Indígena relata aumento da mortalidade de peixes e animais domésticos passando mal após consumo da água. Copasa analisa amostras para descobrir o que aconteceu

 

Indígenas kaxixó denunciam uma possível contaminação do Rio Pará, entre as cidades de Pompéu e Martinho Campos, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais. Nos últimos dias, os moradores relatam um aumento da mortalidade dos peixes e a alteração no comportamento dos animais domésticos que bebem a água do manancial, com casos até mesmo de vômito.

“São três aldeias que dependem do Pará: Fundinho e Pindaíba, em Pompéu, e Capão do Zezinho, em Martinho Campos. A gente fica muito sem entender, porque as pessoas usam esse rio para tomar banho. Também (não se sabe) se podemos ou não continuar a pesca como meio de alimentação e para venda”, afirma o estudante Otávio Kaxixó, de 27 anos.

De acordo com Otávio, não há relatos de integrantes do povo kaxixó com problemas de saúde até o momento. “Chegaram informações de uma possível contaminação dessa água. Há probabilidade de garimpo ilegal“, diz o indígena.

De acordo com Otávio, o povo kaxixó denunciou o problema ao Ministério Público Federal (MPF) e à Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa – veja a posição da empresa abaixo). A Prefeitura de Martinho Campos também está ciente do problema (leia mais abaixo).

Eles também tentaram contato com a Fundação Nacional do Índio (Funai) por e-mail, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

A reportagem também procurou o MPF, a Funai e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), mas não houve retorno até a publicação deste texto.

 

Prefeitura de olho

Aldeias Kaxixós lamentam aumento na mortalidade de peixes do Rio Pará, fonte de alimentação e dinheiro(foto: Reprodução/WhatsApp)

Nesse sábado (31/7), servidores da Prefeitura de Martinho Campos estiveram no local para coletar a água do Rio Pará e dar início às investigações.

De acordo com o secretário municipal de Agropecuária, Meio Ambiente, Indústria e Comércio, Rodrigo Ribeiro de Freitas, o objetivo é analisar três coletas diferentes para verificar como a água do manancial tem se comportado com o passar do tempo.

As duas primeiras aconteceram no fim de semana e haverá uma terceira nesta segunda (2/8). Amostras de pontos diferentes do Pará, mais distantes das aldeias, também serão vistoriadas.

“Está sendo analisado. Está sendo acompanhado. Estamos aqui para abrir uma porta para apurar o que está acontecendo. Não podemos deixar que isso seja em vão”, diz o secretário.

O material coletado segue para a unidade da Copasa em Nova Serrana, na mesma região do estado.

Frio é hipótese

Em nota enviada à reportagem, a Copasa informou que “a causa exata da ocorrência será determinada somente após a conclusão das análises”.

Mas adiantou que “trabalha com a hipótese de que o fenômeno ocorreu em função da queda brusca da temperatura na região”, diante da frente fria que chegou ao estado na semana passada.

“A temperatura da água é um dos fatores ecológicos mais importantes para os peixes, sendo que a tolerância a temperaturas extremas depende da espécie, do estágio de desenvolvimento e do período de aclimatação a que os animais foram submetidos”, esclareceu a Copasa.

A empresa informou ainda que a captação de água de Martinho Campos não tem relação com o Rio Pará. Em Pompéu, o abastecimento vem do manancial, porém a água “encontra-se dentro dos padrões de potabilidade exigidos pelos órgãos reguladores”.

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