O movimento abolicionista de um século atrás hoje tem outros nomes e seguimos denunciando a abolição inacabada

O 13 de maio, data que marca a assinatura da Lei Áurea, é o típico conto de fadas da branquitude. Elege-se uma figura para desempenhar o papel da heroína (no caso a princesa Isabel) para libertar os fracos e oprimidos (no caso, os negros escravizados). Foi essa história que eu aprendi na escola e nos livros didáticos – e aposto que você também.

Aí a gente cresce e aprende que a história tem outros lados. E no caso da população negra brasileira, não é a nossa versão que entra para a “história oficial”. Mas a história que aprendemos dos nossos mais velhos, nossos griôs, é a de que nossos antepassados foram protagonistas da própria liberdade.

Já ouviu falar de Luiza Mahin e seu filho Luiz Gama? De líderes de quilombos como Teresa de Benguela, Aqualtune, Zeferina? Das várias marias abolicionistas: Maria Firmina, Maria Felipa e Maria Jesuína (mais conhecida como Na Agontimé)? São todos nomes de pessoas negras que participaram dos mais diversos movimentos abolicionistas ao longo da história do Brasil.

 

Resistimos e conquistamos nossa liberdade por meio do coletivo, de revoltas armadas, de cooperativas que faziam arranjos para libertar escravizados, de lugares de refúgio e resistência que sonhavam outras perspectivas de mundo, como o Quilombo dos Palmares.

Hoje o movimento abolicionista tem outros nomes. Chama movimento negro, marchas de mulheres negras, frentes pelo desencarceramento (negros são a maioria nas penitenciárias brasileiras), movimentos de mães que lutam contra o genocídio de jovens negros pela violência de estado (homicídios de jovens negros é três vezes maior do que entre jovens brancos).

O processo de abolição da escravidão ainda não acabou no Brasil, 133 anos após a assinatura da Lei Áurea. Esta que é contada como o marco do fim do regime escravocrata no país é a marca de uma abolição inacabada. Isso porque a cor da pele define até hoje quem vive e quem morre – seja de covid, seja de bala, seja de fome.

chacina do Jacarezinho, o assassinato de João Alberto pelo Carrefour, a morte de Miguel enquanto sua mãe trabalhava como empregada doméstica, os três meninos desaparecidos em Belford Roxo, a morte do jovem João Pedro dentro de casa pela polícia enquanto brincava com os primos. Todos esses casos nos atravessaram nesse último ano de pandemia. Todos esses casos tinham na raça o fator comum.

A violência do Estado está na polícia que nos mata dentro de casa, na falta de políticas públicas que garantam renda básica, na falta de vacinas, na falta de leitos de UTIs. Na falta.

Leia mais: Mulheres negras hackeiam a política

“Nem bala, nem fome, nem covid. O povo negro quer viver!”. É com esse propósito que a Coalizão Negra por Direitos, que reúne diversas organizações do movimento negro, chama manifestações por todo o país nesse 13 de maio. Porque a abolição ainda não está concluída e seguimos em luta para fazer Palmares de novo.

PS: Em tempo, o Instituto Marielle Franco preparou o “Guia rápido protesto sem covid”.

Thais é filha de pai preto e mãe branca e essa mistura pauta muito da sua vida. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, passou anos na grande imprensa até encontrar o propósito que sempre buscou no jornalismo n’AzMina. Hoje é diretora d’AzMina, militante do movimento de mulheres negras de São Paulo, membra da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-SP) e dinda do Matteo – seus títulos preferidos na vida, além de puladora de Carnaval!

Print Friendly, PDF & Email