Funcionários da Biblioteca Nacional protestam contra nomeação da nova direção
Servidores da Biblioteca Nacional fizeram um ato na tarde desta terça-feira (3) contra o novo diretor da fundação, Rafael Nogueira. Os funcionários se puseram na frente da instituição.
Rafael — que substitui Helena Severo — foi indicado pelo secretário especial de Cultura, Roberto Alvim.
Rafael Nogueira é formado em filosofia e em direito. Também tem mestrado em educação.
Rafael Nogueira, novo diretor da Biblioteca Nacional — Foto: Reprodução/TV Globo
Os servidores reclamam que o novo diretor não é conhecido no setor editorial e bibliográfico.
“Nosso receio é que houve uma nomeação repentina de um novo presidente, que a gente não conhece”, explicou Maria Fernanda Nogueira, da Associação dos Servidores da Biblioteca Nacional.
“A gente tentou buscar um trabalho dele na cultura, na nossa área, e não encontramos nenhuma. A gente não encontrou nenhuma qualificação dele para esse cargo, não sabemos como vai ser essa gestão”, emendou.
A arquivista Gabriela Jordão completa: “Uma pessoa sem qualificação técnica, que nunca atuou na defesa do patrimônio bibliográfico, que não entende das políticas desenvolvidas pela Biblioteca Nacional.”
MPB e analfabetismo
Em uma postagem há dois anos, Rafael Nogueira associa o analfabetismo a letras de compositores famosos.
“Livros didáticos estão cheios de músicas de Caetano Veloso, Gabriel, O Pensador, Legião Urbana. Depois não sabem por que está todo mundo analfabeto”.
Aberrações e terraplanismo
A escolha do maestro Dante Mantovani como presidente da Funarte também foi alvo dos manifestantes no Rio — Foto: Reprodução Redes Sociais
Dante Mantovani, nomeado para a Fundação Nacional de Artes (Funarte) — uma das fundações mais importantes de incentivo à arte no Brasil, outra indicação de Alvim, também tem sido alvo de críticas.
Ele criticou o repertório da cerimônia de abertura da Olimpíada do Rio, em 2016. Estrelas da música interpretaram clássicos da MPB. No YouTube, ele declarou:
“Aberrações sonoras que eu não tenho nem coragem de chamar de música”.
Em outro vídeo, o maestro defende que houve uma infiltração do então serviço de inteligência soviético na indústria fonográfica americana, nos anos 60. E chega à seguinte conclusão:
“O rock ativa a droga, que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. A indústria do aborto, por sua vez, alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo. O próprio John Lennon disse que fez um pacto com o diabo.”
Críticas do meio artístico
O cantor e compositor Lulu Santos criticou a nomeação de Mantovani para a Funarte. Em uma rede social escreveu: “Afundarte”.
O cantor Rogério Flausino disse: “Isto é o que o nosso “novo” presidente da Funarte pensa sobre o rock em 2019… tá surreal”.
Porém, o maestro faz uma exceção e elogia a banda de metal Angra. “Era uma banda brasileira que tinha grande preocupação com aspectos melódicos, tanto vocais quanto instrumentais, embora o ritmo fosse bastante frenético”.
O baixista Felipe Andreoli, da banda Angra, se manifestou. Ele disse: “Quanta ignorância, quanta desinformação, e que vergonha de ter minha banda citada em associação a esse cara”.
O novo presidente da Funarte também já defendeu a teoria da terra plana. Ele comentou: “Prove que a Terra é uma bola de água giratória. Aposto que vai adiar essa prova ad eternum e citar como fonte inquestionável o estúdio fotográfico da Nasa, que tem sim ótimos desenhistas, alguns inclusive que já revelaram as fraudes praticadas por lá”.
Nesta terça-feira, antes de apagar suas postagens, Dante Mantovani publicou uma última mensagem,
“Minha gestão à frente da Funarte será pautada pela valorização e resgate dos grandes artistas brasileiros e universais; pela interiorização da arte e pela elevação de nossos patamares de excelência artística, em especial nos corpos estáveis de ópera, ballet, teatro, orquestras, bandas e corais”.
A assessoria de comunicação do Ministério da Cidadania disse que as postagens feitas por Dante Mantovani em seus perfis nas redes sociais são de caráter pessoal e foram feitas em período anterior à nomeação dele para a presidência da Funarte.
O secretário especial da Cultura e os presidentes recém-nomeados não vão se pronunciar.