredes utilizando tintas feitas a base de terra; aproveitamento de pneus para o cultivo de alimentos; uso de resíduos orgânicos para produção de composto; receitas alternativas e orgânicas para combate a pragas; receitas ecológicas para produtos de limpeza; podas; uso de técnicas de manejo de solo como plantio em nível; planejamento do uso eficiente da água, oficinas de farmácia caseira e plantas medicinais cujos facilitadores foram Fernando Vieira e Aparecida Arruda do Ervanário São Francisco de Assis grupo solidário localizado no bairro Alto Vera Cruz. Todas as práticas tiveram como principio norteador a valorização do conhecimento tradicional indígena
Articulação e ações políticas
A população indígena residente em Belo Horizonte e sua região metropolitana constituíram uma rede de articulação política e social consolidada.
Criou uma linha de dialogo entre os órgãos de defesa dos direitos indígenas como o Ministério Publico Federal, além de outras instituições e representações como: FUNAI, deputados estaduais e federais. Outros atores sociais como ONGs, movimentos populares, outros movimentos indígenas como, por exemplo, o COPIMG (Conselho dos Povos Indígenas de Minas Gerais).
A sede do Cedefes foi palco de inúmeras reuniões, assembleias, encontros, cursos de segurança alimentar e nutricional e de formação política.
Espaço para a articulação com a cessão de computadores, internete,telefone, correios etc .
Realização e produção de vídeos postados no Canal do Cedefes no youtube, relatórios visuais e escritos. Participação em palestras em locais como: Universidades públicas e privadas, escolas, assessoria técnica em reuniões e eventos, realização de oficinas que aborda e discute o tema, utilização das redes sócias para divulgar a luta e as conquistas dos índios que vivem na cidade.
Sistematização e divulgação parcial dos dados populacionais levantados pelo diagnóstico que esta em fase de elaboração pela instituição.
Foram fundadas duas Associações, uma do grupo étnico Aranã chamada: Associação Indígena Pedro Sangê (AIPS) a outra dos Pataxó Hã Hã Hãe denominada Associação dos Povos Indígenas de Belo Horizonte e Região Metropolitana ( APIBHRM) . Independente de estar ou não formalmente ligados a alguma associação a equipe técnica do projeto procura fortalecer os grupos de maneira geral, respeitando as formas de organização escolhidas para se afirmarem como grupo étnico diferenciado. Procurando desta maneira respeitar o “tempo indígena” que muitas vezes se distingue do modelo cartesiano e se aproxima de uma visão holística[1] .
Através das Associações eles respondem com autotomia por suas demandas sem prejuízo da assessoria técnica prestada pelo projeto.
4- Conclusão
A partir das experiências do projeto Indígenas na Região Metropolitana de Belo Horizonte: articulação, formação e troca de experiências em Agricultura Urbana e assessoria conduzida pelo Cedefes, concluímos que as ações do projeto não possuem apenas a dimensão mais evidente de pleitos por direitos constitucionais diferenciados. A pesquisa traz também elementos como: formas próprias de sociabilidade interétnica que incluem atividades festivas, religiosas, de cooperação econômica e social, associativismo étnico e multiétnico, experiência política com outros grupos socias (partidos políticos, órgãos públicos, associações ONGs nacionais e internacionais universidades, estudantes etc.), contatos estabelecidos e ressignificados com os “parentes que moram nas aldeias” e prática de agricultura urbana.
Ao contrário do que se pensa, segmentos indígenas em contextos metropolitanos mantém vínculos estreitos e regulares com suas comunidades étnicas de origem, se organizam para o acesso a direitos que lhes são pertinentes – tanto quanto aos seus "parentes" em Terras Indígenas – mas freqüentemente não alcançam ou lhe são negados.
Também é certo que a organização indígena, em contexto social e territorial diferenciado e com caráter multiétnico, adquire configurações próprias e não raro inovadoras.
Vivenciam desta maneira um rico acervo de iniciativas onde os grupos pataxó e pataxó hã-hã-hãe , aranã e xacriabá reafirmam vínculos étnicos de origem, e engendram novos atributos identitários relativos à situação de "índios que vivem em cidades”.
Relatórios visuais / vídeos produzidos/ utilização de redes sociais
Página do Cedefes no facebook:
http://www.facebook.com/profile.php?id=748461599&sk=wall
Página da Associação dos Povos Indígenas de Belo Horizonte e Região Metropolitana no Facebook
http://www.facebook.com/profile.php?id=748461599&sk=wall
Página de Juliana Pataxó no facebook
http://www.facebook.com/profile.php?id=100000049397003
Vídeos e relatórios visuais produzidos pela equipe técnica do Cedefes
http://www.youtube.com/watch?v=N8yFCoFf0Lc&feature=related
Vídeos produzidos pelos indígenas postados no youtube
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
LIMA, Ana Paula Ferreira – Relatório: “Indígenas na Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH, identificação e subsídios para sua organização". 2008/2009
LIMA, Ana Paula Ferreira – Artigo: Direitos iguais, (pre) conceitos diferenciados. 2011.
LIMA, Ana Paula Ferreira e QUEIROZ Artur Guimarães – Relatório: “Indígenas na Região Metropolitana de Belo Horizonte – Capacitação, articulação, troca de experiências e Agricultura Urbana”. 2011.
WEITZMAN, Rodica (Coordenação); GUERRA, Gabriela (Ilustrações). Educação popular em segurança alimentar e nutricional: uma metodologia de formação com enfoque em gênero. Belo Horizonte: Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas. 2008.
HOME-PAGES CONSULTADAS:
Centro de Documentação Elói Ferreira da Silva CEDEFES : www.cedefes.org.br
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: www.ibge.gov.br
Enciclopédia livre: pt.wikipedia.org/
http://www.google.com.br/#sclient=psy-ab&hl=pt
[1] O todo não é mera soma das partes, mas delas depende. As partes compõem o todo, mas “É todo
que determina o comportamento das partes”. ‘HOLISMO’ vem do Grego Holos, que significa todo. A Teoria defende que o homem é um ser indivisível, que não, pode ser entendido através de uma análise separada de suas diferentes partes.